O golpe do “boa noite, Cinderela” cresceu nos últimos meses nas festas LGBT do centro de São Paulo a ponto de gerar uma campanha de alerta para o público.
Só na boate L’Amour, onde são feitas as festas Tenda e Rebobinghts, e nos arredores da rua Bento Freitas, onde fica o estabelecimento, o BuzzFeed Brasil ouviu três relatos de vítimas desses ataques. Em um deles, a vítima foi dopada e ainda ingeriu um drink de uísque com guaraná, batizado com pó de vidro.
Segundo o delegado Eduardo Luis Ferreira, do 4º Distrito Policial de São Paulo, são registrados cerca de três crimes desse tipo semanalmente na delegacia, que atende a região da boate.
“Temos muito problema de subnotificação”, alerta o delegado, para quem esse tipo de criminoso “age sozinho”, sem fazer parte de grandes quadrilhas. No centro, a maior parte das vítimas é homossexual.
Pelos relatos das pessoas que sofreram o golpe, o método é o mesmo: um homem se aproxima como numa paquera e a vítima ou se distrai e tem seu próprio copo “batizado” ou acaba aceitando a bebida alheia com a droga.
No ano passado, o gerente de restaurante J. foi vítima desse tipo de ataque. Junto com o “boa noite, Cinderela”, os ladrões colocaram pó de vidro em sua bebida. Ele não deu queixa na polícia e só descobriu que tinha ingerido pó de vidro três dias depois do ataque, quando vomitou sangue. “Fiquei duas semanas doente”.
J. foi abordado por dois homens e, durante a conversa, um deles chegou com três copos de uísque e guaraná. Ele não desconfiou de nada. O gerente conta que os ladrões levaram seu cartão de crédito, mas não conseguiram tirar dinheiro. “Meu cartão era uma navalha. Estava no limite do limite. Tinha R$ 30 só”.
O biólogo Rafael, 27, estava diante da L’Amour quando foi abordado por um rapaz. Achou que fosse paquera. O homem o acompanhou até o bar da esquina para comprar cigarros.
“Lembro de vários flashes. Acho que ele colocou algo na minha cerveja quando eu dei o copo para ele segurar enquanto eu ia acender meu cigarro”, contou o biólogo.
O ladrão roubou R$ 3,4 mil com retiradas de dinheiro e do cartão de crédito, além do celular do biólogo. O banco se recusou a reembolsar Rafael e ele fez uma vaquinha com os amigos do Facebook para recuperar o prejuízo.
Quando prestou queixa, em uma delegacia de Pinheiros, Rafael se sentiu constrangido de contar toda a história. Não disse que foi um “boa noite, Cinderela”, nem que era gay.
“Não contei a história para não ouvir aquilo de ‘vocês bebem muito, são promíscuos’. Já aconteceu com meus amigos”, desabafou Rafael.
Com informações do Buzz Feed Brasil