Os primeiros livros direcionados ao público infantil surgiram no século XVIII trazendo histórias assinadas por nomes como La Fontaine e Charles Perrault. Desde então, no exterior e também no Brasil, a literatura infantil foi ocupando seu espaço ao mesmo tempo em que mostrava sua importância na formação do indivíduo. “A leitura contribui muito positivamente para o desenvolvimento da criança, tanto na questão pedagógica como em relação ao próprio desenvolvimento emocional dela”, afirma a psicóloga Mariana Simonetti, do Grupo Vila.
Para Mariana, que atua na área de Psicologia do Luto, as obras destinadas ao público infantil também podem ser usadas como uma ferramenta útil no momento de introduzir junto aos pequenos temas considerados difíceis para os pais. “Os livros são bons para abordar a questão da separação dos pais, da perda e mesmo da morte, servindo de mediadores para uma conversa entre o adulto, que nem sempre sabe como falar dessa temática, e a criança”, explica a profissional. Esse passo inicial permite então que a criança tenha uma maior abertura para tirar dúvidas e conhecer melhor o tema.
Uma das obras recentes a falar sobre a questão da perda é o livro digital Turma do Vilinha. O material produzido pelo Morada da Paz, empresa administrada pelo Grupo Vila, tem como objetivo oferecer informações aos adultos e desmitificar o debate a respeito do luto infantil. O livro conta a história do garoto Vilinha, que vivencia um momento de transição com sua amiga, a lagarta Lalá, e passa a conversar com os colegas sobre o processo de luto. “A gente faz uma simbologia da morte a partir da história da lagarta que o Vilinha encontra no jardim da casa dele”, explica Mariana, autora dos textos do livro.
“Em um belo dia, a lagarta fica presa em um casulo e o Vilinha acredita que ela morreu. Quando, depois de um tempo, ela sai do casulo transformada em borboleta, o Vilinha percebe que ela não morreu, mas se transformou”, explica a psicóloga. “Quando um ente querido da criança morre, a relação que ela tinha com ele não deixa de existir. Ela apenas precisa ser ressignificada, uma vez que essa pessoa não vai mais estar presente fisicamente com a criança. É isso o que a gente tenta mostrar quando o personagem tem esse primeiro contato com o que ele acreditou ser a morte”, compara Mariana Simonetti.
A partir de então, por meio de sua “sacola de sacudir”, o personagem passa a interagir com os demais membros da turma, cada um com sua própria história de perda. O livro é parte de um projeto que contempla jogos educativos, vídeos e cartilhas que vão se aprofundar nas histórias dos personagens da Turma do Vilinha. A importância da iniciativa, diz Mariana, está em se poder naturalizar a temática junto aos pequenos. “Se uma criança com dois anos de idade perde alguém importante para ela, a gente não pode simplesmente achar que ela não vai lembrar. Por exemplo, a avó da criança falece e se diz que ela viajou. Isso é bem complicado, pois a criança fica esperando a pessoa voltar. Que viagem é essa que não termina?”, ressalta a psicóloga.
“É importante deixar algo natural e verdadeiro para a criança, que a vovó morreu, que o corpinho dela não vai voltar e que a gente precisa começar a lembrar dela em pensamento”, completa Mariana. E mesmo que a criança não tenha perdido alguém próximo, pode ter um amigo nessa situação ou ter ouvido algo a respeito. Todo o material do projeto Turma do Vilinha, inclusive o livro, pode ser acessado gratuitamente no site www.turmadovilinha.com.br