segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Capes corta 3 mil bolsas de estudo


Depois da extinção do programa de intercâmbio Ciência sem Fronteiras (CsF) para alunos da graduação, as notícias são desanimadoras também para quem batalha uma bolsa de pós-graduação no Brasil. Dos 7.408 incentivos que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) congelou em abril, conforme mostrou o GLOBO à época, 43% permanecem suspensos, sem previsão de serem reativados. O governo defende que os 3.221 auxílios foram bloqueados porque estavam ociosos. A justificativa, porém, é rebatida por estudantes de programas de mestrado e doutorado pelo país. Há quem já cogite desistir dos cursos.


Terminado o prazo de dois meses, de abril a maio, que o governo, ainda na gestão petista, abriu para analisar a eventual ociosidade dos programas, negando que se tratava de cortes, a esperança dos alunos era por uma normalização. Mas, das 7.408 bolsas suspensas, 4.187 foram reativadas. O número de benefícios congelados (3.221) representa 3,6% do total de 88.314 bolsas na Capes.

A tesourada em mais de três mil incentivos atrapalhou os planos de Patrícia Marques. Cearense de Tianguá, a jovem de 27 anos, recém-saída do mestrado, ingressou no doutorado em Ciência e Tecnologia de Alimentos na expectativa de obter a bolsa para custear os estudos. Ela conta que o programa de pós-graduação que cursa, na Universidade Federal do Ceará, perdeu duas das três bolsas Capes que tinha.

— Disseram que iam liberar as bolsas em junho. Cadê? Já mandei e-mail e carta para a Capes, tentando saber o que está acontecendo. Pior que as cotas da agência estadual de fomento também foram reduzidas. Não sei onde há bolsas sobrando — questiona Patrícia.
A doutoranda vive em Fortaleza sozinha. A família permanece no interior do estado e, segundo Patrícia, não tem condições financeiras de custear suas despesas. Ela conta que a conclusão do mestrado, ano passado, só foi possível devido à bolsa que recebia, usada para pagar os gastos básicos, como moradia, alimentação e transporte. Com tempo para se dedicar aos estudos, Patrícia conseguiu parcerias para desenvolver o projeto de beneficiamento da palma-forrageira, uma espécie de cacto, para alimentação humana.
— Não sei o que vai ser de mim. Se eu sair para trabalhar num emprego que exija 40 horas semanais, terei que desistir do doutorado, para o qual passei a vida inteira me preparando. Estou raspando minhas economias e contando com ajuda da minha avó e de algumas tias, mas uma hora elas não poderão mais ajudar — conta.

Jornal O Globo