A tosse persistente durou cinco meses. Incomodava a ponto de não deixar dormir. Um dia, a causa do incômodo foi revelada. Eric de Santana Ferreira tinha 15 anos. Não imaginava, mas o diagnóstico mudaria os planos alimentados a partir da infância. Sete anos se passaram desde aquele dia. Na segunda-feira (26), Eric postou um longo texto no Facebook. Começava assim: “Pois é, galera, passei! Passei em Medicina”. Até esta quarta-feira (28), 679 pessoas curtiram a tal postagem. Outras 188 deixaram seus comentários. A repercussão daquele amontoado de palavras na rede social escrita por um fera não aconteceu à toa. É que Eric parece ter desenvolvido uma fórmula para enfrentar notícias pessimistas. Mas, para entender a história do estudante, é preciso voltar no tempo mais uma vez.
Inicialmente, os médicos disseram que a tosse de Eric era sintoma de uma virose. Até receita de xarope a família do então adolescente levou para casa. A busca pela cura somente começou a surtir resultado a partir do diagnóstico correto feito por uma pneumologista. Não era apenas a tosse um dos sinais da doença que tomava o adolescente. O pescoço estava repleto de caroços salientes. Na verdade, Eric tinha linfoma de Hodgkin, um câncer que se origina nos linfonodos (gânglios) do sistema linfático. Juntamente com o linfoma não-Hodgkin, são os dois tipos mais comuns de câncer que podem acometer o sistema linfático. Só que o linfoma de Hodgkin é menos recorrente.
Era o ano de 2008 quando a notícia surgiu e Eric já havia planejado o ano seguinte: cursaria o terceiro ano do Ensino Médio, faria o vestibular de jornalismo, sonho alimentado desde criança, e ainda seria protagonista de duas peças de teatro. Na agenda imaginária de Eric não havia tempo para hospitais, quimioterapias, radioterapias. Mas o mundo gira, como ele próprio diz. Às vezes, de forma radical, sem deixar nem tempo para respirar.
Em seis meses, foram 12 sessões de quimioterapia e 17 de radioterapia. A primeira delas aconteceu em 1° de julho e durou sete horas. Sem condições de aventurar a saúde em ambientes públicos comuns para adolescentes, não sobraram muitas alternativas para Eric. Então ele começou a estudar mais do que normalmente fazia.
O resultado foi a conquista de uma vaga de jornalismo ainda no segundo ano. Agora em fevereiro ele conclui o curso e leva o diploma para casa. Mas não é mais o jornalismo que move suas expectativas como na época de criança, quando fez um jornalzinho para a escola. A doença mudou tudo para Eric. E agora ele deseja mudar também a vida de outras crianças com câncer.
A decisão de buscar o curso de medicina aconteceu em 2012, durante um intercâmbio de jornalismo em Nova York. “Imagine a mãe de uma criança com câncer ter seu filho atendido por um médico que teve câncer. O fato de ter ficado doente influenciou 90% na decisão de mudar de profissão”, conta. Ele conquistou uma vaga na Universidade Federal da Paraíba e na Faculdade Maurício de Nassau, mas vai optar pela primeira. “Pretendo continuar morando no Recife. Vou e volto todos os dias”, avisa.
Formado médico, Eric diz que vai poder contar a seus pacientes da oncologia pediátrica a fórmula para enfrentar notícias pessimistas. “Sei que o câncer tem um forte estigma de morte. Mas é isso que faz com que as pessoas fujam de exames de rotina e não encontrem a cura com antecedência. O remédio é a esperança. Sabia que ia me curar pela minha postura. É isso que quero passar para as pessoas”. Na postagem, Eric brinca e diz que o câncer mexeu com a pessoa errada. “Superei e vou fazer meu máximo pra que outras crianças também superem! Vai dar tudo certo e vou botar muito guri curado nesse mundo!”. Acho que agora ninguém mais duvida de Eric.
“Me sinto privilegiado. O câncer me fez ver a vida de outra forma. Passei a minimizar os problemas. Tudo é menor em relação à possibilidade de morrer. O câncer é uma doença, mas quando a cura surge é um presente.”
Diario de Pernambuco