A ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca, personagem de novas denúncias de corrupção na empresa, falou neste domingo (21) com exclusividade ao Fantástico.
Em entrevista à repórter Glória Maria, Venina disse ter avisado pessoalmente a Graça Foster sobre as irregularidades na empresa.
Glória Maria - Venina, eu queria saber uma coisa: a senhora prestou depoimento ao Ministério Público, inclusive entregou inúmeros documentos que comprovariam irregularidades nos negócios da Petrobras. Desde quando a senhora começou a fazer essas denúncias?
Venina Velosa - Desde a primeira vez que eu percebi que havia alguma irregularidade na minha área. Isso aconteceu em 2008. Então, desde 2008 eu venho fazendo essas... Eu venho reportando esses problemas aos meus superiores, o que culminou agora eu realmente estar levando essa documentação toda para o Ministério Público.
Glória Maria - Agora, que tipo de irregularidades a senhora constatou ou a senhora verificou nos contratos da Petrobras?
Venina Velosa - São vários tipos. Irregularidades de pagamento de serviços não prestados, de contratos que aparentemente estavam superfaturados. De negociações que eram feitas onde eram solicitadas comissões para aquelas pessoas que estavam negociando e de uma série de problemas que feriam o código de ética e os procedimentos da empresa.
Glória Maria - A senhora informou a que funcionários, a que pessoas da Petrobras sobre essas irregularidades?
Venina Velosa - A todos os meus superiores. Informei ao gerente executivo, aos diretores e até a presidente da empresa.
Glória Maria - A senhora poderia dar nomes?
Venina Velosa - Com certeza. Num primeiro momento, em 2008, como gerente executiva, eu informei ao então diretor Paulo Roberto Costa. Informei a outros diretores, como a Graça Foster. E, em outro momento, como gerente geral, eu informei aos meus gerentes executivos, José Raimundo Brandão Pereira e o Abílio, que era meu atual gerente executivo. Informei ao diretor Cosenza. Tanto quanto diretor, como ele era meu par, como gerente executivo. Informei ao presidente Gabrielli. Enfim, eu informei a todas as pessoas que eu achava que podiam fazer alguma coisa para combater aquele processo que estava se instalando dentro da empresa.
Glória Maria - A atual presidente da Petrobras, Graça Foster, diz que que a senhora mandou e-mail, mas que ela não teria entendido o que era. A senhora fez as denúncias a ela através de e-mail ou a senhora esteve com ela também pessoalmente?
Venina Velosa - Eu estive com a presidente pessoalmente quando ela era diretora da área de gás e energia. Naquele momento, nós discutimos o assunto. Foi passada documentação para ela sobre o processo de denúncia na área de comunicação. Depois disso, a gente... Ela teve acesso a essas irregularidades nas reuniões da diretoria executiva.
Glória Maria - Ela diz que não entendeu o que a senhora disse na época. O que a senhora acha disso?
Venina Velosa - O que eu posso falar é o seguinte: se falar que irregularidades na área de comunicação e problemas na licitação, se isso não está suficientemente claro, eu, como gestora, posso falar o seguinte: eu buscaria uma explicação, principalmente por uma pessoa que eu tinha muito acesso. Nós sempre tivemos muito acesso. Eu conhecia a Graça na época que ela era gerente de tecnologia, na área de gás, eu era gerente do setor de gerenciamento de contratos, e éramos próximas. Então, ela teria toda liberdade de realmente chegar e falar: ‘Venina, o que está acontecendo?’.
Glória Maria - E eu queria saber uma coisa: a senhora diz que vem recebendo várias ameaças, inclusive com arma apontada para sua cabeça e que as suas filhas vêm sendo ameaçadas. O que está acontecendo realmente?
Venina Velosa - Depois que eu apurei essa questão da área de comunicação, durante esse processo todo da área de comunicação, a gente recebeu várias ameaças por telefone. As minhas filhas, na época, deveriam ter 5 e 7 anos. Eram bem novas. Teve outros momentos mais difíceis, além desse. A opção que eles fizeram em 2009 foi realimente me mandar para o lugar mais longe possível, isso está entre aspas, onde eu tivesse o menor contato possível com a empresa. Aparentemente eu estaria ganhando um prêmio indo para Cingapura, mas na verdade o que aconteceu foi que realmente quando eu cheguei em Cingapura me apresentei no escritório, me foi dito que eu não poderia trabalhar, que não era para eu ter contato com o negócio e que era para eu realmente buscar um curso e me dedicar ao curso.
Glória Maria - Em nota, a Petrobras diz que afastou a senhora da empresa por atitudes fora da ética ou fora das normas da empresa. A que a senhora atribui a isso?
Venina Velosa - Na verdade, as atitudes não foram fora da ética nem foram fora da norma. Foram atitudes pouco corriqueiras para um empregado que quer ver as coisas sendo feitas da forma correta, por um empregado que quer denunciar escrevendo. Eu escrevi, eu não entrei na sala e falei, eu registrei. Eu mostrei isso. Então, quando eles falam que eu estou fazendo uma coisa fora do código de ética, denunciar irregularidades é fora do código de ética?
Glória Maria - Você tem uma família. Ou tinha. Foi para Cingapura com filhos, marido. Depois disso tudo que aconteceu, como está a sua vida agora?
Venina Velosa - Eu tinha uma família, sim. Eu tinha um apartamento, eu tinha um marido, duas filhas, a minha mãe, a minha família, e simplesmente o que eles fizeram foi me afastar do meu país, da empresa que eu tanto gostava, dos meus colegas de trabalho. Eu fui para Cingapura, eu não vi minha mãe adoecendo. Minha mãe ficou cega, minha mãe fez transplante de coração, eu não pude acompanhar minha mãe. O meu marido não pôde mais trabalhar, ele teve que retornar. Eu fui o tempo todo pressionada para fazer coisas que não eram dentro do código de ética da empresa. A única coisa que me sobrou foi meu nome. E quando eu vi que eles colocaram meu nome associado a coisas que eu não fazia, eu chamei minhas duas filhas e falei: ‘Olha, meninas, ou eu reajo e tento fazer, limpar o meu nome, ou eu vou deixar isso acontecer, a gente vai ter uma certa tranquilidade agora e o trator vai passar por cima depois. O que nós vamos fazer?’. As minhas filhas falaram: ’Vamos reagir!’.
Glória Maria - Eu queria saber uma coisa: você vai até o fim nas suas denúncias? E você tem medo?
Venina Velosa - Eu vou até o fim, sim. Eu também tenho muito medo, sim. Eu não posso falar que eu não tenho, porque no momento que você denuncia, ao invés de você ver respostas para as denúncias, você vê simplesmente a empresa tentando o tempo todo falar o seguinte: você não é competente, você fez um monte de coisa errada. E o tempo todo as pessoas tendo que responder, mostrando documentos, que aquilo não é verdade. É uma máquina que passa por cima da gente. E ela está passando. Eu tenho medo? Tenho medo., mas eu não vou parar! Eu espero que os empregados da Petrobras, porque eu tenho certeza que não fui só eu que presenciei. Eu espero que os empregados da Petrobras criem coragem e comecem a reagir. Nós temos que fazer isso para poder realmente fazer a nossa empresa ser de volta o que era. A gente tem que ter orgulho, os brasileiros têm que sentir orgulho dessa empresa. Eu vou até o fim! Estou convidando vocês para virem também.
A Petrobras voltou a declarar que tomou todas as providências para elucidar os fatos citados por Venina Velosa.
Segundo a empresa, não procede a afirmação de que não houve apuração sobre as irregularidades apontadas por Venina, porque todas foram encaminhadas às autoridades competentes.
A Petrobras também repetiu que, possivelmente, a funcionária trouxe a público as denúncias porque foi responsabilizada por uma comissão interna.
A empresa reafirmou que Graça Foster e José Carlos Cosenza não sabiam de irregularidades e que a presidente da Petrobras só foi informada dessas irregularidades, por Venina da Fonsenca, no dia 20 do mês passado.
Já o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, afirmou que nunca foi informado diretamente por Venina Velosa sobre a existência de corrupção na empresa.
O advogado de defesa de Paulo Roberto Costa disse que praticamente todos os aspectos investigados pelo Ministério Público Federal foram mencionados na delação premiada do ex-diretor e que não há como comentar incidentes específicos.
O ex-presidente Lula não quis se manifestar, e os demais citados na entrevista não foram encontrados.
Neste domingo (21), em entrevista publicada em jornais da América Latina, a presidente Dilma afirmou que o Brasil não vive crise de corrupção. Ela respondia a perguntas sobre as denúncias de irregularidades na Petrobras.
A presidente disse ainda que a indignação dela com as denúncias é igual a de todos os brasileiros e que os culpados devem ser punidos, porque, segundo a presidente, no Brasil não há intocáveis.
Linkedin - O site Brasil de Fato fez uma análise do perfil do Linkedin (Rede social profissional) da denunciante Venina Veloso e chegou às seguintes conclusões:
Depois de aceitar que Paulo Roberto Costa passou ao menos três anos roubando “enojado” e “enojado” continuava recebendo parcelas de propinas por contratos mesmo depois de ter sido afastado da empresa, agora temos a história mais que capciosa de D. Venina Fonseca, a quem não posso, por desconhecimento, acusar de nada – a Petrobras não abriu os detalhes dos processos interno que correm contra ela, embora ela tenha ido ao Fantástico acusar a presidente da empresa de cúmplice de todos os malfeitos da empresa.
Mas posso, como qualquer jornalista deveria fazer, comparar o que ela disse na televisão com o que é, segundo ela própria, sua carreira na empresa.
Segundo a transcrição da entrevista feita pelo Diário do Centro do Mundo, ela diz que “eu trabalhei junto com Paulo Roberto, isso eu não posso negar. Na diretoria de abastecimento, a partir de 2005″.
Não é verdade, segundo a própria Venina informa em seu currículo no Linkedin.
Lá, consta que ela era – o texto eu cito em inglês, como está escrito – “Manager, Implementation of Integrated Management Systems at Natural Gas Logistics Supervision Centre. De “ – (2 years 1 month)“.
Ora, de 2001 a 2003, Paulo Roberto Costa era responsável pela Gerência Geral de Logística da Unidade de Negócios Gás Natural da Petrobras…
Depois, segundo a própria Venina, em seu Linkedin, foi ser “Assistant Manager to the Downstream Director’s Office” (diretor de abastecimento), em maio de 2004.
Paulo Roberto Costa assumiu a diretoria de abastecimento em… 14 de maio de 2004.
Não seria justo inferir ligações anteriores, mas é a própria Venina quem documenta que não foi “na diretoria de Abastecimento, a partir de 2005″, mas que durante ao menos sete anos era auxiliar de confiança de Paulo Roberto Costa.
Mais adiante, Venina diz:
“A opção que eles fizeram em 2009 foi realmente me mandar para o lugar mais longe possível, isso está entre aspas, onde eu tivesse o menor contato possível. Com a empresa, aparentemente eu estaria ganhando um prêmio indo para Cingapura, mas o que aconteceu foi que realmente quando eu cheguei lá me foi dito que eu não poderia trabalhar, que eu não poderia ter contato com o negócio, era para eu procurar um curso”.
De fato, Venina foi para Cingapura, como “Chief Executive Officer, PM Bio Trading Pte Ltd”, uma joint-venture entre a Petrobras, a Mitsui e a empreiteira Camargo Correia, empresa subordinada a… Paulo Roberto Costa, o diretor de Abastecimento, o enojado …
Quando PRC cai, Venina não é perseguida, mas promovida.
Passa a diretora-gerente (“Managing Director, Petrobras Singapore Private Limited”).
E, segundo ela própria, com amplos poderes pois assim ela define suas funções, desde então:
“Responsável por conduzir o aumento das receitas junto com as margens de lucro e ser responsável por todos os contratos, a evolução dos negócios, as principais partes interessadas e clientes. – Reestruturação de toda a unidade, que resultou em significativa redução de custos e aumentando o lucro líquido três vezes nos primeiros seis meses de nomeação. – Liderou s Petrobras Singapore (PSPL) para atingir um lucro líquido recorde de US 59,5 milhões em 2012 de US $ 18 milhões em 2011, e, posteriormente, outro avanço no lucro líquido, de US $ 184 milhões em 2013″
Nada de ficar “encostada”, portanto. E muito menos de viver trancada, numa situação de quase “escrava branca”, algo que justificasse a melodramática declaração ao Fantástico de que ” me afastar(am) do meu país, das empresas que eu tanto gostava, dos meus colegas de trabalho. Eu fui para Cingapura, eu não vi minha mãe adoecendo. Minha mãe ficou cega, transplante de coração, eu não pude acompanhar minha mãe. Meu marido não pôde mais trabalhar, ele teve que retornar.”
O marido de Venina, Mauricio Luz, também segundo o seuLinkedin, “had been lived in Singapore from january 2010 to june 2012, working as a consultant and helping to implement the Braskem office in Singapore“.
A Braskem é uma empresa que tem, entre os principais acionistas … a Petrobras, com 47% e a Odebrecht, com 50%.
A saída de Luz, também casualmente, coincide com a queda de Paulo Roberto Costa.
Não se faz aqui, como se viu, nenhuma acusação a Venina, porque seria um absurdo acusar, como ela faz, alguém de irregularidades e cumplicidades sem ter provas cabais disto.
Mas não é possível afastá-la de todo deste caso. Ela estava dentro dos esquemas de Paulo Roberto ou, pelo menos, aceitou-os.
O Brasil está mesmo virando uma fábrica de “santinhos”.
Com informações da Rede Globo e do Brasil de Fato