Um documento de identidade de Santiago Maldonado, ativista desaparecido em uma operação policial em 1º de agosto, foi achado em um corpo encontrado no Rio Chibut, no sul da Argentina, na terça-feira (17), informou na quarta-feira (18) um perito da família. A identidade do corpo, no entanto, ainda não está confirmada.
— Esse corpo estava vestido, não foi examinado, nem periciado. A presença de objetos pessoais, entre eles uma identidade nacional, não significa uma identificação positiva desse corpo, quero ser enfático nisso — declarou o perito contratado pela família, Alejandro Inchaurregui, em entrevista coletiva no município de Esquel, a 1.850 quilômetros de distância de Buenos Aires.
Grande parte da mídia argentina acredita que se trata de Maldonado, com base em informações de fontes policiais, como o documento de identidade encontrado e a roupa usada. Ele desapareceu há 78 dias.
O perito, que estava presente quando retiraram o corpo do rio, insistiu que "até o momento, não há identificação alguma desse corpo, nem para os presentes nem para a Justiça".
Sergio Maldonado, irmão mais velho de Santiago, admitiu ter reconhecido algumas peças de roupa, mas disse que "isso não tem nada a ver".
— Não podemos confirmar se é ou não Santiago. Não é possível reconhecer. Não vou dizer se é ou não é, se não há 100% de certeza — declarou o irmão.
A busca foi feita pela Prefeitura Naval com cães especializados durante a terça-feira, sendo a "quarta (busca) feita no mesmo lugar", lembrou a advogada da família, Verónica Heredia.
O corpo seria transportado na noite desta quarta-feira do município de Esquel para Buenos Aires, em um avião da Prefeitura Naval, para realizar os testes genéticos e a necrópsia no Instituto Médico Legal.
Quem é Santiago Maldonado
Ativista, tatuador e artesão, Santiago Maldonado defendia, entre outras causas, a dos indígenas, para os quais ele sempre pregou a devolução de terras que lhes teriam sido subtraídas. Junto a isso, tem forte discurso ambientalista.
Após se mudar da província de Buenos Aires para El Bosón, sul da Argentina, região conhecida pela comunidade hippie, Santiago viajou para o município de Cushamen, na província de Chubut, logo ao lado. Na área, indígenas mapuches ocupavam um terreno vendido ao magnata italiano Luciano Benetton, mas que a comunidade reivindicava posse.
No entanto, Santiago se envolveu em um protesto do grupo ativista Resistencia Ancestral Mapuche, que bloqueou uma estrada de acesso ao Chile para exigir a libertação do líder, Facundo Jones Huala – cuja extradição é exigida pela Justiça chilena.
Em 1º de agosto, um dia após Santiago chegar à manifestação, a polícia nacional argentina dispersou os manifestantes. Conforme testemunhas, a atuação das autoridades foi violenta – o jornal El Diario relatou que foram utilizadas balas 9 mm. As testemunhas ainda afirmam que o ativista foi rodeado por policiais e depois levado em um veículo. Deste então, Santiago está desaparecido, mas a polícia nega estar envolvida.
O caso provocou uma onda de protestos em toda a Argentina e está sendo comparado por entidades de direitos humanos aos ocorridos durante a mais recente ditadura militar (1976-1983) no país, quando foram mortas 30 mil pessoas. Protestos pedem que fatos desse tipo não se repitam.
Rádio Gaúcha Zero Hora (RS)