Garantir a preservação das espécies locais e alimentos saudáveis para a população são os principais benefícios das sementes crioulas, que em Pernambuco, vem sendo cultivadas e protegidas pela agricultura camponesa. Os bancos de sementes estão sendo disseminados por todo estado, a partir da parceria entre as famílias agricultoras, ONGs e sindicatos. Essas sementes nativas são o enfrentamento ao avanço dos transgênicos e biofortificados na região.
Guardar as sementes de avós e pais é costume para muitas famílias, caso de Maria Álvaro, agricultora e agente comunitária de saúde no município de Angelim. Ela mora no Sítio Várzea Dantas e integra o Banco de Sementes Crioulas do Coração, que já existe há quatro anos, mas foi melhorado em 2015. “ Essas sementes são conservadas por muitos anos. Elas vão passando de pai para filho e a gente vai guardando para não se perder. Elas não são transgênicas e não tem agrotóxico. São sementes da terra, que quando a gente planta, dá 100%. Por isso, precisamos proteger”, afirma.
Sementes crioulas de vários tipos de milho, feijão e fava ficam guardadas nos bancos das comunidades. Maria Álvaro conta que no começo do banco eram cerca de seis produtores. Hoje, após capacitações e melhoramento do local de armazenamento, já são 20 famílias. Na época de plantio, as pessoas integrantes do banco comunitário podem pegar as sementes e depois precisam devolver em dobro. Assim garantem sementes para toda comunidade no próximo período de fazer a plantação.
No Sítio Cachoeirinha de Carvalhos, município de São João, a preservação das sementes nativas, por meio dos bancos de sementes, era algo desconhecido, segundo Margarida Maria, agricultora e presidente da Associação de Produtores Rurais São Miguel. O banco de sementes da comunidade onde ela mora foi criado em 2015. “No primeiro ano, conseguimos sementes e participamos da feira dos bancos de sementes. São 20 pessoas inseridas na casa. Conseguimos sementes que nem imaginávamos que existia. Antes, a gente comprava as sementes que viam do Governo, que eram transgênicas. Agora, os agricultores estão com muito interesse nas sementes nativas”, conta.
Ao passar pela feira, Margarida conta que muitas mulheres querem as sementes crioulas e que há grande procura por plantas medicinais também. A expectativa é que, no próximo ano, as sementes sejam plantadas e deem boas colheitas. As famílias estão animadas, de acordo com a agricultora.
Nayra Oliveira, técnica do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), no município de Bom Conselho, faz parte da Rede de Sementes Crioulas do Agreste Meridional de Pernambuco (SEMEAM) e fala da importância de fortalecer as redes de trocas e preservação das sementes na região. “Ao longo dos anos, as famílias vêm perdendo o hábito e deixando de guardar suas sementes, passando a comprar as sementes comerciais. Nossos colegas perceberam que os agricultores falavam que alguns tipos de feijão e milho não se via mais. Por isso, surgiu a ideia da feira de troca de sementes do Agreste Meridional. Esse ano, fizemos a terceira edição”, explica. Nayra comenta ainda a grande diversidade de alimentos que pode ser preservada. “Só aqui no Agreste Meridional, são cerca de 19 tipos de feijão e 8 tipos de fava. Imagina no Sertão?”, observa.
Brasil de Fato
Repórter: Elen Carvalho