Junto com os 14 livros criptografados deixados no quarto, o estudante de psicologia Bruno Borges, de 24 anos, desaparecido desde o último dia 27 de março, em Rio Branco, também deixou as "chaves" que servem como guia para a decodificação. De acordo com a família, os escritos foram feitos com a utilização de pelo menos quatro códigos diferentes.
A investigação do caso é feita pela Polícia Civil do Acre de maneira sigilosa. Ao G1, o coordenador da Delegacia de Investigação Criminal (DIC), delegado Fabrizzio Sobreira, afirmou que todas as possibilidades estão sendo consideradas para apurar o paradeiro do acreano.
Alguns dos livros do estudante foram escritos à mão em apostilas e outros espalhados - de forma organizada e totalmente simétrica - nas paredes, teto e chão do quarto. Além do material, também foi colocado no cômodo uma estátua do filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600), por quem tem grande admiração, orçada em R$ 7 mil.
A irmã mais velha de Bruno, a empresária Gabriela Borges, de 28 anos, explica que as chaves estavam em uma pasta em um lugar visível. "Não estava em difícil acesso, ele não deixou muita coisa no quarto, além do que foi feito. Só não encontrei uma das criptografias, mas a maioria está lá", conta.
Até o momento, os familiares conseguiram decifrar pouco conteúdo. "Algumas coisas já conseguimos traduzir, mas é muito conteúdo. Alguém que fosse especializado talvez pudesse tentar fazer de uma forma mais rápida, mas tem muita gente nos procurando e estamos com dificuldade de distinguir quem realmente entende e quem é curioso", fala a irmã.
Gabriela cita um pouco sobre o que já foi traduzido. Um dos livros, conforme ela, chama-se "A teoria da absorção do conhecimento". "Tem um que fala sobre a busca da verdade absoluta. Não temos nenhum texto completo. Acreditamos que vai aparecer alguém que sintamos essa confiança. Não queremos divulgar imagens para as pessoas tentarem decifrar", acrescenta.
Sobre a procura por Bruno, a irmã diz que as informações policiais são sigilosas até mesmo para a família. "A polícia nos fala que continuam procurando. Todos os dias temos falado com o delegado. Eles não divulgam o que estão fazendo, porque dizem que pode atrapalhar o rumo das investigações", ressalta.
Desaparecimento - A última vez que os parentes viram Bruno foi durante o almoço de família, na segunda (27). O jovem voltou para casa e todos - mãe, pai e os outros dois irmãos - seguiram o dia normal de trabalho. Mais tarde, o pai de Bruno, o empresário Athos Borges, retornou à residência da família e percebeu que o filho não estava.
"Fui a última pessoa a ver Bruno. Deixei ele na esquina de casa e fui embora. Ele falou 'até mais pai' e não tivemos mais notícia. Eu entrei no quarto e não vi a cama, não vi nada, só vi aquilo tudo. Naquele momento, vi que o Bruno tinha ido embora", contou.
As modificações no quarto, de acordo com a mãe, a psicóloga Denise Borges, foram feitas durante 22 dias, período em que ela e o marido estavam viajando de férias. O acreano ficou em casa com o irmão gêmeo Rodrigo Borges e Gabriela, irmã mais velha. Durante todo o período, os irmãos perceberam que a porta do quarto permanecia sempre trancada.
"Ele falava que era o projeto dele e disse que iria me contar o que era em duas semanas. As pessoas falam: 'por que você não foi lá e abriu aquela porta?'. As pessoas têm que entender que não se tratava de uma criança. Ele é um adulto e tem a privacidade dele. Me incomodava, mas eu não podia arrombar a porta", afirmou Gabriela.
Denise comenta que o filho havia falado, há bastante tempo, de um projeto em que estava trabalhando e para o qual precisaria de dinheiro. Em resposta, ela falou que patrocinaria se soubesse de que se tratava, pedido que foi rejeitado. A mãe disse que Bruno iniciou a produção em 2013 e, há um ano, passou a se dedicar na finalização.
"Ele dizia que era secreto e não dei o dinheiro. Então, começou a procurar pessoas que acreditassem nele sem contar o que era o projeto. Só me falava que estava escrevendo 14 livros que iriam mudar a humanidade de uma forma boa. Ele me pediu um ano sem trabalhar para terminar e eu, orientada por um médico, deixei", disse.
O dinheiro para custear o projeto, R$ 20 mil, Bruno conseguiu com um primo, o médico oftalmologista Eduardo Veloso. A quantia foi transferida para a conta do jovem, mesmo sem saber dos detalhes.
"Na nossa primeira conversa, li umas 15 páginas do livro e, como gostei, falei que ajudaria. Durante uma conversa, percebi que ele tinha umas ideias que batiam, apesar de não me falar o que era o projeto em si, só me falou que era uma coisa inédita no mundo, que ninguém tinha feito isso e que ia ficar conhecido rapidamente", ressaltou.
Portal G1