quarta-feira, 14 de março de 2018

Disciplina sobre 'golpe de 2016' entra nos planos de 13 universidades públicas

Chega a ser irônico. Afinal, além de ser a sigla do Partido dos Trabalhadores (PT), o número 13 representa também o tanto de universidades públicas brasileiras que já manifestaram interesse e se mobilizaram a fim de dar aulas destinadas exclusivamente ao estudo do chamado 'golpe de 2016' neste ano letivo.

A ideia partiu inicialmente do professor Luís Felipe Miguel, do curso de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB) . O objetivo da disciplina “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”, proposta por ele, é de estudar os "elementos de fragilidade do sistema político brasileiro que permitiram a ruptura democrática de 2016, com a deposição da presidente Dilma Rousseff”, conforme informa o programa do curso.

A disciplina virou notícia na semana passada, quando o ministro da Educação, Mendonça Filho, reagiu às notícias sobre a disciplina na UnB e anunciou que acionará o Ministério Público Federal para apurar suposto “ato de improbidade” por parte do docente.

Ele afirmou que a universidade “não pode ensinar qualquer coisa”. Para Mendonça Filho, “se cada um construir uma tese e criar disciplina, as universidades vão virar uma bagunça geral”. O ministro também disse que o Brasil é um país democrático e que o impeachment seguiu os ritos legais, de forma que a disciplina nada mais faria que “reverberar a tese petista”.

Solidariedade - Apesar da briga comprada com o MEC, a matéria proposta por Luís Felipe Miguel está com a sala lotada e tem fila de espera. Além disso, depois da repercussão do curso da UnB, outras 12 universidades se mobilizaram, criando cursos e projetos de extensão sobre o período, as fases e as consequências do impeachment de Dilma Rousseff. 

A Universidade Federal da Bahia (UFBA) definiu que 22 professores vão ministrar uma disciplina homônima. Os docentes envolvidos atuam em diversas áreas, como Sociologia, Economia e Química. 

Além dela, a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) também dará um curso de extensão sobre o mesmo tema. Na Universidade de São Paulo (USP), um curso semelhante também será criado.

Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um grupo de professores do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) prepara um curso livre sobre o tema. Nessa faculdades, até quem não é aluno da instituição poderá se matricular e acompanhar as aulas. 

"Repudiamos as declarações e ameaças do ministro da Educação do governo golpista contra nosso colega da UnB", disse a Unicamp, em nota. "Elas são a demonstração cabal de que vivemos em um contexto político autoritário, no qual a máxima autoridade federal no campo educacional infringe a liberdade de cátedra e a autonomia universitária contra um docente e cientista político que apenas cumpre seu dever de ofício: pesquisar, elaborar cursos sobre a realidade e ensinar".

Veja todas as universidades que pretendem abordar o tema em disciplinas específicas sobre o chamado 'golpe de 2016':


Universidade de Brasília (UnB); 
Universidade de São Paulo (USP); 
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); 
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB); 
Universidade Federal da Bahia (UFBA); 
Universidade Federal do Amazonas (Ufam); 
Universidade Federal do Ceará (UFC); 
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); 
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS); 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); 
Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ).


Pernambuco - Ainda não há previsão da disciplina aqui no estado. Mas a Associação dos Docentes das Universidades Federais de Pernambuco (ADUFEPE) lançou nota repudiando as perseguições contra docentes e instituições:

O curso de graduação de ciência política da UnB (Universidade de Brasília) divulgou recentemente a ementa da disciplina intitulada "O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil", a ser ofertada neste semestre e ministrada pelo Professor Doutor Luis Felipe Miguel. 

A disciplina se refere ao processo político que culminou com o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016, e a consequente posse do presidente ilegítimo Michel Temer na Presidência da República. 

Como sabemos, mencionar o golpe incomoda o atual governo e ao que parece, pensar cientificamente sobre ele, incomoda muito mais. Em uma postagem na sua rede social, o atual ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM), criticou a oferta da disciplina e ainda afirmou que irá acionar a AGU (Advocacia-Geral da União), CGU (Controladoria-Geral da União), TCU (Tribunal de Contas da União) e MPF (Ministério Público Federal) para apurar se há algum ato de improbidade administrativa. 

Diante do ocorrido, a Associação dos docentes da UFPE manifesta seu repúdio à tentativa desesperada do governo de calar a universidade brasileira diante e de restringir à sociedade de conhecimentos sobre o momento político vivenciado.

Entendemos que as declarações e ameaças de Mendonça Filho, revelam tentativa de censura ao curso como também um severo ataque à autonomia universitária garantida pelo artigo 207 da Constituição Federal de 1988. 

Manifestamos também apoio ao Professor Doutor Luis Felipe Miguel, um reconhecido pesquisador da área de Ciência Política, e aos estudantes da UNB. Assim, os professores da UFPE se posicionam contra o cerceamento e em favor da autonomia da universidade e da liberdade de cátedra.


Com informações do Portal IG e da Imprensa ADUFEPE