Membro da bancada evangélica no Congresso, o senador Magno Malta (PR-ES) tirou da rotina o fim da sessão plenária nesta quarta-feira (18).
No comando dos trabalhos após o presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), ter encerrado a “ordem do dia”, quando votações são realizadas, Magno levou deputados do grupo à Mesa Diretora, exibiu fotos de nu exibidas em exposições e, vendo que a TV Senado não as focalizou ao seu pedido, ameaçou processar a direção da emissora.
Ele reclamava das recentes manifestações artísticas que, explorando a nudez e tocando temas como homossexualidade, pedofilia e zoofilia, têm causado reações raivosas de setores sociais conservadores – para Magno, “um momento sensível, terrível, de um ataque sistemático, organizado contra a família”.
“O que vocês estão fazendo é criminoso! Eu vou representar contra vocês!”, vociferou Magno Malta, talvez desconhecendo a lei de classificação indicativa, que proíbe exibição de imagens com nudez na TV aberta, em determinados horários. Tudo foi transmitido e fotografado pelos profissionais da comunicação institucional, mas nenhum close das imagens foi feito.
“Isso aqui é arte?! É uma imagem de Nossa Senhora no pênis dele. Olhem aqui! Isso é uma imagem de Nossa Senhora, isso aqui é um símbolo caro da Igreja Católica, um símbolo sagrado para os católicos. A minha mãe e a minha avó já foram católicas, e eu era pequenininho quando vi minha avó devota. Símbolo sagrado está aqui no pênis desse pilantra. Depois, ele entra para fazer a artimanha dele e a rala no ralador. É um vilipêndio! E depois joga o pó no pênis!”, bradou o parlamentar, mostrando as imagens.
Magno Malta fez mais. Levou cinco deputados da bancada evangélica e assegurou que eles discursassem em plenário, o que é proibido pelo Regimento Interno do Senado – a não ser em sessões solenes ou especiais, mediante requerimento aprovado com as disposições sobre efeméride. Alan Rick (DEM-AC), Diego Garcia (PHS-PR), Eros Biondini (Pros-MG), Silas Câmara (PRB-AM) e Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) foram levados pelo senador para reforçar o ato de viés religioso. Mas só dois deles falaram, Eros e Alan Rick.
Quando a infração normativa estava em curso, Eunício voltou ao plenário e impôs o fim da sessão, colocando-se ao lado do senador capixaba até que ele mesmo desistisse de levar adianta a sessão – até uma pequena estátua de Nossa Senhora Aparecida foi levada pelo senador à Mesa. Com discurso religioso acentuado, a sessão simulava um ato evangélico em pleno palco das decisões do Senado. Das galerias laterais, visitantes proferiam palavras de apoio às falas dos parlamentares, como em um culto.
“Não vai acontecer nada”
A presença de Eunício de pé, ao seu lado, inibiu as ações de Magno Malta, mas ele fez questão de se manter sentado na cadeira central da Mesa. Antes de passar a palavra aos colegas deputados, o senador do PR disse que pagaria o preço de um eventual processo no Conselho de Ética do Senado, mas que não deixaria de dar voz aos representantes da Câmara. E assim foi feito.
“Zombar de qualquer símbolo sagrado é crime – zombar, vilipendiar, desrespeitar a fé, que é aquilo que o ser humano tem de mais precioso. O ser humano se difere dos animais por ser um ser político e um ser religioso. Portanto, senador Magno Malta, nós todos fazemos coro com todos os movimentos pastorais que vêm se manifestando diariamente contra essa falsa arte, contra o desrespeito à nossa fé, contra a violência contra as crianças. Todos contra a pedofilia”, discursou Eros.
“Jesus foi interpelado certa vez pelos seus próprios discípulos quando afluíam as multidões para que ele, meu amigo Sóstenes, as tocasse e lhes impusesse as mãos. Afluíam as multidões, meus amigos Eros e Diego Garcia. E, quando chegaram as crianças, os próprios discípulos de Jesus disseram: ‘Tirem as crianças’. E Jesus: ‘Não! Deixai vir a mim as criancinhas, porque delas é o Reino de Deus’”, emendou Alan Rick, depois de elogiar Magno Malta pela coragem e vendo-se obrigado a encerrar a fala com a chegada de Eunício.
Encerrada a sessão e com os ânimos serenados, Eunício disse que Magno Malta não corre perigo de perder o mandato por quebra de decoro, mesmo tendo quebrado as regras regimentais. “Não… A sessão já havia sido encerrada”, ponderou o peemedebista. Fora dos microfones, vendo Magno falar na Mesa sobre a possibilidade de processo disciplinar, Eunício já havia acalmado o colega. “Não vai acontecer nada”, cochichou o senador.
Com informações do Site Pragmatismo Político e do Portal Congresso em Foco