Um corpo encontrado na tarde desta sexta-feira (4) nos escombros do edifício Wilton Paes de Almeida, no Centro de São Paulo, tinha tatuagens e usava um cinto de salvamento, informou o Corpo de Bombeiros.
Segundo o secretário da Segurança Pública, Mágino Alves, "tudo leva a crer" que o corpo é de Ricardo Pinheiro, que quase foi resgatado e acabou despencando junto com o prédio em chamas no Largo do Paissandu, na madrugada de terça (1º).
De acordo com os bombeiros, além das tatuagens semelhantes às de Ricardo e do cinto de segurança que havia sido instalado nele momentos antes do desabamento, o corpo estava num local próximo de onde o homem caiu.
O cadáver também estava com uma blusa azul com inscrição atrás, muito parecida com a que Ricardo usava no dia do incêndio.
O estado do corpo da vítima também indica que ela despencou de uma grande altura. "Em princípio o corpo sofreu pancadas, esmagamento. O corpo dele não sofreu alterações por conta do incêndio. Isso é um indício de que possa ser aquele homem que estava do lado externo do prédio. Ele vai ser identificado pela perícia", disse o tenente Guilherme Derrite.
Inicialmente, os bombeiros encontraram a perna da vítima. O restante do corpo foi retirado em seguida, mas sem a cabeça. O cadáver foi levado ao Instituto de Criminalística (IC), onde deverá ser identificado.
Buscas - Segundo o major Max Mena, que atua nas buscas, um dos cães farejadores localizou o cadáver na quinta (3). "A cadela sinalizou o local ontem. Equipes de buscas iniciaram trabalhos minuciosos. Hoje, após 22 horas, conseguimos encontrar o primeiro corpo."
Segundo o capitão Marcos Palumbo, porta-voz dos bombeiros, depois que os cães identificaram o local, foram retiradas cerca de 10 toneladas de entulho na mão.
A montanha de escombros do prédio chega a 15 metros de altura. Mais de 40 homens passaram a madrugada trabalhando nas buscas. Cinco máquinas auxiliam na retirada do entulho, como retroescavadeiras e um trator.
As buscas se concentraram perto de parede de igreja Luterana atingida no desabamento do prédio. Mais cedo, os bombeiros acharam roupas em meio aos escombros.
Questionado se acredita encontrar alguma das vítimas com vida, o major Mena respondeu: "Se eu não acreditasse, não seria bombeiro".
Ricardo acabou ficando preso dentro do prédio em chamas em uma das muitas vezes que entrou para ajudar a resgatar vizinhos. Em uma das vezes, foi visto carregando quatro crianças.
Segundo o auxiliar de limpeza Cosme Aleixo da Silva, 53 anos, que mora em uma ocupação vizinha, Ricardo teria ido do 7º para o 8º andar para ajudar duas crianças gêmeas e a mãe delas, uma coletora de material reciclável identificada como Selma. Moradores acreditam que a mulher e as crianças também estão no meio dos escombros.
Rauan Costa Neto, que mora em outro edifício próximo do que desabou, conhecia Ricardo, mas não soube dizer seu sobrenome.
“Eu espero que agora que divulgou quem ele é, a família apareça”, disse Rauan.
Ricardo teria uma irmã que trabalha em uma lanchonete no Centro, mas ainda não foi localizada. Ele também teria 7 filhos — 6 meninas e 1 menino.
“Eu conhecia ele porque a gente trabalhava junto. Fazia carga e descarga de contêiner, com coisas da China, bolsa, brinquedo, essas coisas”, conta Rauan. “Segunda mesmo a gente descarregou um caminhão na 25 de março.”
De acordo com Cosme, Ricardo era "uma pessoa trabalhadora, que vivia de casa para o serviço, nunca via ele na ocupação". O auxiliar de limpeza conta que a vítima do incêndio saía de casa no fim de tarde, buscava seu companheiro de trabalho na outra ocupação e ia para o serviço.
Pelas fotos em seu perfil no Instagram, Ricardo era um apaixonado por patins. São várias fotos e vídeos dele e amigos patinando.
"Ele gostava muito de plantas. O apartamento dele era cheio de plantas. E de gatos", contou Rauan.
Ricardo também gostava de fotografar paisagens, como do Parque do Ibirapuera e da janela do prédio que, tragicamente, desabou sobre ele segundos antes de o sargento Diego conseguir resgatá-lo.
Portais G1 e R7