Da esq. para dir: Karine Garcêz, Sandra Guimarães e Carlos Latuff
Estive na tarde do segundo dia do seminário A Questão Palestina e os Direitos Humanos e o clima era de expectativa para o debate da noite, que você pode ver no vídeo aqui. Chegando ao Centro de Educação da UFPE, onde ocorreu o evento, vi expostas várias bandeiras e Keffiyeh (tecidos em xadrez usados como símbolo da resistência de palestinos e aliados). O público vinha chegando e entre os presentes, muitos jovens, a maioria de estudantes de várias faculdades ligadas à UFPE e ativistas das mais variadas causas.
No hall próximo ao auditório havia uma exposição fotográfica, com imagens de Karine Garcez, uma das convidadas, e de Aline Baker. Garcez é cearense, vive em Fortaleza e é muçulmana convertida. Baker, por sua vez, é neta de refugiados palestinos. Elas fotografaram entre os anos de 2012 e 2015 regiões da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. A seguir algumas das fotos da exposição:
Convidados - Conversando com a artesã, fotógrafa e relações internacionais Karine Garcez, a curiosidade me fala mais alto e acabo perguntando como é a vida de uma muçulmana no Brasil. "Me sinto discriminada, sim, infelizmente", afirma e quando viaja para a Europa sempre tem sua bagagem revistada mais de uma vez por policiais. Por conta disso, passou a manter em Fortaleza o projeto Mulismah, onde ela vai para escolas e faculdades para explicar o que é o Islã e desconstruir a imagem de "fanáticos" e "terroristas" ligadas à religião. Outro fator muito comentado é o fato de que a mulher é oprimida na cultura islâmica. "Por incrível que possa parecer, em países como Líbia e Egito, o movimento feminista é muito forte e assim como no ocidente, a luta é constante, pois como disse Simone de Beauvoir, 'os direitos das mulheres não são direitos permanentes'".
A ativista Sandra Guimarães é potiguar e trabalha como cozinheira vegana. Leva "uma vida cigana", como ela mesma diz, viajando entre o Brasil, a Europa, a Palestina e o Líbano. Orgulha-se de ser uma ativista de várias causas: Direitos Humanos, Veganismo, Direitos dos Animais, Feminismo, Movimento LGBTQ e na Palestina, deu aulas de cozinha típica vegana para as comunidades locais. Tamanha ligação com o ativismo tem um motivo principal. "Comer é um ato político. Precisamos ver o que estamos comendo, ver que não só a fêmea humana, mas até a fêmea animal é explorada: o leite das vacas, os ovos das galinhas. É muito séria essa questão do que colocamos na mesa pra nossa família comer", afirma.
O terceiro convidado da tarde, o chargista Carlos Latuff, contou que aderiu à causa palestina em 1998 ao viajar para a região e descrever que a comunidade sofre "um verdadeiro apartheid". Latuff ainda afirmou que "a visão da imprensa 'oficial' é muito diferente da realidade e que só se sabe da verdade quando se a vive". Carioca de 47 anos, tem seu trabalho mais conhecido fora do Brasil (principalmente em países do Oriente Médio e do Norte da África), e seus traços retratam o ponto de vista dos marginalizados: "Ninguém chora pela periferia, não se chora pelo iraquiano, pobre, favelado, marginal, eles sempre serão retratados como 'gente do mal'". Ao ser perguntado se não temia ameaças, respondeu "você pode até matar o artista, mas a arte nunca será morta". Seu engajamento pela causa é tamanho, que ele já foi chamado de "terrorista" e "antissemita".
Além de debates, palestras, vídeos e da exposição fotográfica, o seminário foi encerrado com um jantar árabe-vegano no restaurante Papa Capim, com os pratos preparados pela Sandra Guimarães.