terça-feira, 31 de julho de 2018

Exposição Infância Refugiada em João Pessoa

As questões que envolvem o Oriente Médio despertam, ao mesmo tempo que afastam, o olhar para as diversas realidades do mundo. A dimensão da crise é alarmante quando nos deparamos com os dados: segundo estimativa da ONU, existem hoje em todo o mundo, mais de 50 milhões de refugiados. São pessoas desenraizados de seus lares e de sua cultura, cujos direitos são em sua maioria negados. E suas primeiras e maiores vítimas são as crianças e os adolescentes.

Imersa nessa conjuntura, Karine Garcêz vivenciou e registrou a realidade dessas crianças e adolescentes refugiados em países do Oriente Médio. Pela compreensão desse propósito vale citar que a fotógrafa é cearense da cidade de Redenção, convertida ao Islamismo há 12 anos, se dedica sobretudo ao registro de crianças e adolescentes atingidos pelos conflitos armados. Puramente desafiante, seja pela coragem em acessar ambiente hostil e de vulnerável segurança, por ser estrangeira e mulher. Estas vivências possibilitaram a Karine assimilar como a vida dos nossos jovens está próxima às dos refugiados.

A Exposição “Infância Refugiada” compreende a força da imagem enquanto fonte de estímulo e memória histórica neste assunto delicado e perturbante, bem como na relevância de propagá-lo. Inovador pela circunstância que o envolve e pelo desafio enfrentado pela fotógrafa no registro das imagens. Cientes que lidamos com um assunto presente, transversal, multidisciplinar, cujo paralelo nos remete de pronto aos nordestinos que fogem da seca e migram para capital e se refugiam nos “campos favelas” urbanos.

Desse modo, abordar o tema do refúgio é trazer o diálogo da diversidade e tolerância inter-religiosa e dos direitos de crianças e adolescentes para nível local nos imputa um importante desafio: instigar através desse produto cultural como a diversidade dos problemas globais são também locais , sobre o que nos une e nos difere, sobre os direitos conquistados e negados. Quando pensamos em propor um diálogo entre o que nos é familiar e o que nos é estranho, ocasionam um esforço de trazer antigas questões para outros caminhos, olhares e valores.

A fotógrafa - Convertida ao islã, seu primeiro contato com o Oriente Médio foi em visita à Arábia Saudita. Lá cumpri o Haji, a peregrinação em torno do Kaaba, repetindo passos dos profetas Adão, Abraão e Mohamed, um dos pilares da fé islâmica. "Em 2012 fui à Faixa de Gaza, onde tive minhas primeiras aulas de fotografia. Em 2014 e 2015 viajei para Síria, Líbano e Turquia, desta vez com um pouco mais de conhecimento na arte de fotografar, mais que isso, o conhecimento da cultura local, importante para que possamos ter mais flexibilidade de trabalho. Isso me fez refletir sobre como o Oriente Médio é representado pela espetacularização midiática. E, consequentemente, os refugiados também são alvos dessa abordagem".

Em visita ao Recife, em 2016, ela contou ao blog como é ser mulher e muçulmana no Brasil. "Me sinto discriminada, sim, infelizmente", afirma e quando viaja para a Europa sempre tem sua bagagem revistada mais de uma vez por policiais. Por conta disso, passou a manter em Fortaleza o projeto Mulismah, onde ela vai para escolas e faculdades para explicar o que é o Islã e desconstruir a imagem de "fanáticos" e "terroristas" ligadas à religião. Outro fator muito comentado é o fato de que a mulher é oprimida na cultura islâmica. "Por incrível que possa parecer, em países como Líbia e Egito, o movimento feminista é muito forte e assim como no ocidente, a luta é constante, pois como disse Simone de Beauvoir, 'os direitos das mulheres não são direitos permanentes'".

Serviço:

Exposição estará na Justiça Federal na Paraíba até 17 de agosto .
Local: Justiça Federal na Paraíba
Rua João Teixeira de Carvalho, nº 480
João Pessoa - PB, Pedro Gondim 
Atendimento: Segunda a sexta-feira, das 9h às 18h