Morreu aos 41 anos, Rachel Clemens Coelho, que virou símbolo da luta contra a ditadura militar (1964-1985) quando tinha apenas cinco anos. De acordo com o hospital Felício Rocho, Rachel foi atendida por médicos do pronto-atendimento, com quadro de parada cardiorrespiratória. Segundo a assessoria da unidade de saúde, foram realizados procedimentos de ressuscitação, mas ela não resistiu. O corpo foi velado na capital mineira e enterrado no Cemitério Parque da Saudade, em Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira. Ela deixa uma única filha, Clara, e uma história que acabou fazendo parte da vida brasileira.
Em setembro de 1979, no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro, a garota se recusou a cumprimentar o então presidente João Baptista Figueiredo (1979-1985), que visitava a capital mineira para lançamento do carro a álcool. O general-presidente tomou cafezinho no centro da cidade, fez um discurso, seguiu para o Palácio da Liberdade para almoçar com o governador Francelino Pereira (Arena) e autoridades do governo mineiro, tudo caminhando de acordo com o planejado.
Mas, para surpresa de Figueiredo, ao dirigir seu cumprimento para a menina, ela o rejeitou e permaneceu de braços cruzados. O pai de Rachel era funcionário do DER (Departamento de Estradas e Rodagens) de Minas Gerais, tinha sido convidado para o almoço e levado a filha ao evento.
Reencontro - A imagem do fotógrafo Guinaldo Nicolaevsky (1939-2009), militante de oposição ao regime militar, foi publicada por diversos jornais e revistas no Brasil e no exterior. Nicolaevsky procurou por Rachel antes de morrer e amigos fizeram campanhas nas redes sociais. Ela fora encontrada em 2011 quando sua foto foi parar em uma mensagem no e-mail de sua mãe.
Em entrevista à Rede Globo, em 2011, Rachel contou que estava ansiosa para falar com o general. O encontro aconteceu em setembro de 1979, em Belo Horizonte, quando Rachel tinha apenas 5 anos. Na entrevista, ela relembrou que, no dia anterior ao registro da fotografia, o pai dela havia comentado que iria almoçar com o presidente. Quando chegou lá, ela realmente conseguiu chegar perto do general. “Virei pra ele: ‘você sabia que você vai almoçar com meu pai hoje’? Aí todo mundo ficava assim: ‘dá a mão pra ele, dá a mão pra ele’. Eu detestei. Detesto que me mandem fazer as coisas. Não dei a mão porque eu não queria dar a mão pra ele, eu queria dar um recado pra ele”.
Vida Feliz - Rachel cresceu em Belo Horizonte, formou-se em comércio exterior, fez pós-graduação no Instituto Tecnológico da Aeronáutica e morou e trabalhou em vários países. Um de seus colegas, o designer Thiago Lopo, de 29 anos, trabalhava com Rachel em uma agência de design e tecnologia da informação, em Belo Horizonte. Ele conta que se encontraram na véspera da morte dela. “Ela estava ótima, conversando, rindo, contado caso”, diz. Ele ainda definiu Rachel como uma “companheirona”. “Extremamente alegre, muito engajada com a amizade, com a família, companheirona. Vai fazer bastante falta”, conclui.
Abaixo, a foto que acabou fazendo história. Figueiredo morreu em 1999, no Rio de Janeiro.
Com informações dos portais UOL e G1