Os protagonistas da foto acima são estudantes de medicina da Universidade Vila Velha (UVV), no Espírito Santo. Divulgada nas redes sociais, a imagem foi bombardeada com comentários pedindo a punição dos universitários por incitação ao estupro. A imagem foi amplamente criticada nas redes sociais e a ética profissional dos futuros médicos foi colocada em xeque.Com a repercussão, a universidade se posicionou sobre o caso.Em nota oficial, publicada no Facebook, a Universidade Vila Velha afirmou que repudia "todas as formas de ofensa e desrespeito, seja de cunho preconceituoso ou exposição indevida de uma profissão".
Após este mês, a instituição decidirá se vai haver punição -- de advertência a cassação do diploma -- caso seja comprovado que os estudantes feriram o código de conduta ética da universidade.
À reportagem, no entanto, a assessoria da UVV informou que os alunos envolvidos no caso já foram ouvidos individualmente e que eles alegaram que a foto tinha um contexto diferente do qual foi interpretado após ter sido divulgada.
Segundo informou a universidade, a foto com a pose que os jovens reproduziram seria algo comum entre os formandos de medicina, e a cena se repete em outras universidades do País.
"É tipo uma piada interna", informou.
O HuffPost Brasil apurou com estudantes de medicina do Espírito Santo que a pose é mesmo recorrente entre os formandos do curso, inclusive entre mulheres.
O caso só ganhou repercussão porque a foto foi publicada nas redes sociais, uma vez que geralmente os estudantes registram fotos como esta apenas para o álbum de formatura.
A pose seria uma espécie de brincadeira seguida por diversos alunos e alunas, sem um significado específico. Já a hashtag #PintosNervosos -- utilizada pelos alunos na foto que viralizou e bastante criticada -- não teria relação com a pose, mas sim com um grupo em uma rede social de bate-papo.
De acordo com fontes ouvidas pela reportagem, a hashtag é o nome do grupo do WhatsApp dos estudantes.
Debate Ético - Procurado pelo HuffPost Brasil, o presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo, Carlos Magno Pretti Dalapicola, afirmou que o conselho soube da foto na segunda-feira (10) e a primeira medida foi procurar a UVV para averiguar os fatos. Como os envolvidos ainda são estudantes, só a universidade pode aplicar punição.
Além de cobrar a sindicância e a devida punição, o CRM fez uma reunião na tarde desta terça-feira (11) com os estudantes e, segundo o presidente, os alunos se mostraram arrependidos. "O intuito da reunião foi esclarecer os fatos e orientá-los sobre a ética profissional", disse Dalapicola.
Questionado sobre a possibilidade de haver outras fotos similares em universidades do Espírito Santo, o presidente afirmou que o CRM nunca teve conhecimento de casos como esse.
Ele ponderou, porém, que mesmo sendo uma brincadeira entre os formandos, os alunos precisam respeitar a profissão enquanto acadêmicos e que aquela foto traz uma exposição imprópria para os profissionais, principalmente "perante a população."
Relato - A escritora Elika Takimoto (foto ao lado), além de outras dezenas de mulheres, relatou que ainda criança, fora assediada por um oftalmo e na adolescência o agressor foi um ginecologista. Leiam o relato dela:
"Quando eu tinha dez anos fui ao oftalmologista. Ele apagou as luzes para eu ler as letrinhas iluminadas ali na frente. Com a minha mãe no consultório, ele colocou o pênis dele para fora, me sarrou o braço e forçou a minha mão para mexer nele. Eu não sabia o que fazer. Minha mãe não percebeu nada porque estava olhando para as letrinhas iluminadas. Saí de lá. Não conseguia falar. Fiquei com medo de sabe Deus o quê.
A história se repetiu com um ginecologista que me apalpou de um jeito estranho. Era adolescente e também não soube reagir. Tive medo de novo de contar para alguém e ser criticada porque não fiz nada ou, pior, me culparem por isso.
Daí, vejo essa foto. Futuros médicos fazendo apologia ao estupro da Universidade Vila Velha, ES, com calça arriada fazendo sinal obsceno com as mãos. Um deles, disseram, postou a foto no perfil com a hashtag #pintonervoso.
E quando afirmamos que todo homem é um estuprador em potencial porque não sabemos de onde pode vir o ataque somos criticadas por generalizar. Entendam: não é sobre você. É sobre como nos sentimos ameaçadas e sem saber quando e em quem confiar até mesmo nos locais que deveriam ser nosso porto seguro, como um consultório em que vamos procurando cuidados.
Que esses "futuros médicos" jamais sejam médicos. Que a Universidade expulse todos e a sociedade entenda que não mais aceitaremos esse tipo de apologia ao estupro e "brincadeiras" com esse tipo de coisa.
Mais uma vez, brincadeira é quando todos se divertem. Se um lado sente medo, isso tem outro nome. Vê se aprendem de vez."
Com informações do Huffington Post Brasil e do Facebook da Elika Takimoto