"Em breve vou ter que tomar banho no rio!", brinca Joaquim Ayres Bierrenbach, 93, morador da rua Adalívia de Toledo, a cerca de 300 metros de distância da sede do governo de São Paulo e atual residência do governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB), no Morumbi, zona sul da capital.
"Fecham a água todos os dias no fim da tarde e ela só volta pela manhã. Acho um absurdo terem deixado chegar a este ponto. Deveriam ter tomado providências anos atrás", diz. "Na casa do governador não falta água?", indaga. A reportagem repassou a pergunta para a assessoria de Alckmin, que não se manifestou sobre o assunto.
Moradores do entorno do Palácio reclamam de cortes de até 12 horas por dia no fornecimento de água - a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de SP) informou em nota que "não há rodízio, racionamento ou qualquer restrição de consumo de água em nenhum dos 364 municípios atendidos pela companhia no Estado de São Paulo".
Durante sessão da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga queixas de falta de água na capital paulista, na semana passada, no entanto, a presidente da companhia, Dilma Pena, reconheceu que ao menos 380 mil famílias convivem com a falta de água nos municípios da Grande São Paulo.
Na casa de Antônia Rodrigues, 42, a história é a mesma. A maior prejudicada, segundo ela, é a filha de 22 anos, que trabalha até tarde e chega em casa depois das 22h.
"Eu deixo alguns baldes cheios para que ela possa tomar banho de caneca quando chega, porque nesse horário já não tem mais água", afirma.
Na Sargento Gilberto Marcondes Machado, outra rua vizinha ao Palácio, a história se repete: "Por volta das 18h cortam a água. Eu e minha mulher programamos nossa rotina levando isso em conta. Banhos e outras atividades que precisam de água têm que ser feitas até esse horário", diz Carlos Santos, 40.
Cláudio Fernandes, 45, diz que os moradores convivem com a situação há mais de um mês. "Acho falta de respeito dizer que não há racionamento de água quando abrimos a torneira e não sai nada", diz.
A reportagem conversou com moradores e lojistas do entrono da rua Pedro Gomes Cardim, também no Morumbi, onde Alckmin tem um apartamento. Ninguém se queixou de cortes no fornecimento.
Portal UOL