Veículos de imprensa e analistas internacionais agora questionam como um caso desse porte teve uma repercussão tão pequena, especialmente em comparação ao ataque terrorista na França, ocorrido menos de uma semana depois.
O grupo radical islâmico nasceu de uma seita que atrai jovens do norte da Nigéria. Seus líderes são críticos em relação ao governo nigeriano e querem estabelecer a lei do Islâ no país. Além disso, condenam a educação ocidental e são contra mulheres frequentarem a escola.
Para Mohammed Yusuf, fundador da seita, os valores ocidentais, instaurados pelos colonizadores britânicos, são a fonte de todos os males sofridos pelo país. Segundo informações da agência AFP, o grupo recruta novos membros principalmente entre os "almajirai", estudantes islâmicos itinerantes, que não tiveram acesso a uma educação de qualidade. Também recebe apoio de intelectuais que consideram que a educação ocidental corrompe o Islã tradicional.
Desde 2009, o Boko Haram já invadiu centenas de vilas na Nigéria, onde proclamou um califado em agosto de 2014. Em alguns casos eles sequestram meninas e mulheres, para se casarem e servirem aos seus combatentes, em outros levam toda a população masculina de crianças e adolescentes para serem treinados como seus combatentes. A estimativa é de que nestes cinco anos eles já tenham matado mais de 15 mil pessoas no país.
O arcebispo da cidade nigeriana de Jos, Ignatius Kaigama, ouvido pela BBC, disse que a luta contra o extremismo no país requer o mesmo apoio internacional e espírito de unidade que foram demonstrados após os ataques de militantes na França. "Precisamos que esse espírito se multiplique, não apenas quando isso ocorre na Europa, mas também na Nigéria, no Níger ou em Camarões".
Diversos fatores, porém, ampliam as diferenças entre os dois casos. A ação do Boko Haram, que começou no dia 3 e possivelmente durou mais alguns dias, aconteceu em um lugar onde, segundo " The Guardian", praticamente não existe acesso à internet, jornalistas dificilmente circulam por medo de serem capturados e as informações costumam demorar um bom tempo para serem transmitidas, muitas vezes graças aos relatos imprecisos de sobreviventes. Por isso, quase dez dias depois, não há sequer uma foto ou vídeo que registre o massacre. Somado a tudo isso, o próprio governo nigeriano, a pouco mais de um mês das eleições presidenciais, parece preferir evitar o assunto.
A posição do presidente nigeriano, Goodluck Jonathan, tem sido especialmente criticada por analistas internacionais. Assim como o ministro da Economia da Nigéria, Ngozi Okonjo-Iweala, Jonathan usou seu perfil no Twitter no último dia 8 para se solidarizar com a população francesa e lamentar o atentado em Paris, mas não publicou uma única palavra sobre o ataque que aconteceu dentro de seu próprio país. No domingo (11), o presidente apareceu sorridente em fotos que circularam nas redes sociais celebrando o casamento de sua filha, Ine, realizado na véspera.
Os EUA, que, por meio de sua autoridade máxima, Barack Obama, condenaram prontamente o ataque na França, demoraram uma semana para se manifestar sobre o massacre na Nigéria. "Nós nos comprometemos a trabalhar com a Nigéria e os países vizinhos para pôr fim à praga do Boko Haram e solicitamos que tomem medidas para conter a milícia", afirmou o Departamento de Estado americano, em nota.
Sobreviventes
O ataque nas imediações de Baga teria começado na madrugada do dia 3, quando centenas de membros do Boko Haram chegaram já atirando à cidade. Segundo relatos, eles estavam em caminhonetes, nas quais carregavam diversas motos, que foram usadas para perseguir os moradores que tentaram fugir correndo ou se escondendo entre a vegetação. Muitos dos que se abrigaram em suas casas morreram queimados quando as construções foram incendiadas.
Algumas pessoas tentaram atravessar a nado o lago Chade para chegar ao Chade, país vizinho. A maioria se afogou, mas mais de mil delas estariam presas na Ilha Kangala, de acordo com a rede americana CNN, que diz que autoridades do Chade estão pedindo ajuda às Nações Unidas para resgatar esses sobreviventes, que enfrentam a falta de comida, frio e o risco de malária em um ambiente infestado por mosquitos.
Ainda segundo a CNN, foram feitas vítimas em 16 vilas, mas como a região está sob o poder do Boko Haram, ninguém pode ir aos locais para recolher os corpos ou tentar confirmar o número de mortos, com relatos que variam de centenas aos mais de dois mil. Cerca de 30 mil moradores dessas vilas teriam sido deslocados, com 20 mil acampados na cidade de Maiduguri e outros 10 mil levados a Monguno, a aproximadamente 60 quilômetros de Baga.
O ataque nas imediações de Baga teria começado na madrugada do dia 3, quando centenas de membros do Boko Haram chegaram já atirando à cidade. Segundo relatos, eles estavam em caminhonetes, nas quais carregavam diversas motos, que foram usadas para perseguir os moradores que tentaram fugir correndo ou se escondendo entre a vegetação. Muitos dos que se abrigaram em suas casas morreram queimados quando as construções foram incendiadas.
Algumas pessoas tentaram atravessar a nado o lago Chade para chegar ao Chade, país vizinho. A maioria se afogou, mas mais de mil delas estariam presas na Ilha Kangala, de acordo com a rede americana CNN, que diz que autoridades do Chade estão pedindo ajuda às Nações Unidas para resgatar esses sobreviventes, que enfrentam a falta de comida, frio e o risco de malária em um ambiente infestado por mosquitos.
Ainda segundo a CNN, foram feitas vítimas em 16 vilas, mas como a região está sob o poder do Boko Haram, ninguém pode ir aos locais para recolher os corpos ou tentar confirmar o número de mortos, com relatos que variam de centenas aos mais de dois mil. Cerca de 30 mil moradores dessas vilas teriam sido deslocados, com 20 mil acampados na cidade de Maiduguri e outros 10 mil levados a Monguno, a aproximadamente 60 quilômetros de Baga.
Em tempo: o nome Boko Haram significa "A Educação Não-Islâmica é um grave pecado"
Portal G1