Dias após ao que já é tido como o maior atentado terrorista desde o 11 de setembro norte-americano, a Somália ainda sofre. Nesta quarta-feira (18), o país amanheceu com as ruas tomadas por manifestantes que protestaram contra a violência no país, marcado historicamente pela miséria e pelos conflitos locais. Hoje foram divulgados novos números do atentado duplo à bomba ocorrido no último sábado (15): mais de 300 pessoas morreram e outras 400 ficaram feridas.
Também nesta quarta-feira, ao fim de sua audiência na praça São Pedro, em Roma, o Papa Francisco pediu orações pelos somalis. “Imploro a conversão dos homens violentos e estimulo todos aqueles que, com enormes dificuldades, trabalham pela paz nessa terra martirizada”.
As dimensões dessa tragédia são tamanhas que seria natural uma enorme comoção mundial e manchetes fixas com atualizações do que está ocorrendo no país africano. Assim aconteceu com os atentados mais recentes na Europa ou, ainda mais recente, em Las Vegas, nos Estados Unidos, em que 58 pessoas foram mortas. Plantões de hora e hora, hashtag #PrayForLasVegas, filtros de foto de perfil em apoio no Facebook, reportagens especiais… Acontece que nada disso está acontecendo com o caso da Somália.
É chocante a falta de comoção com um atentado quando este ocorre em um país que não é na Europa ou não vitima crianças brancas. A tragédia da Somália, “distante” país africano, parece não ter para a mídia tradicional a mesma relevância que as tragédias europeias ou estadunidenses. Fórum já havia feito esse alerta na terça-feira (17), mas a seletividade de cobertura persiste.
A falta de comoção das pessoas não é à toa. Basta fazer uma rápida análise do noticiário. Na noite desta quarta-feira, dia em que ocorreram uma série de protestos no país, em que o Papa Francisco falou sobre o assunto e que o número de vítimas foi atualizado, nenhum dos portais de notícias mais lidos do país faz qualquer menção ao caso na home de seus sites.
No G1, da Globo, a manchete principal é sobre a votação na Câmara que aprovou o parecer sugerindo o arquivamento da denúncia contra Michel Temer, uma escolha natural de destacar a política local. Acontece que nem na parte de internacional do portal há qualquer destaque à Somália. Notícias sobre o futebol acabaram ganhando mais destaque.
Já no UOL, um dos outros mais lidos do país, política nacional, futebol e entretenimento dominam o site. Mais uma vez, nada da Somália. O mesmo acontece na Folha de S. Paulo e no Estadão. Já no El País Brasil, a última notícia sobre a Somália é de 23 horas atrás.
Essa escolha da imprensa em pautar ou não determinado assunto faz toda a diferença na comoção das pessoas. Para se ter uma ideia, segundo a ferramenta de gestão de redes Sprout Social, a hashtag #PrayForSomalia foi mencionada 25.000 vezes no Twittwer entre 14 e 17 de outubro. Já a hashtag #PrayForLasVegas foi usada quase 250.000 vezes apenas nos dois primeiros dias seguintes ao atentado nos Estados Unidos.
Aqueles que perceberam a falta de atenção à tragédia africana estão, inclusive, ironizando. Este mapa mundi criado por internautas, por exemplo, ilustra bem como a imprensa pauta a comoção social.
Enquanto as notícias sobre a Somália se escondem nos lugares menos privilegiados dos sites noticiosos, somalis seguem precisando doações de sangue, ajuda financeira e, por que não, comoção. #PrayForSomalia
Revista Forum