sexta-feira, 21 de abril de 2017

Esta senhora parou um tanque em meio a protestos na Venezuela

"Valente" e até "heroica".

É assim que vários usuários de redes sociais descrevem uma mulher idosa que, com a bandeira da Venezuela amarrada no pescoço, parou sozinha um tanque na quarta-feira no centro de Caracas.

A cena foi gravada durante um dos protestos contra o presidente Nicolás Maduro, paralela a outros de apoio ao governo, em um dia que deixou vários mortos - três civis e um guarda - por ferimentos de bala.

A imagem da senhora venezuelana inevitavelmente lembra a do homem parado em frente a uma coluna de tanques, registrada em 5 de junho de 1989, durante os protestos na Praça da Paz Celestial, em Pequim, a capital da China - e que deu a volta ao mundo.

A identidade da manifestante não foi divulgada ainda, e não está claro se ela foi presa ou não.

A cena ocorreu na rua Francisco Fajardo, no centro da capital venezuelana, e vários fotógrafos a testemunharam.

De acordo com um deles, a mulher participava da manifestação pacificamente e estava muito perto das forças de segurança.

"Em alguns momentos, ela se manteve parada na frente das autoridades, que tentaram removê-la com jatos de água. Outros manifestantes tentaram levá-la para algum lugar protegido e também não conseguiram", diz um fotógrafo.

Quando o caminho começou a ser aberto para os tanques passarem, a manifestante decidiu dar um passo adiante e se colocar diante de um deles, diz o mesmo profissional.

"O oficial que conduzia o veículo a empurrou gentilmente com a intenção de movê-la, enquanto o outro que manobrava a arma de atirar gás lacrimogêneo jogava um cartucho de gás, ambos sem efeito", acrescentou.

"Toda vez que o tanque recuava para evitá-la, ela avançava", diz outro fotógrafo que registrou a cena, em que muitas pedras estão no asfalto.

"Alguém da imprensa tentou convencê-la a se afastar. Ela se recusou", disse ele, acrescentando que, em alguns momentos, a mulher parecia muito afetada pelos gases.

Em uma das imagens que circulam nas redes sociais, a venezuelana aparece cobrindo os olhos e nariz com um pano, de costas para o tanque, entre bombas de gás lacrimogêneo.

Outra imagem a mostra sendo levada em uma moto por dois guardar nacionais, já sem o boné e com o cabelo curto e grisalho à vista, embora não esteja claro se foi detida ou não.

O Fórum Penal da Venezuela, uma organização não governamental composta por mais de 200 advogados e que auxilia detidos e vítimas de violações dos direitos humanos, disse à BBC que não recebeu quaisquer queixas sobre a possível prisão da mulher.

Enquanto procuram-se mais dados sobre ela, algumas pessoas nas redes sociais já a alçaram a "símbolo da oposição a Maduro".

Um dia após o episódio, milhões de usuários compartilharam as fotos da mulher pedindo seu nome, elogiando sua atitude ou criticando-a.

"Essa é a nossa mulher venezuelana, bravo! Deus te abençoe, senhora, hoje e sempre", publicou na internet um dos líderes da oposição, Henrique Capriles.

No entanto, em fóruns venezuelanos, como o do jornal El Nacional no Facebook, internautas também se manifestaram contra a atitude da mulher, chamando-a de "irresponsável" ou "golpista".

Ela foi criticada por "querer aparecer" ao ir de encontro ao tanque.

A favor ou contra, a questão é que sua identidade permanece desconhecida.

Para Luis V., um dos milhares que comentaram sobre o assunto nas redes sociais, é melhor não saber quem ela é.

"Não é bom dizer seu nome. Para evitar perseguição. É melhor chamá-la Senhora Liberdade."

Entenda o que ocorre na Venezuela

O jornalista Max Altman, do Portal Opera Mundi, faz um resumo do que ocorre no país vizinho:

Abro o jornal na seção internacional e leio: “Atos anti-Maduro deixam 1 morto e feridos”. O que! A polícia de Maduro matou um manifestante? Nada disso. O morto foi um policial José Molina Ramirez, atacado a tiros por um bando violento no estado Miranda, governado pelo líder da oposição Henrique Capriles. Os feridos foram 120 e 147 os presos. A ação da polícia e das forças de segurança foi a de garantir que os atos fossem pacíficos e que as ações de violência e os violentos fossem contidos. Todas as ações violentas de que resultaram os feridos e os presos ocorreram nos estados. Em Caracas não houve qualquer problema. São os jornais oposicionistas, como o El Nacional, que informaram.

Vou ao editorial da Folha e leio “Sem acordo, a população venezuelana fica à mercê de um presidente [Maduro] fragilizado, sem condições de enfrentar problemas como o desabastecimento e a maior inflação do mundo – e incapaz de perceber que os 17 anos de regime chavista se transformaram numa catástrofe para o país.” A par o viés ideológico de não admitir um regime anticapitalista, Maduro está há três anos e meio na presidência, submetido a brutal campanha local e internacional para derrocá-lo, e se mantém firme à frente de seu país. Sem querer minimizar a gravidade da situação econômica, o desabastecimento está hoje melhor do que há dois ou três meses. O petróleo na faixa de 45 dólares o barril – e não mais em 22 dólares anteriores – permite ingressos suficientes para importar os produtos de primeira necessidade. Quanto à inflação, é em grande parte induzida pelos monopólios e oligopólios importadores que manipulam o câmbio.

O jornal anuncia a grande manifestação da oposição. Foi importante, mas abaixo das expectativas de seus dirigentes que, desta vez, não se aventuraram a divulgar números, quando na manifestação de 1º de setembro chegaram a falar de um milhão. A avenida Francisco Fajardo, local da concentração dos opositores na marcha “Tomada de Caracas” não teve sequer o fluxo de veículos interrompido. Enquanto isso – fato absolutamente ignorado pela nossa imprensa – simultaneamente estava ocorrendo uma grande manifestação de partidários do governo nas cercanias do palácio presidencial de Miraflores.

Já o colunista Clóvis Rossi, na mesma edição, em “Venezuela, a Síria das Américas” depois de desfilar alguns números alarmantes sobre a situação venezuelana, realça: “A crise no vizinho do Norte já não é apenas política ou ideológica; tem dimensões de catástrofe humanitária.”

Esta não é a opinião de Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal): “O país não está em uma crise humanitária, definitivamente não, temos que ter isso claro. Há escassez de certos produtos e tensão política, mas a Venezuela tem ainda muitos elementos para ser um país vibrante e economicamente pujante e está fazendo esforços para diversificar sua produção”, afirmou durante a XIII Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e o Caribe,. Que começou nesta terça-feira, 25, em Montevidéu. “A Venezuela está realizando esforços para diversificar a economia, que depende quase exclusivamente da renda petroleira”, acrescentou.

Bárcena também explicou que na Venezuela houve numerosos avanços sociais, pois “não é possível esquecer que tiraram muita gente da pobreza”.

Desde outubro de 2014 o preço do petróleo começou a baixar, gerando perdas para a economia venezuelana. A estimativa da Cepal para o próximo ano, no entanto, é de um melhor crescimento.

Segundo dados do organismo, a economia vai registrar uma contração de 8% este ano, e de 4% em 2017, “devido à recuperação do preço do petróleo”, comentou.

Segundo a secretária-executiva da Cepal, o presidente venezuelano Nicolás Maduro tem realizado esforços para estabilizar os preços do petróleo “e isso é uma ação positiva”.

“A Venezuela está cumprindo com seus compromissos da dívida, com os pagamentos internacionais, portanto não está em default, continua recebendo financiamento e créditos, talvez a um alto custo, mas continua recebendo”, explicou.

Nos últimos 18 meses o país pagou US$40 bilhões em compromissos financeiros e internacionais.


Com informações da BBC Brasil e do Portal Opera Mundi