Impactado pela história da própria avó, vítima de câncer de mama, e motivado pela vontade de querer resgatar a autoestima de mulheres que sofrem da mesma doença, o tatuador carioca Yurgan Barret, de 38 anos, decidiu criar o projeto Y Rosa. A iniciativa, gratuita e que acontece a cada dois meses, faz a reconstrução de aréolas em mulheres que enfrentaram câncer de mama.
“Depois que a gente reconstrói a aréola, é como se a gente reconstruísse a autoestima ao mesmo tempo. A gente acaba o procedimento e peço para a pessoa se olhar no espelho. A felicidade que ela tem é gigantesca. Fica estampado nela e ao mesmo tempo vem para mim também. Me deixa muito bem, muito feliz. Ver a pessoa saindo feliz daqui é o mais importante”, disse Yurgan.
O G1 acompanhou a sessão da Rosana Silva, de 36 anos, que enfrentou o câncer de mama por mais de um ano. Ela teve que retirar a mama direita inteira, através de uma mastectomia radical e colocou uma prótese.
Se antes do procedimento, ela afirmou que “com a retirada total da minha mama eu evitava me olhar no espalho”. Após tatuar a aréola em 3D a frase que ela encerrou a entrevista foi “agora ficou mais fácil, agora tenho satisfação em me olhar no espelho”.
Rosana disse ainda que propôs ao seu marido uma separação. Ela afirmou que não queria vê-lo com uma “mulher mutilada”, segundo suas próprias palavras.
“Eu não tinha coragem de me olhar. Eu ainda ficava imaginando ‘eu sou casada, por que meu marido vai ficar comigo? Eu sou uma mulher mutilada’. Eu cheguei a falar uma besteira para ele ‘Vamos nos separar? Pra que você quer uma mulher assim sem uma mama?’ Eu não imaginava que eu ia reconstruir tudo e hoje em dia eu estaria bem”, disse.
No entanto, a cumplicidade e amor do marido Marco Antonio Geraldo da Silva, de 42 anos, foram fundamentais para a recuperação de Rosana. Ele, que também acompanhou ansioso o processo de reconstrução, contou que deixou nas mãos dela a decisão sobre o término da união. E fez questão de deixar claro que sua vontade era continuar ao seu lado.
"Passou muitas coisas na minha cabeça: ‘agora eu tenho uma mulher mutilada. E ai, como vai ser?’. Mas a gente começa a pensar ‘Eu não tinha nada, agora eu tenho’. Deus me deu e do jeito que ele me deu vai ser. Se ele resolveu tirar uma parte, um pedaço, vai ser assim mesmo e vamos até o final. Eu falava para ela ‘É isso que você quer?[terminar o relacionamento]. Eu não quero isso’. Nós estamos juntos porque nos amamos” disse Marco Antonio.
Rosana Silva disse ainda que o câncer de mama é uma doença muito violenta, mas que a fé e o apoio familiar são itens necessários para a recuperação do paciente. Ela disse que enquanto se questionava sobre seu futuro, sua família mostrava sempre um apoio incondicional.
“O apoio da família contou muito, porque a gente fica com a autoestima muito baixa. O corpo da gente deforma. Eu cheguei a me perguntar ‘será que nunca mais vou poder ir a praia?’, ‘como meu esposo vai me olhar?’. Eles foram muito importantes para minha recuperação”.
Portal G1 - Repórter Matheus Rodrigues