O cirurgião plástico Ivo Pitanguy faleceu aos 90 anos no último sábado (06), no Rio de Janeiro. Pitanguy estava em casa, quando sofreu uma parada cardíaca, e não houve tempo para socorro.
O corpo de Ivo Pitanguy, o maior cirurgião plástico brasileiro, foi levado para ser cremado por volta das 18h deste domingo (7) no Memorial do Carmo, na Zona Portuária do Rio de Janeiro.
Durante toda a tarde, amigos, filhos e autoridades participaram da despedida do cirurgião. A cerimônia foi conduzida pelo Padre Omar Raposo, reitor do Santuário do Cristo Redentor e músico. Após as orações, Padre Omar cantou junto com os presentes a música "Peixe Vivo" ("Como pode o peixe vivo / Viver fora da água fria..."), que segundo ele era uma das favoritas de Pitanguy.
Sob aplausos, o caixão com o corpo de Ivo Pitanguy seguiu para a cerimônia de cremação. Ao longo do dia, várias coroas de flores foram enviadas, com mensagens de carinho à família.
Gisela Pitanguy, filha do cirurgião, falou com os jornalistas sobre a importância do pai e seus projetos. "São muitas mensagens que ele deixa. A grande contribuição dele é o olhar com o paciente, como um ser humano, não importava o tamanho da dor", disse.
Gisela contou que o pai estava escrevendo um livro técnico. Segundo ela, o trabalho iniciado por Pitanguy na Santa Casa de Misericórdia, onde pacientes de baixa renda são atendidos, vai continuar e deverá ser tocado pelo neto, filho de Gisela.
"O trabalho continua. O meu filho Antônio Paulo está no segundo ano da pós-graduação e dará essa continuidade. Ele [pai] estava escrevendo um livro que será lançado no final de agosto."
Ivo Pitanguy Filho comentou a trajetória do pai. "Meu pai viveu a vida intensamente. Estive com ele ontem [sábado], conversamos. Ele faleceu sereno, sem dor e em casa como ele queria. Perdemos uma pessoa imortal. Ele foi muito importante para a família, um grande amigo. Sempre muito otimista. Ele foi um patrimônio brasileiro."
Outro filho de Pitanguy, o artista plástico Bernardo Filho definiu o pai como "fonte" artística, e disse que ele mistura a personalidade de grandes gênios e figuras importantes da humanidade.
"Hoje ele é sem dúvida a estrela que mais brilha no céu. Quando um rei vai, fica o legado. Eu já chamava ele de rei. Ele dizia que quando vai um rei, vem outro. Mas não um rei como ele.
Ele traz a genialidade coletiva dos grandes gênios, como de Michelangelo, de Da Vinci. A bondade de Madre Teresa e a generosidade de Chico Xavier. Esse foi meu pai", definiu Bernardo.
O governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, também esteve no velório. "Ivo Pitanguy foi uma pessoa fantástica. Ele fez um trabalho fantástico na Santa Casa. O Brasil e o Rio de Janeiro morrem um pouco com a morte de Pitanguy. Ele foi uma pessoa que só tinha grandeza", disse.
Biografia - O médico Ivo Hélcio Jardim de Campos Pitanguy nasceu em Belo Horizonte (MG), no dia 5 de julho de 1926 e, com o passar dos anos, se tornou um dos mais renomados cirurgiões plásticos do mundo. Professor e escritor, foi membro da Academia Nacional de Medicina e imortal da Academia Brasileira de Letras.
Filho de Maria Stael Jardim de Campos Pitanguy e do médico-cirurgião Antônio de Campos Pitanguy, Ivo Pitanguy cursou medicina na Universidade Federal de Minas Gerais até o 4º ano. Sem interromper os estudos, transferiu-se para a Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para servir no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva, onde atuou na Cavalaria dos Dragões da Independência.
Sua formação cirúrgica começou no Hospital do Pronto-Socorro do Rio de Janeiro, atual Hospital Souza Aguiar. Como sua vocação era a cirurgia plástica, o jovem Pitanguy se inscreveu em concurso organizado pelo 'Institute of International Education', e ganhou uma bolsa de estudos como cirurgião residente do Serviço do Professor John Longacre, no Bethesda Hospital, nos Estados Unidos.
Após estágio em outros serviços de cirurgia plástica norte-americanos, retornou ao Brasil, onde foi convidado pelo professor Marc Iselin, que visitava o Hospital do Pronto-Socorro do Rio de Janeiro, para ser seu assistente estrangeiro em Paris. Permaneceu durante dois anos na capital francesa, antes de dar seguimento à sua formação profissional no Reino Unido.
Ali, percebeu a importância de transmitir os conhecimentos adquiridos, lembrando sempre da importância social da especialidade, que começava a surgir no Brasil. Pitanguy criou o Serviço de Queimados do Hospital do Pronto-Socorro e o primeiro serviço de cirurgia de mão e de cirurgia plástica reparadora da Santa Casa.
Foi professor de cirurgia plástica da Universidade Católica do Rio de Janeiro e do Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas. Em 1961, com a colaboração de médicos residentes, atuou no atendimento às vítimas do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, em Niterói, o que deu visibilidade à importância social da especialidade. A tragédia matou mais de 500 pessoas e deixou mais de 800 feridos com sequelas por queimaduras.
Inaugurou a Clínica Ivo Pitanguy em 1963, que se transformou em referência nacional e internacional para a cirurgia plástica. Em 2014, lançou sua biografia Viver Vale a Pena, na qual relembra fatos e pessoas que tiveram destaque em sua vida.
Em sua página na internet, a jornalista Hildegard Angel ressaltou dois traços do caráter do cirurgião plástico brasileiro Ivo Pitanguy: a compaixão pelo próximo e a solidariedade. “O que particularmente faz de Ivo Pitanguy objeto de minha admiração é sua longa vida de dedicação ao próximo. Um homem de sua projeção e importância poderia ser indiferente ao mundo à sua volta, arrogante com os demais. Não é o seu caso. Sua sensibilidade o levou a se dedicar durante toda sua trajetória profissional a uma enfermaria na Santa Casa da Misericórdia, promovendo ali operações gratuitas. Corrigindo defeitos de nascença ou anomalias adquiridas em acidentes ou por doenças, em pessoas que não poderiam arcar com intervenções de alto custo”, mencionou.
Em sua última aparição pública, Pitanguy carregou a tocha olímpica na sexta-feira (5), véspera de sua morte.
Com informações do Portal G1 e da Agência Brasil