Wendell Lira ouve seu nome, e a lágrima é instantânea. Atônito, pisa o palco sob olhares de reverência de uma constelação de craques. Num 11 de janeiro histórico, o goiano virou herói nacional ao conquistar o Prêmio Puskás de 2015, um Macunaíma do gol mais bonito do mundo. A honraria foi capaz de mudar sua vida, mas não suficiente para apagar suas desilusões no esporte. Quase 200 dias após desbancar até Lionel Messi em Zurique, na Suíça, o jogador de 27 anos abandonará o futebol para dar início a um novo sonho, agora no mundo dos games.
Em um evento na área VIP do Beira-Rio na tarde desta quinta-feira, o autor de uma pintura na vitória do Goianésia sobre o Atlético-GO, no Goianão do ano passado, anunciará o fim de sua carreira nos gramados. Migrará de um sonho a outro, para imergir de vez no mundo virtual. O agora ex-atacante lançará seu canal de games no YouTube. E passará a ser jogador profissional de videogame.
A mudança repentina não se trata de uma decisão espontânea, mas de um desejo íntimo, maturado pelas desilusões pessoais no futebol. Mas também pela paixão pelos games. Em paralelo com as arrancadas, dribles e gols – ou golaços –, os controles e consoles sempre fizeram parte de sua vida. E de seu coração.
– Teve vários fatores. Um dos principais foram minhas desilusões no futebol. Eu tive sérios problemas, cirurgias. Vim desgastado do futebol, pelas mentiras, pela sujeira. E, de repente, Deus me deu aquele prêmio maravilhoso, que ficou eternizado para o resto da minha vida. Saí por cima. Com a cereja do bolo. Apareceu algo muito bom fora do futebol, algo que nunca imaginei que pudesse surgir, mas que eu sempre sonhei para minha vida. É fora da realidade. Depois de mais uma desilusão no Vila Nova, acreditei nesse projeto e entrei de cabeça.
O novo ramo, sempre com o futebol intrínseco em suas veias, também representa uma mudança de ares. Ao abraçar o projeto de viver dos games, Lira deixou a Goiânia natal para viver na Zona Sul de Porto Alegre, em um apartamento com vista para o Guaíba. Ali, tem estruturado um estúdio para gravar seus vídeos e duelar no mundo virtual com gamers do mundo todo. O recanto é adornado com camisetas de clubes e imagens da premiação em Zurique. Claro, com espaço para o reluzente troféu com seu nome gravado na história.
– O projeto é montar um canal de Youtube. Na verdade, eu sempre olhei para o game como algo principal. Eu sempre fui apaixonado por futebol, mas antes já vinha o videogame. Sempre fui apaixonado. Ele faz parte na minha vida. Meu telefone toca até hoje com diretores de futebol me fazendo convites. Mas a decisão partiu de mim. O canal apareceu e eu decidi que era para largar o futebol. Até foi um susto para eles. Eu quero mostrar o Wendell como ele é. Não tentar me vender. Mas criar algo apaixonante, real, com que eu possa me identificar. Mostrar coisas que as pessoas nunca imaginaram – ressalta Wendell.
Lira dera uma palinha de suas qualidades no mundo virtual ainda em Zurique. Na Festa de Gala da Fifa, o goiano desafiou o campeão do mundo de "Fifa", Abdulaziz Alshehri, para um duelo. Precavido, mesmo tendo liderado o ranking Sul-Americano em 2015 e sido campeão goiano no game, o brasileiro armou com esmero sua equipe. O resultado? Vitória por 6 a 1 sobre o então melhor do mundo. Um feito, que inclusive, o leva a almejar o título em 2016.
– Foi engraçado, porque estava descendo para a cerimônia, e a organização me fez o convite. Na hora, eu pensei: "Não vou jogar, o cara é bom demais". Mas aí, me disseram que o Neymar e o Messi recusaram e que seria legal. Ele arrumou o time rápido, e eu demorei, troquei, mexi. Fiquei com medo do cara. Pensei: 'Vou dar uma segurada, que o cara deve ser bom". De repente, começou o jogo. Fiz 1, 2, 3, 4 a 0. Ele mexeu, fez um gol, mas eu fiz 6 a 1. Queria devolver, mas não teve jeito de fazer 7 a 1. Meu sonho agora é me tornar Campeão Mundial de Fifa. Quero me dedicar para conseguir esse título – ressalta.
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