Nos classificados, um casal que se diz de empresários, moradores apto. 202 do Condomínio Viver Castanheira, localizado na BR-316, perto do Viaduto do Coqueiro, ao lado da Amepa- Associação dos Magistrados do Pará, anuncia a "adoção" de menina de 12 a 18 anos, para morar com eles e cuidar de um bebê de um aninho.
A juíza - que através da Amatra8 desenvolve o projeto Trabalho, Justiça e Cidadania, justamente em prol da infância e da juventude - ligou pessoalmente, do telefone institucional, sem se identificar, e confirmou a veracidade da denúncia. A pessoa que atendeu ao telefonema disse que o casal precisava de uma babá "com as exigências que estavam no jornal" (criança de 12 a adolescente de 18 anos, que resida no emprego). Quando a magistrada perguntou se a candidata poderia ter mais de 18 anos, ouviu um sonoro "de jeito nenhum!". E na hora em que indagou o nome do contratante o homem desligou o telefone.
As juízas do trabalho Zuíla Dutra e Vanilza Malcher, que coordenam a campanha de erradicação do trabalho infantil do TRT8 e TST, já entraram em campo, também. Acionado com a cobrança de providências urgentes, o diretor geral da RBA, Camilo Centeno, prometeu que "tomaria as medidas necessárias imediatamente". Amanhã mesmo será instaurada investigação pelo Ministério Público do Trabalho contra as pessoas físicas e o veículo de comunicação, já adiantou a procuradora-geral do MPT, Gisele Góes, e o Ministério Público do Estado também deverá ajuizar uma ação.
Identificação - A Polícia Civil do Pará já identificou várias pessoas envolvidas no anúncio ofertando vaga de babá a meninas na faixa etária de 12 a 18 anos. Além do casal a que se refere, um homem que se diz advogado mas na verdade é rábula (advogado sem formação, algo que não é mais permitido no Brasil atual, era bastante comum no Brasil Império) afirma representar o casal, assumiu ter feito o anúncio e é dono de uma das linhas telefônicas publicadas, e mais uma quarta pessoa, dona de outra das linhas telefônicas veiculadas. O tal rábula já foi ouvido hoje, e amanhã o casal e o quarto envolvido serão intimados a prestar depoimento, assim como a direção do jornal Diário do Pará. A delegada Simone Edoron, titular da Diretoria de Atendimento a Grupos Vulneráveis, está à frente do caso.
O rábula contou uma história mirabolante. Que conheceu o casal em um acidente de trânsito, se compadeceu porque eles precisavam de uma babá para cuidar do bebê, que se ofereceu para fazer o anúncio e pediu para usar a linha da quarta pessoa. Não explica o porquê de tanto interesse. E, já que se apresentou como advogado, embora não seja, conhece a lei e não tem como justificar a exigência da faixa etária de 12 a 18 anos, muito menos a adoção ilegal.
Repercussão - Os dois anúncios para crianças e adolescentes denunciados aqui no blog, anteontem, alcançaram repercussão nacional, o que estimula a sociedade a ficar vigilante e ter conduta proativa no enfrentamento aos abusos cometidos diariamente contra a infância e a juventude. Não raro, o recrutamento de crianças e adolescentes envolve trabalho infantil, análogo ao escravo, adoção ilegal, maus tratos, tráfico humano e pedofilia. Muitos, tortura e morte, como já visto em casos medonhos que emocionaram o País e o mundo, como o da menina Marielma. O jornalista Douglas Belchior, que mantém uma coluna na revista Carta Capital on line em São Paulo e é membro do Conanda - Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, repercutiu a situação em matéria intitulada "Precisa-se de meninas para trabalho infantil e escravo".
Veja o anúncio que solicita uma adolescente pra cuidar do bebê, a outrora chamada "mucama":
Com informações da jornalista, advogada e ativista Franssinete Florenzano
Blog Uruá Tapera (PA)
Blog Uruá Tapera (PA)