Um caso de racismo e preconceito religioso está apavorando responsáveis por um terreiro de Umbanda no bairro Imperador, em São Joaquim de Bicas, na região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Desde 24 de outubro a casa sofre ataques consecutivos liderados por um policial militar da reserva, conhecido coo João Camargo. Além de destruir o terreiro “Casa Espírita Império dos Orixás de Nossa Senhora da Conceição e São Jorge Guerreiro”, os atos de violência também provocaram prejuízos no imóvel onde a família mora.
Segundo os irmãos Lalesca Pereira dos Santos, de 23 anos, e Gustavo Pereira dos Santos, de 20, a perseguição começou na terça-feira, dia 24 de outubro. Eles relataram o caso à Defensoria Pública de Minas Gerais e o Bhaz teve acesso ao documento em que contam como tudo ocorreu. Era por volta das 6h quando um grupo de pelo menos seis pessoas lideradas por João Camargo, que estava armado, entrou na propriedade da família.
De acordo com a denúncia, apenas um irmão de Lalesla e Gustavo, Diego Santos que tem sofrimento mental e é epilético, estava no local. João Camargo na companhia dos cúmplices até o momento não identificados quebraram o galinheiro, as cercas e destruíram as plantas usadas para banho. Ao chegar em casa, Gustavo, que trabalha em uma auto escola, tentou conversar com o líder do grupo, mas sem sucesso. João Camargo teria dito a ele que “não conversava com macumbeiro”, apontando uma arma para o rapaz.
Diante de toda a destruição, Gustavo ligou para o 190 nove vezes e foi informado de que uma viatura estava a caminho, mas os militares não apareceram. Ao mesmo tempo, João Camargo teria também feito contato com a Polícia Militar solicitando “reforço”. A solicitação dele, no entanto, foi atendida e os oficiais chegaram ao local algum tempo depois. Na viatura, segundo Gustavo, havia dois militares, sendo um deles a sargento Tamires, que não teria registado o Reds (Registro Eletrônico de Defesa Social) diante da quebradeira promovida por João Camargo. A militar teria apenas dito que tudo não passava de uma “questão de bom senso” e que era melhor que a família não mexesse com João Camargos, pois se tratava de “gente muito perigosa”. Neste meio tempo, Camargo teria dito que iria embora, quando Gustavo acreditando que a situação estava controlada retornou ao trabalho em auto escola.
Mas ao perceber que Gustavo havia se ausentado novamente, Camargo e sua turma continuaram a destruir o restante da casa. No alvo do grupo estavam imagens de entidades da Umbanda, santos e os eletrodomésticos do local. Geladeira, máquina de lavar, micro-ondas, utensílios de cozinha como panelas, talheres e vasilhames foram destruídos. Eles não pouparam nem mesmo um fogão de lenha e telhas. Ao retornar para casa, Gustavo reencontrou o grupo destruindo as imagens do terreiro. Foi quando teve a camisa rasgada por João Camargo, que deixou um aviso: o rapaz deveria sumir para não ser morto. Assustado, mais uma vez Gustavo ligou para a PM. De acordo com ele, os militares atenderam a ocorrência, mas nem sequer chegaram a descer da viatura para retirar os agressores de dentro do local. “Eu estava passando mal por conta de toda aquela situação, os militares me levaram para a UPA da cidade, enquanto João Camargo e o grupo dele continuavam a destruir o terreiro e minha casa”, relatou o proprietário do imóvel.
Pragmatismo Político