Nabor Coutinho de Oliveira Junior, de 43 anos, lutava na Justiça contra uma dívida de R$ 20 mil com uma empreiteira. Ele comprou um apartamento no condomínio Villa Mare, na Barra da Tijuca, mas a construtora cobrou cerca de R$ 20 mil de cada condômino por despesas extras. Esse valor é contestado pelos moradores. Por causa da cobrança, Nabor não poderia vender o apartamento, mas estava liberado para morar ou alugar. A advogada responsável pela ação, Bruna Kamaroz Benisti, 32 anos, afirma que não acredita que haja relação entre a dívida e a tragédia.
— Não existe nenhum link com o que aconteceu. Era um problema que ele estava tentando resolver. Ele sempre me mandava e-mails, parecia ter pressa para resolver. O último foi no fim de junho — contou a advogada do escritório Nunes Ferreira Vianna Araujo Cramer Duarte Advogados.
Na manhã desta segunda-feira, Nabor foi encontrado morto no Condomínio Pedra de Itaúna, na Avenida Prefeito Dulcídio Cardoso, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde morava com a família. O corpo foi encontrado junto dos corpos dos filhos, Henrique, de 10 anos, e Arthur, de 6, no pátio. O pai teria se atirado da janela com os corpos das crianças. Elas teriam sido mortas a golpes de marreta. A ferramenta foi encontrada no quarto dos meninos.
Já a mulher, identificada como Laís Khouri, de 48 anos, estava morta no apartamento onde todos viviam, no 18º andar do Edifício Lagoa Azul. Ela teria sido esfaqueada enquanto dormia, informou o 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes). O corpo foi encontrado na cama. Vizinhos contaram a policiais que foram ao local depois de terem ouvido muita gritaria no apartamento da família por volta das 6h30min.
O problema da família com a construtora coneçou em 2012. A empresa entregou as chaves do apartamento, mas se negou a passar os imóveis para o nome dos condôminos. Segundo a advogada da família, que ainda representa outros clientes na mesma situação, o modelo de contrato da construção do prédio previa que todas as despesas fossem pré-aprovadas em assembleia junto aos condôminos. O valor cobrado pela empreiteira, segundo Bruna, não passou por essa avaliação e, por isso, é questionada judicialmente. A Justiça pediu uma perícia sobre os serviços que foram realizados e aguarda para dar uma sentença.
Carta
No apartamento foi recolhida uma carta que teria sido escrita por Nabor. Nela, são relatados problemas no trabalho e financeiros. Em um trecho, é citada uma incerteza em relação ao plano de saúde. A carta foi encaminhada para perícia, que determinará se a letra é mesmo de Nabor.
"Me preocupa muito deixar minha família na mão. Sempre coloquei eles à frente de tudo ante essa decisão arriscada para ganhar mais. Mas está claro para mim que está insustentável e não vou conseguir levar adiante. Não vamos ter mais renda e não vou ter como sustentar a família".
"Sinto um desgosto profundo por ter falhado com tanta força, por deixar todos na mão. Mas melhor acabar com tudo isso logo e evitar o sofrimento de todos".
"Ainda não conseguimos contratar o novo plano de saúde. (...) Com o histórico médico de Láis e de Arthur, será que aprovam? Será que não vai ficar super caro?".
Jornal Extra (Rio)