Assim que os eleitores confirmaram, nas urnas, a vitória dos comunistas gregos liderados por Alexis Tsipra, responsáveis políticos europeus mostraram, nesta segunda-feira, que têm intenção de negociar com o Governo que vier a ser formado pelo Syriza. Diante do programa econômico que a nova coalizão de esquerda adotará, no entanto, os credores europeus assinalaram que os acordos assinados no passado pela Grécia “são para cumprir”, o que dificilmente acontecerá, da forma como imaginam.
Segundo o professor Renato Janine Ribeiro, catedrático de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo, “a direita no poder foi uma calamidade não só social, mas também econômica. Aumentou a proporção da dívida em relação ao PIB. Ou seja, a intervenção conservadora europeia na economia grega – o grupo que em Portugal, sujeito ao mesmo absurdo, é chamado de tróika – só piorou as coisas”.
“Obviamente, o que Merkel e acólitos queriam era, não resolver a situação grega, mas destruir o país, como exemplo para quem desafiasse sua política única”, acrescenta o professor, na sua página em uma rede social.
Ainda segundo Janine Ribeiro, “por isso mesmo, minha desconfiança diante de qualquer solução única. O que a Grécia viveu foi claramente uma política ideológica de direita, sem nenhum fundamento científico, econômico ou o que seja. Pura ideologia, da pior. Este é um ponto em que insisto: a direita prefere defender sua política econômica como a realista e denunciar a esquerda como ideológica. Mas os desastres grego e português mostram uma direita puramente ideológica, sem conhecimento de economia”.
O professor da USP também repara que a Grécia “vive ou vivia uma sonegação de impostos espantosa. Mas não vi nenhuma proposta de solução econômica, estes cinco anos, que incluísse uma taxação das grandes fortunas ou dos grandes sonegadores. Todas apenas pretendiam penalizar os mais pobres”. Estas medidas, segundo planos do novo governo, irão adiante nos próximos meses.
Escolha soberana
Em conferência de imprensa realizada nesta segunda-feira, em Bruxelas, o porta-voz da Comissão Europeia, Margaritis Schinas, afirmou que o bloco “respeita a escolha soberana e democrática do povo grego”.
– Estamos prontos para negociar com o governo grego assim que for formado. A Grécia tem feito progressos notáveis nos últimos anos, e continuamos prontos a ajudar a Grécia a avançar nas reformas que faltam – disse.
O presidente do Eurogrupo – onde estão reunidos os ministros das Finanças dos 19 países da zona euro – também disse estar “preparado para começar a trabalhar” com o novo governo grego. Jeroen Dijsselbloem salientou, contudo, que “fazer parte da zona euro significa que é preciso respeitar o conjunto dos acordos feitos no passado”.
A expectativa é grande em relação ao futuro do programa de resgate grego, que expira a 28 de Fevereiro. Os ministros das Finanças da zona euro reuniram-se, nesta tarde, para uma análise do programa de assistência à Grécia, devendo uma extensão do programa por alguns meses ser debatida.
Não haverá ainda decisões, uma vez que o novo governo grego está em processo de formação. Qualquer decisão de extensão terá de ser solicitada oficialmente pela Grécia. É sabido que há vontade tanto dos parceiros europeus como da Grécia em chegar a acordo antes do próximo encontro de chefes de Estado e governo, a dia 12 de Fevereiro, no qual Tsipras tomará parte.
Já esta segunda-feira o primeiro-ministro finlandês, Alex Stubb, emitiu um comunicado em que declara que “se o governo grego se comprometer com os acordos prévios e as reformas estruturais necessárias, estamos prontos a discutir a possibilidade de estender o programa grego por uns meses”. No entanto ressalva que a Finlândia, país de orientação socialista, “não está em debate nenhuma exigência para um perdão da dívida“.
Correio do Brasil