quarta-feira, 30 de maio de 2018

30 dias da queda do prédio em SP: Moradores reivindicam melhorias


"Com o orçamento do município, demoraremos mais de 100 anos para atender o déficit habitacional de São Paulo", afirmou o secretário de Habitação e arquiteto Fernando Chucre, em audiência que reuniu lideranças de movimentos de ocupação e representantes da Prefeitura de São Paulo.

A declaração foi dada a mais de 20 lideranças de movimentos de moradia, além de representantes da Secretaria de Direitos Humanos e de Habitação, e também de especialistas como Américo Sampaio, da Rede Nossa São Paulo, e do presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil, Fernando Túlio.

Fernando Chucre disse que a habitação é um problema muito maior do que a Prefeitura pode resolver, citando que o recurso é insuficiente para a resolução do problema. E lembra a existência de 380 mil pessoas que esperam por moradia em São Paulo, sendo que 40% do orçamento já corresponde ao auxílio-moradia cedido mensalmente pela Prefeitura - cerca de 40 mil famílias que recebem R$ 400 por mês.

Com o auditório lotado por mais de 350 pessoas, os líderes dos movimentos deram ênfase na preocupação com uma possível onda de reintegração de posse e medo do despejo, como também reivindicaram uma melhoria da política de habitação da Prefeitura.

Benedito Barbosa, do Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos, afirmou que os movimentos estão sendo perseguidos, citando um possível projeto de um vereador. E ressalta: "vejo nossas lideranças sendo criminalizadas. O que tem que ser investigado é a especulação".

Uma das líderes mais ovacionadas foi Juçara Passo, do MTST, que também acredita que haja uma perseguição ao movimento e suas lideranças. No seu discurso de pouco mais de cinco minutos, ela cobrou uma mobilização mais forte dos moradores, além de uma maior participação da Secretaria de Habitação.

A boliviana Mônica Rodrigues, que luta há cinco anos por moradia de qualidade na cidade de São Paulo, enfatizou a questão dos imigrantes. "30% dos moradores do prédio que incendiou e desabou, no Largo do Paissandu, eram estrangeiros. Muitos deles, ainda desaparecidos, não foram lembrados", disse, relembrando a tragédia ocorrida no dia 1º de maio, e que deixou ao menos sete mortos.

Eduardo Suplicy (PT), vereador e presidente da Comissão dos Direitos Humanos, anunciou que vai apresentar um Projeto de Lei para melhorar as moradias. O projeto teria o objetivo de garantir o direito à vida e à segurança das pessoas, com foco primordial na prevenção de incêndios, além do intuito de evitar outros acidentes, a exemplo do ocorrido no Largo do Paissandu. A proposta do vereador também visa criar um mapeamento das ligações das ocupações na cidade, a distribuição de insumo e a realização de pequenos reparos elétricos e emergenciais.

O futuro das ocupações

Desde o incêndio, foi criado um plano para se discutir o que viria acontecer, por conta do acidente. Fernando Chucre afirmou que após a tragédia, a Prefeitura realizou uma reunião com o Ministério Público e a Defensoria, onde ficou claro que os movimentos de moradia não seriam criminalizados. E que deveriam ser criado grupos, junto com os movimentos, para a realização de vistoria nos edifícios do centro. Até o momento, o secretário afirma que foram 14 ocupações vistoriadas e que em tese, já foi decidido quais serão os primeiros 49 prédios a serem analisados, focando principalmente nas construções mais altas por conta do risco de incêndio. Segundo a Secretaria, a cidade possui 206 prédios ocupados.

Apesar das propostas apresentadas, o ex-vereador Nabil Bonduki acredita que a tendência é que o assunto esfrie. Sobre a gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), Nabil alega que no máximo deverão pegar os casos mais graves na área central para dizer que algum serviço está sendo feito.

Segundo Nabil, o atual prefeito "não terá nem coragem de interditar todos os prédios e nem vai conseguir implementar um plano de larga escala para poder recuperar habitação e produzir. "

O presidente do IAD, Fernando Túlio, argumentou que os proprietários de terra, junto ao poder executivo, não possuem interesse em acabar com a crise habitacional. Ele afirmou que o setor imobiliário teve um boom de 250% nos últimos dez anos em São Paulo, o que tem causado aumento do número de ocupações.

Já Américo Sampaio, do Instituto de pesquisa e coleta de dados, da Rede Nossa São Paulo, aponta para a questão da especulação imobiliária na cidade. "1% dos proprietários de imóveis dessa cidade concentram 25% de todos os imóveis daqui. Se você transforma esses 25% dos imóveis em grana, valor imobiliário, 1% dos proprietários dessa cidade concentram metade da riqueza imobiliária de são Paulo", observou Sampaio. "O setor imobiliário é o nosso maior inimigo", concluiu.

Portal Brasil 247