A demanda acima do esperado pela primeira edição da revista de sátira política Charlie Hebdo após o ataque de semana passada em Paris fez com que a já recorde tiragem da publicação fosse ampliada de três para cinco milhões de exemplares, número mais de 80 vezes maior que a circulação normal de 60 mil.
Segundo relatos da mídia francesa, os exemplares disponíveis no país se esgotaram numa questão de minutos. Desde a madrugada, longas filas se formaram em frente a bancas de jornais em busca de um exemplar. Ainda estava escuro em Paris quando muitas bancas exibiam cartazes dizendo "Não temos a Charlie Hebdo".
Diversas cópias apareceram no site de vendas eBay e algumas tinham atingido a casa de R$ 3 mil - o preço de capa normalmente é cerca de R$ 10.
Autoria - Num vídeo divulgado na internet, o braço da organização terrorista Al Qaeda no Iêmen reivindicou nesta quarta-feira 14 o ataque terrorista contra o semanário satírico francês Charlie Hebdo.
No vídeo postado no YouTube, a Al Qaeda na Península Árabe (Aqap) usou os insultos contra o profeta Maomé feitos pelo jornal como justificativa para o atentado.
"Na abençoada Batalha de Paris, nós, a Organização da Al Qaeda na Península Árabe, reivindicamos a responsabilidade por essa operação como vingança pelo Mensageiro de Deus", disse Nasser bin Ali al-Ansi, da Aqap na gravação.
O atentado ao Charlie Hebdo, ocorrido há uma semana, foi realizado pelos irmãos Said e Cherif Kouachi e deixou 12 mortos. No ataque, os atiradores gritaram "vingamos o profeta" e Allahu Akbar (Deus é grande).
Cherif Kouachi estudou no Iêmen, onde frequentou campos de treinamento da Aqap, segundo fontes de segurança iemenitas e um colega de classe.
Críticas - Clérigos muçulmanos no Oriente Médio que condenaram o ataque da semana passada ao Charlie Hebdo criticaram o jornal francês nesta quarta-feira por publicar um cartum do profeta Maomé na sua primeira edição depois da ação extremista.
Na capa da sua “edição dos sobreviventes”, cujas milhões de cópias rapidamente se esgotaram na França, o jornal estampou o desenho de um choroso Maomé com uma placa e a mensagem “Je suis Charlie”, abaixo da manchete “Tudo é perdoado”.
Enquanto líderes muçulmanos ao redor do mundo condenaram com veemência o ataque que matou 12 pessoas, muitos disseram que a decisão de imprimir o novo cartum de Maomé era uma provocação que poderia causar mais tensão.
Esses cartuns “alimentam sentimentos de ódio e ressentimento entre as pessoas”, e publicá-los “mostra desprezo” pelos sentimentos muçulmanos, disse o grande mufti de Jerusalém e territórios palestinos, Mohammed Hussein, em comunicado.
O diário independente da Argélia Echoruk respondeu com um cartum próprio na primeira página, que mostrava um homem carregando a placa “Je suis Charlie” perto de um tanque militar esmagando placas da Palestina, Mali, Gaza, Iraque e Síria.
Sobre o desenho, a manchete: “Somos todos Maomé”.
Enquanto o Charlie Hebdo era denunciado em boa parte do Oriente Médio, houve notáveis exceções na Turquia, o país com a tradição mais forte de secularismo na região. O jornal de oposição Cumhuriyet imprimiu uma seção especial com trechos da edição do Charlie Hebdo.
O jornal imprimiu versões pequenas e em preto e branco da capa em duas de suas colunas, mas não usou a imagem na seção especial, depois de “muitas consultas”, disse o editor-chefe no Twitter.
A polícia isolou a sede do jornal em Istambul por causa das preocupações com segurança. No escritório do jornal em Ancara, manifestantes colocaram cartazes num muro perto que diziam: “A provocação do Charlie continua”.
Uma corte turca ordenou o bloqueio de alguns sites que reproduziram a capa do Charlie Hebdo.
O site de notícias T24, no entanto, publicou a imagem
"Isso se tornou um tema de liberdade de expressão, e não mais sobre sentimentos religiosos. Publicamos para defender os valores da expressão livre”, disse o editor Hazal Ozvaris
Choro - "Eu escrevi 'tudo está perdoado' e chorei", disse Renald “Luz” Luzier, que criou a capa, a jornalistas na terça-feira.
"Essa é a nossa primeira página. Não é a que os terroristas queriam que desenhássemos”, disse ele. “Não estou nem um pouco preocupado. Confio na inteligência das pessoas, na inteligência do humor.”
Com informações do Estadão, Agência Reuters, Portal R7 e BBC
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