quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Moradores de Bauru relatam pânico e cidade vazia após fuga de detentos

A administradora Nadia Bicarato trabalhava na unidade do Poupatempo, na Avenida Nações Unidas, uma das principais de Bauru, interior de São Paulo, quando foi alertada pela segurança do local de que acontecia uma rebelião no CPP 3 (Centro de Progressão Penitenciária) e muitos presos tinham fugido em direção à cidade. "Nisso a gente já estava recebendo um monte de mensagens pelas redes sociais e as pessoas que estavam sendo atendidas também começaram a contar que tinha havido fuga em massa e que os presos estavam vindo para o centro. Nossa unidade fica numa avenida movimentada, e vimos que as lojas e outros estabelecimentos estavam fechando", relata.
O CPP fica a 5 quilômetros da cidade, na margem da rodovia Comandante João Ribeiro de Barros, e a fumaça que saía do presídio já era vista do centro. "Nesse momento, havia uma mobilização muito grande da Polícia. Tinha viaturas, helicópteros, policiais, aí criou o pânico. As ruas começaram a ficar vazias, a cidade estava parando. Foi quando consultei a direção do Poupatempo e foi recomendado que fechássemos as portas principais." Segundo ela, o atendimento não foi interrompido, porque a porta lateral permaneceu aberta e, assim que a situação acalmou, as outras foram reabertas. "Mas o movimento caiu, as pessoas que tinham sido atendidas saíam olhando para os lados, visivelmente assustadas. O movimento continuou baixo a tarde toda, acho que as pessoas preferiram ficar em casa."
Nádia conta que ligou em sua casa e também para os pais, pedindo que não saíssem. "Percebi que todo mundo estava fazendo a mesma coisa, principalmente porque saíram boatos nas redes sociais que o shopping tinha sido invadido, estavam havendo arrastões, tinha tiroteio e gente morta." O taxista Vicente Peres Junior relata que ele e os colegas foram avisados pelo rádio que os presos estariam armados com foices e facões e ameaçando motoristas para pegar os carros para a fuga. Ele, que mora na Vila Santo Antonio, deixou o ponto e foi para casa. "Não ia adiantar ficar trabalhando e correndo risco", disse.  
Funcionário de uma lotérica e assustado com a movimentação, Luis Claudio Duarte pediu ao gerente que fechasse as portas e ele atendeu. "Em condições normais já há risco, imagine com um monte de preso solto na rua."
Expediente suspenso. O clima de tensão na cidade, de 350 mil habitantes, levou a prefeitura a suspender temporariamente o atendimento ao público nos serviços municipais, no final da manhã. De acordo com nota, a suspensão foi determinada "como medida de precaução em razão da rebelião no CPP 3 e consequente fuga de detentos". Segundo a prefeitura, as unidades de saúde e os atendimentos de urgência e emergência não foram afetados, assim como o funcionamento interno das repartições. Por determinação do prefeito Clodoaldo Gazzetta (PSD), as atividades foram retomadas a partir das 14 horas.
Boatos. O clima de tensão e os boatos levaram a Polícia Militar e as empresas a emitir notas desmentindo informações que circulavam pelas redes sociais como a da invasão de shoppings e de um hipermercado, com a tomada de reféns. Ainda segundo a PM, houve três roubos na cidade durante o período da rebelião, mas não era possível estabelecer ligação com os fatos.
A polícia confirmou que um carro foi roubado para os presos fugirem, porém, o veículo foi recuperado. Segundo a PM, não houve mortes, apenas alguns feridos sem gravidade durante o motim. 
Como ainda havia presos foragidos, a orientação era para que as pessoas tomassem cuidado, mas sem motivo para pânico, já que os fugitivos estariam, em sua maioria, na zona rural do município. 

Estadão