Tão logo se tornou presidente interino, em maio, Michel Temer adiantou que, caso fosse efetivado no cargo, convocaria sua mulher, Marcela, para assumir alguma função na área social.
— Ela virá para a área social. Vai trabalhar intensamente — declarou, reforçando que ela é advogada e muito preocupada com as questões sociais.
Primeira-dama de fato desde quarta-feira, quando Temer foi empossado, Marcela passará em breve a atuar no “Criança Feliz”, nome ainda provisório, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social. O foco do programa, que será lançado na terceira semana de setembro, em um grande evento no Palácio do Planalto, será o atendimento às 4 milhões de crianças de zero a quatro anos do Bolsa Família.
O ministro Osmar Terra, idealizador do programa, conta que as crianças de até mil dias (pouco menos de três anos) serão atendidas em casa, semanalmente, para avaliação médica, pedagógica e psicológica. Depois desta etapa, até completar quatro anos, as visitas passarão a ser quinzenais.
— Como foi dito há alguns meses pelo presidente, Marcela assumirá seu primeiro desafio no governo atuando neste programa social. É mãe e tem todos os predicados para ajudar nesta área — disse um auxiliar presidencial.
Desde a semana passada, o governo está buscando formar um grupo de assessores que trabalhará com a primeira-dama. Ainda não há definição se Marcela terá um gabinete no Planalto.
O programa começará a ser implantado em dez cidades, como projeto-piloto, entre elas, Boa Vista, Arapiraca (AL), e Pelotas (RS). Para o ano que vem está previsto um orçamento de R$ 300 milhões. Este valor, segundo Osmar Terra, poderá chegar a até R$ 800 milhões.
— Com velocidade, acontecerá em todos os municípios. Haverá uma grande capacitação de gestores e depois uma seleção em nível municipal — afirmou o ministro.
Terra atuará novamente, depois de mais de 20 anos, em parceria com uma primeira-dama. Ele foi secretário-nacional do Comunidade Solidária, criado por dona Ruth Cardoso, mulher do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O programa tucano, que atuava em parceria com a iniciativa privada no combate à exclusão social e à pobreza, foi substituído em 2003 pelo Fome Zero da primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Marcela e o filho caçula do casal, Michelzinho, deixaram São Paulo, onde moravam, e mudaram-se para Brasília em julho, pondo fim ao desconforto de Temer, que, desde que assumiu a Presidência interinamente, demonstrava preocupação com o fato de Marcela e o filho do casal permanecerem morando na residência da família em São Paulo — que foi alvo de protestos de manifestantes contra o impeachment de Dilma Rousseff. Temer havia criado a rotina de embarcar ao encontro da mulher e do filho às sextas-feiras, quase sempre na hora do almoço.
Após a mudança, a primeira-dama passou a ter na capital uma rotina discreta e, até o momento, participou de apenas uma solenidade oficial ao lado de Temer. No começo deste mês, o acompanhou a um ato de promoção de militares. Dias antes da solenidade, ela acompanhou o filho ao primeiro dia de aula. Temer decidiu em cima da hora ir até a escola para buscar Michelzinho.
Reservada, Marcela não ficou satisfeita com a exposição familiar. Já na solenidade de promoção dos militares, foi Temer quem não gostou das repercussões. Reclamou a auxiliares próximos dos vídeos e fotos em que Marcela se desequilibra e se apoia em seu braço ao descer a íngreme rampa que dá acesso ao Salão Nobre do Palácio do Planalto.
— Marcela é jovem e bonita. Natural que chame atenção e haja curiosidade. Ela terá uma boa atuação numa área que gosta — comentou um auxiliar palaciano.
Jornal Extra (Rio)