Nicolle, Nikki, Nicolle Mariee. Reservada com a família, ativa nas redes sociais. Modelo, promotora de eventos; destemida, tranquila. A misteriosa personalidade da jovem de 20 anos desafia a Polícia Civil na complexa investigação que tenta desvendar a questão que amigos e familiares fazem nos últimos 30 dias: o que aconteceu com Nicolle Brito Castilho da Silva?
O pai, gerente de projetos Sidnei Castilho da Silva, 48 anos, saiu para buscar um lanche, no dia 2 de junho, e quando voltou a filha não estava mais na nova casa da família, em Cachoeirinha. Desde então, todos buscam pela garota que nasceu em São Paulo, passou a infância em Miami e a adolescência no Rio Grande do Sul.
Dos 14 aos 18 anos, a menina morou com o pai no Condomínio Capitão Rodrigo, no bairro Menino Deus, em Porto Alegre. Fez amigos e terminou o Ensino Médio com dificuldades de adaptação na Escola La Salle Dores, no centro da Capital. Com 18 anos, mudou-se para São Paulo onde trabalhou como modelo e promotora de eventos. Estava temporariamente no Rio Grande do Sul, na casa do pai, para se recuperar de uma cirurgia de implante de silicone quando simplesmente desapareceu.
Cuidadosa e atenta a cada passo da filha, enquanto moravam juntas nos Estados Unidos, a assessora jurídica Josi Brito, 41 anos, vive a angústia de não saber se acompanha as investigações à distância ou se volta para o Brasil, na tentativa de descobrir algo que a deixe mais perto de uma solução.
— Sei que o pai dela está fazendo tudo possível, mas tudo é tão devastador, triste, sofrido, que parece não ter fim. E justamente no meu país, como explicar que as investigações sejam tão lentas, sem qualquer novidade. Só a misericórdia de Deus para eu continuar vivendo com tanta dor. A esperança de encontrá-la me ajuda a viver — emociona-se.
Nicolle estava com o pai em casa, naquela sexta-feira, quando ele saiu para comprar o lanche, por volta das 20h15min.
— Convidei a Nikki para ir comigo, mas ela estava um pouco chateada aquele dia e preferiu ficar em casa. Quando voltei, vi que ela não estava, mas não me preocupei, pois ela ia muito a Porto Alegre, encontrar amigos em festas. Comecei a me preocupar no dia seguinte, quando enviei mensagens e não obtive resposta, e mais tarde, após a chegada de uma amiga dela questionando seu paradeiro — conta o pai.
A demora do pai em informar o desaparecimento à Polícia Civil pode ter prejudicado parte das investigações da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha. Segundo o delegado Leonel Baldasso, a ocorrência só foi registrada 11 dias depois do fato.
— Se houve registros de câmeras de segurança sobre a passagem de Nicolle em algum local, infelizmente podemos ter perdido muitas imagens, pois há equipamentos que não armazenam os arquivos por tantos dias — comenta o delegado.
Segundo o pai, ele sentiu que algo estava errado no domingo, um dia e meio após o desaparecimento da filha, porém acreditava que ela poderia estar na casa de algum amigo.
— Vi na página do Facebook dela que os amigos questionavam a ausência de Nicolle e começaram a ligar para meu telefone, divulgado entre eles. Então, resolvi procurar a delegacia quando notei que ninguém estava com ela, uns cinco ou seis dias depois da última vez em que a vi — recorda.
Para montar o quebra-cabeça que se tornou o caso, a polícia já solicitou à Justiça acesso aos registros telefônicos e das redes sociais de Nicolle.
— O que mais chama atenção é o registro de uma ligação recebida de fora do Estado 24 horas antes de seu desaparecimento. As outras ligações continham registros de lojas e salões de beleza que devia frequentar — destaca o delegado.
Até o momento, a única pista obtida pelas investigações são as imagens que mostram a jovem entrando em um carro prata, em frente à casa do pai. A perícia tenta identificar a placa do veículo, que pode ter sido um dos últimos locais onde ela esteve.
Descrita pelo pai como alguém que não vê maldade nas pessoas, positiva, mas independente e de personalidade forte, Nicolle voltou para o Rio Grande do Sul há cerca de quatro meses para se recuperar de complicações ocorridas após a cirurgia de implante de silicone, feita em 2016.
— Ela não tinha muitas amizades na cidade, estava há quatro meses aqui. Como ela pode ter saído sem os documentos e a maquiagem, que carregava a cada vez em que ia sair? — questiona-se o pai.
Vivendo nos EUA há 15 anos e sem ver a filha há seis, Josi ouviu a voz do "seu amor" pela última vez, em uma ligação, no dia 31 de maio.
— Ela telefonava muitas vezes para me pedir dinheiro. Mas por algum motivo, eu disse que não daria o dinheiro. Ela respondeu somente um ok e desligou — conta a mãe.
Às 19h52min de 2 de junho, seu último post mostrava pesar pela morte da amiga Paola Gomes, 21 anos, executada em Gravataí, junto com o namorado, Ricardo Corrêa Sobrinho, 26, que possuía antecedentes por receptação.
A possibilidade da jovem estar escondida por receio de alguma situação desconhecida está entre as linhas de investigação da 1ª DP, que ainda trabalha com a possibilidade de cárcere privado ou morte e ocultação de cadáver.
— De acordo com os depoimentos que tivemos, o que mais intriga é o silêncio dela, já que não costumava ficar tanto tempo sem ligar para a mãe — finaliza o delegado.
Zero Hora (RS)