O delegado titular da Delegacia Geral de Homicídios (DGH), Cristiano Camapum, disse nesta sexta-feira (9) que os dois ataques contra casas onde vivem famílias de venezuelanos em Boa Vista foram cometidos pela mesma pessoa.
Foram dois incêndios em três dias em casas no bairro Mecejana, na zona Oeste da capital, onde moram os imigrantes. O primeiro ocorreu na madrugada de segunda (5) e uma mulher de 24 anos foi atingida pelas chamas enquanto dormia em uma rede na varanda.
O segundo ataque foi nessa terça (8) quando uma menina de 3 anos e o pai dela ficaram feridos após os suspeito atear fogo no quarto onde as vítimas dormiam, informou o delegado.
"Já não temos mais dúvidas que se trata do mesmo autor nos dois casos. Ele já foi identificado e estamos em diligência para efetuar a prisão em flagrante", disse o delegado durante coletiva de imprensa na DGH.
Até então a Polícia Civil não havia afirmado que o caso em que a criança e o pai foram queimados também se tratava de um ato criminoso, porém a situação também estava sendo investigada. As vítimas vivem com outras 10 pessoas no imóvel.
A menina teve queimaduras de segundo grau e está internada no Hospital da Criança. O pai permanece na ala de trauma do Hospital Geral de Roraima e teve 36% do corpo queimado. Apenas a mãe da criança recebeu alta.
De acordo com Camapum, no caso dessa quinta o suspeito chegou sozinho ao imóvel e arremessou um líquido inflamável através de uma janela da residência, atingindo as vítimas.
O caso é investigado pelo Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (NPCA) em parceria com a DGH.
O primeiro ataque, registrado na segunda-feira (5), já está sendo investigado pela Polícia Civil, afirmou o delegado. Imagens de uma câmera de segurança flagraram o momento em que o suspeito provoca uma explosão na casa onde vivem 31 venezuelanos.
Na ocasião, uma mulher que dormia na varanda da residência teve queimaduras de segundo grau no rosto, pescoço e costas.
Questionado sobre a motivação dos crimes, o delegado informou que vai aguardar a conclusão das investigações, mas não descarta a possibilidade de xenofobia.
"Ainda não foi descartada a possibilidade de ter relação com a retaliação a imigrantes no nosso estado, mas já trabalhamos com o perfil de um piromaníaco, que é a pessoa que faz ataques usando líquidos inflamáveis em ocasiões diferentes", completou Camapum.
O delegado disse ainda ter descoberto que, no mês de janeiro, um caso semelhante foi identificado em um posto de lavagem que fica ao lado da casa onde ocorreu o ataque desta quinta.
Na ocasião, segundo ele, um venezuelano também sofreu o ataque com fogo. Porém, esta situação não foi registrada em nenhuma delegacia e a polícia só soube durante as investigações sobre os dois atentados às casas das famílias.
Venezuelanos em Roraima
Desde 2015, milhares de venezuelanos tem migrado para Roraima em busca de qualidade de vida. No estado, eles reclamam da crise no país vizinho, falta de comida, medicamento, emprego e segurança. Quatro abrigos para imigrantes foram criados em Roraima para receber venezuelanos em dificuldades.
Em Pacaraima, cidade brasileira que faz fronteira com a Venezuela, o sistema de saúde está superlotado. Muitos venezuelanos chegam a viajar 11 horas de viagem por atendimento. No maior posto de saúde do município, os imigrantes já são responsáveis por 49% de toda demanda.
No hospital da cidade, 5 mil venezuelanos foram atendidos em 2017. Dois anos antes, foram 1,8 mil. O número representa um aumento de 177% na unidade.
Na capital, Boa Vista, centenas de imigrantes são vistos nas ruas da cidade, praças, avenidas pedido comida e emprego. Eles também fazem fila todos os dias em frente a sede da Polícia Federal para conseguir o visto de permanência no país.
Na quinta-feira (8) os ministros da Justiça, Torquato Jardim, Defesa, Raul Jungmann, e do Gabienete de Segurança Internacional, Sérgio Etchegoyen, estiveram em Boa Vista para discutir medidas para o intenso fluxo de imigrantes do estado.
Em visita a uma praça na zona Sul da capital, Jungmann se disse impressionado e que a situação precisa ser resolvida. "Estamos preocupados com a situação de todos. [...] Choca muito", afirmou.
Portal G1