O túmulo do ex-governador Eduardo Campos no cemitério Santo Amaro, no Recife (PE), já era destino de visitas na manhã desta segunda-feira (18).
Admiradores levaram flores, bandeiras, camisetas, chapéus de palha e páginas de jornal em homenagem ao político morto na quarta-feira (13) num acidente aéreo em Santos (SP) que deixou outras seis vítimas.
Temendo a multidão formada desde as primeiras horas do velório no domingo (17), a professora Lúcia Cordeiro, 67, reservou a manhã para se despedir do político, a quem chamava de "meu menino dos olhos azuis".
"Vim fazer uma reza para ele. Para que fique em paz nesta nova etapa do seu espírito", disse.
Apesar da simpatia por Campos, Lúcia diz que estava decidida a anular o voto neste ano por desencanto com a política. Agora afirma que mudou de ideia e votará em Marina Silva, vice de Campos que deverá assumir a cabeça da chapa nesta quarta-feira (20).
Segundo ela, será uma forma de promover uma "última homenagem" a Campos.
Também no cemitério na manhã desta segunda, o segurança Manoel Esteu, 54, disse visitar a cada dois meses o túmulo de Miguel Arraes (1916-2005), avô de Campos. Afirmou que agorá também levará flores em homenagem ao neto –os dois túmulos estão no mesmo jazigo.
"Já comprava flores para Arraes e agora vou passar a comprar para Eduardo também. É o mínimo que posso fazer por quem fez tanto por a gente", disse Esteu.
O aumento do fluxo de pessoas no cemitério Santo Amaro na manhã desta segunda-feira fez aumentar também a quantidade de táxis no entorno do cemitério.
"Tem muita gente pedindo para vir para cá hoje", disse o taxista Ronaldo Leão.
O túmulo do jornalista Carlos Percol, assessor de Eduardo Campos morto no acidente e que cujo corpo também foi enterrado no cemitério Santo Amaro, também recebeu flores e visitas nesta segunda-feira.
DANOS
A multidão que foi se despedir de Campos no domingo provocou sujeira e alguns danos a lápides, observados durante o enterro do ex-governador.
Muitas pessoas subiram nos jazigos para acompanhar a cerimônia e a queima de fogos que ocorreu durante o sepultamento.
O administrador dos cemitérios do Recife, Petros Tejo, disse que uma vistoria irá verificar possíveis danos, mas que não há registro de prejuízos até o momento.
ACIDENTE
O candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Henrique Accioly Campos, 49, morreu na quarta (13) em acidente aéreo em Santos, litoral paulista, onde cumpriria agenda de campanha. O jato Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, partira do Rio e caiu em área residencial.
Dois pilotos e quatro assessores também morreram, e sete pessoas em solo ficaram feridas. Os restos mortais removidos do local do acidente chegaram na noite de quarta na unidade do IML (Instituto Médico Legal) na rua Teodoro Sampaio, no bairro Pinheiros, em São Paulo. A Aeronáutica investiga a queda.
Governador de Pernambuco por dois mandatos, ministro na gestão Lula, presidente do PSB e ex-deputado federal, Campos estava em terceiro lugar na corrida ao Planalto, com 8% no Datafolha. Conciliador, era considerado umexpoente da nova geração da política.
CANDIDATA
O PSB superou as divergências internas e selou acordo para lançar Marina Silva à Presidência da República no lugar de Eduardo Campos. Ela concordou com a inversão da chapa e deverá ser anunciada oficialmente na próxima quarta-feira (20). O novo presidente da sigla, Roberto Amaral, prometeu a Marina que ela não precisará permanecer no partido caso seja eleita.
O PSB agora discutirá a indicação do novo vice na chapa presidencial. O deputado gaúcho Beto Albuquerque, hoje candidato ao Senado, é o mais cotado para a vaga. No entanto, diversas lideranças do partido têm afirmadoque a posição é de Renata, caso ela queira.
Candidata à reeleição, a presidente Dilma Rousseff (PT) decretou luto oficialde três dias e afirmou que o acidente "tirou a vida de um jovem político promissor". Também presidenciável, Aécio Neves (PSDB) disse ter perdido um amigo.
Marina declarou que guardará dele a imagem de "alegria" e "sonhos". Campos morreu num 13 de agosto, mesmo dia da morte do avô, o também ex-governador Miguel Arraes (1916-2005). Campos deixa mulher, Renata Campos, e cinco filhos, o mais novo nascido em janeiro. "Não estava no script", disse Renata.
Folha de São Paulo