Executivo de uma das maiores empreiteiras do país, o engenheiro Marcelo Odebrecht concluiu, nesta terça-feira, as negociações em torno da delação premiada que presta à Justiça Federal do Paraná, no âmbito da Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF). Odebrecht, segundo documentos vazados à mídia conservadora, teria revelado o pagamento de propina ao presidente de facto, Michel Temer, no total de R$ 10 milhões, em um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República.
Além de Temer, o do atual chanceler José Serra (PSDB-SP) também consta no rol dos implicados na receptação de propina. Marcelo Odebrecht informou à Justiça que o senador tucano foi beneficiário de uma doação clandestina de R$ 23 milhões, paga, em parte, no exterior. Se não bastasse o envolvimento dos dois principais articuladores do golpe de Estado, em curso no país, ao lado do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Odebrecht aponta a transferência de dinheiro sujo para o ministro provisório das Comunicações e da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, fundador do PSD, legenda que sustenta a iniciativa golpista, no Congresso.
“O nome de Kassab surgiu em declarações preliminares de executivos. Os procuradores não aceitam, porém, a tese da empreiteira, adotada também para outros políticos, de que tudo não passou de caixa dois para campanhas eleitorais”, disse colunista de um diário conservador paulistano.
Temer citado
A delação de Marcelo Bahia Odebrecht aos procuradores da Operação Lava Jato, recém-validada em juízo, revela a participação do presidente de facto, Michel Temer, em operações ilícitas do PMDB, nas últimas décadas. A participação de Temer no esquema de corrupção pontua os discursos dos principais líderes da resistência ao golpe de Estado.
Nos eventos realizados no país, nos últimos dias, por mais de 100 entidades e movimentos populares, incluindo a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, além da presença de figuras políticas importantes como a presidenta Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Roberto Requião (PMDB) e o pré-candidato à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT), a denúncia tem sido repercutida como mais uma prova dos interesses escondidos por trás do golpe, o de deter a Operação Lava Jato.
O segundo a cair na malha fina da Lava Jato foi o senador José Serra. O candidato derrotado por Dilma Rousseff, em 2010, já havia deixado pegadas no lodo do escândalo conhecido como ‘Privataria Tucana’ e, dessa vez, foi apontado como beneficiário do dinheiro ilícito apurado nas obras viárias do Rodoanel, pagas por Marcelo Odebrecht. Em sua defesa, disse apenas que nunca autorizou ninguém a falar em seu nome, sem admitir, ou negar, os fatos.
Em sua delação premiada, Marcelo Odebrecht detalhou o caminho dos R$ 23 milhões recebidos por Serra durante a campanha presidencial de 2010. Parte dos recursos avaliados, hoje, em R$ 34,5 milhões, decolou de contas no exterior, o que implicaria na cassação do registro do PSDB, uma vez aplicada a Legislação Eleitoral brasileira. Ou pior. Serra poderá ser preso, caso as doações sejam originárias de propina e desvios de recursos públicos da Dersa, a estatal paulista responsável pela construção do Rodoanel, uma vez que a Odebrecht também apontou corrupção na construção do Rodoanel e supostos intermediários de Serra na arrecadação de propinas.
Embora o chanceler golpista negue irregularidades e diga que sua campanha captou apenas recursos legais, o executivo afirma dispor dos recibos de pagamentos feitos no exterior. Nesse caso, caberá ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciar Serra e abrir uma nova vaga no ministério de Temer.
Correio do Brasil