A Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro ganhou na Justiça o direito de continuar cultuando os Orixás e demais entidades com cânticos e atabaques. O dirigente da casa, o Pai Edson de Omulu, havia sido condenado a prestação de serviços à comunidade após ter sido processado por um vizinho evangélico, que alegava não "suportar o barulho".
A sentença abriria um perigoso precedente em tempos de intolerância religiosa e por isso mesmo, houve uma grande mobilização por parte de religiosos, advogados, políticos, jornalistas e militantes pela liberdade de crenças e pelo Estado Laico.
Mas hoje, Pai Edson divulgou nas redes sociais a vitória judicial obtida: "o legado é da Umbanda, do Candomblé e da Jurema, por ousar resistir em tempos de tanto retrocesso no judiciário. Aos pés de Xangô, depositamos nossa fé há um ano e, sob o ciclo dele, encerramos entregando nas chamas de sua fogueira a sentença reformada e transitada em julgado", afirma o babalorixá, ressaltando que, nos cultos afro-brasileiros, o orixá Xangô é o representante da Justiça. "Uma certeza: do livro de Xangô, ninguém escapa. Quem deve paga e quem merece recebe".
Segue abaixo a mensagem de Pai Edson de Omulu em seu Facebook:
OS ATABAQUES VENCERAM O RACISMO! VITÓRIA DO POVO DE TERREIRO DE PERNAMBUCO!
Nossa TENDA DE UMBANDA divide e celebra com todos os pais e mães, irmãos e irmãs, filhos e filhas de santo o resultado do recurso contra sentença que criminalizava os cultos afro-brasileiros. Agradecemos também a todas as instituições, organizações da sociedade civil e militantes que, junto conosco, se insurgiram perante uma interpretação injusta da Lei. Não mencionamos nomes para não incorrer no erro de esquecer alguém, e também por acreditarmos que o protagonismo dessa luta é de nossas comunidades tradicionais de matriz africana e afro-brasileira. Dito de outra forma: o legado é da Umbanda, do Candomblé e da Jurema, por ousar resistir em tempos de tanto retrocesso no judiciário.
Aos pés de Xangô, depositamos nossa fé há um ano e, sob o ciclo dele, encerramos entregando nas chamas de sua fogueira a sentença reformada e transitada em julgado. Com a esperança de que, daqui pra frente, diante deste recurso e também da Recomendação do Ministério Público de Pernambuco, lançada inclusive no mesmo dia do julgamento do nosso recurso e como desdobramento direto da ação política dos povos de terreiro desde janeiro de 2017, os operadores do direito atentem à laicidade do Estado e respeitem a liberdade de culto. Esperamos que os processos que hoje tratam das violações de direito que nossa comunidade sofreu por parte do vizinho tenham o trato necessário. Uma certeza: do livro de Xangô, ninguém escapa. Quem deve paga e quem merece recebe.
Aos filhos e filhas da TENDA que participam hoje deste derradeiro momento de festejo, obrigado por honrarem a Umbanda, os orixás e encantados, e lutarem como verdadeiros malungos nas horas de maiores aflições que vivemos nos últimos 3 anos.
Guiados pelos ancestrais, e irmanados em uma só força chamada AXÉ, seguimos com a certeza de que RESISTIR É UM ATO DE FÉ!
Pai Edson de Omolu
Sacerdote da Tenda de Umbanda e Caridade Caboclo Flecheiro d’Ararobá