Após pleitear uma liminar e conseguir proibir o "Fantástico" do último domingo de exibir uma matéria sobre o abrandamento da pena de Suzane von Richtofen, Denivaldo Barni, advogado da jovem, explicou ao UOL o porquê de sua decisão.
"O problema é o seguinte: foram imagens obtidas de dentro do estabelecimento penitenciário, de forma clandestina e não autorizada", contou ele, recusando-se a opinar sobre a postura do jornalístico da Globo, que entendeu a decisão da Justiça como uma "forma de censura". "Não posso falar pela Globo. Sei que ela cumpriu a decisão".
Questionado se Suzane – que cumpre pena de 39 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato dos próprios pais em 2002, em SP – está mesmo tentando passar por um regime mais brando, que permitiria que ela ficasse parte do dia fora da cadeia, como foi divulgado pelo "Fantástico" na ocasião, Denivaldo afirmou que não.
"Nós estamos aguardando uma decisão acerca da progressão de regime. Ou seja: ela muda de estabelecimento penitenciário, vai para um outro. Mas ainda não há nada decidido", afirmou, lembrando que o processo corre em segredo de justiça.
Procurada pelo UOL, a Globo confirmou, através da CGCom (Central Globo de Comunicação), que irá recorrer da decisão, como informou no comunicado lido por Renata Vasconcellos e Tadeu Schmidt no último domingo.
No "Fantástico" do último domingo, os apresentadores Renata Vasconcellos e Tadeu Schmidt informaram que a TV Globo foi proibida pela Justiça de exibir uma matéria sobre Suzane von Richthofen.
"O Fantástico de hoje foi proibido pela Justiça de exibir uma das matérias jornalísticas que a gente anunciou ao longo da semana. Trata-se de uma reportagem sobre Suzane, que cumpre pena de 39 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato dos próprios pais em 2002, em SP", leu Tadeu.
No comunicado, Renata leu que a matéria retrata a tentativa de Suzane de passar por um regime mais brando, que permitiria que ela ficasse parte do dia fora da cadeia.
"Atendendo a uma liminar pleiteada pelo advogado de Suzane o juiz Dálcio Giraldi do Plantão Judicial do Fórum da Barra Funda, em São Paulo, a Justiça determinou que a TV Globo se abstenha de difundir informações relativas ao segredo de justiça sobre o exame criminológico de Suzane, além de imagens de Suzane para as quais não haja autorização de captação e veiculação", completou Tadeu.
No final do comunicado, Renata afirmou que a TV Globo acredita na liberdade de expressão garantida pela Constituição Brasileira e que iria recorrer dessa decisão, que considera uma forma de censura.
Em 2006, o "Fantástico" gravou conversas em que Suzana foi orientada pelos advogados Mário Sergio de Oliveira e Denivaldo Barni a atuar durante uma entrevista ao programa. Segundo reportagem feita pela "Folha de S. Paulo" na ocasião, durante a primeira entrevista, Suzane olhou para o advogado 13 vezes e deu impressão que estava chorando 11 vezes. Em nenhum momento, contudo, apresentou marcas de lágrimas.
No dia seguinte, em um segundo encontro, em Itirapina, a 100 km de São Paulo, a reportagem da TV Globo flagrou uma conversa entre Denivaldo e Suzane. "Fala que eu não vejo", orientou Denivaldo, em frase cujo sentido não foi explicado. "Eu não vou conseguir", comentou Suzane, antes de olhar para trás, ver a família de Denivaldo e gritar, abrindo os braços.
Durante uma das seguidas interrupções que Suzane fez durante a entrevista, alegando estar abalada e não querendo mais falar sobre o assunto, a reportagem da Globo flagrou, atrás de uma porta, mais uma conversa de Suzane com um interlocutor. "Acabou, mais nada. Começa a chorar e mais nada", orientou a voz a Suzane. "Fala: 'Pelo amor de Deus, não quero mais tocar nesse assunto'". De acordo com um perito consultado pelo "Fantástico", a voz era do advogado Mário Sergio de Oliveira.
Em liberdade provisória, em 2006, Suzane von Richthofen concedeu uma entrevista exclusiva ao "Fantástico" em um apartamento do Morumbi, em São Paulo. Em determinado momento, Suzane recebeu orientações de como se comportar na entrevista. "Acabou. Mais nada. Começa a chorar e fala: 'Não quero falar mais', disse a pessoa que a orientava.
O episódio ganhou repercussão nacional.
Relembre o caso
Segundo a versão da polícia e da acusação, Manfred e Marísia von Richthofen foram assassinados no dia 31 de outubro de 2002, quando dormiam em sua casa, no bairro do Brooklin (zona sul de São Paulo).
Segundo a versão da polícia e da acusação, Manfred e Marísia von Richthofen foram assassinados no dia 31 de outubro de 2002, quando dormiam em sua casa, no bairro do Brooklin (zona sul de São Paulo).
Suzane, seu namorado na época, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian Cravinhos, entraram na casa em silêncio. Os irmãos subiram as escadas comSuzane, que os avisou de que os pais dormiam. Então, os irmãos desferiram golpes de barra de ferro contra Manfred e Marísia. Após matarem o casal, os dois cobriram os corpos com uma toalha molhada e sacos plásticos.
A biblioteca foi desarrumada para simular um latrocínio (roubo seguido de assassinato). Também foram levados cerca de US$ 5.000, R$ 8.000 e joias do casal. O dinheiro ficou com Cristian, que acabou usando uma parte do montante para comprar uma moto.
Ao deixarem o local do crime, Daniel e Suzane seguiram para um motel em São Paulo, enquanto Cristian foi a um hospital para visitar um amigo. Depois de algumtempo, Daniel e Suzane foram ao encontro de Andreas von Richthofen, irmão mais novo da jovem, que havia sido deixado por Daniel em um cibercafé. Chegaram em casa, e então Suzane ligou para a polícia informando do crime.
No decorrer das investigações, a delegada responsável pelo inquérito, Cíntia Tucunduva, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), suspeitou do comportamento de Suzane e Daniel, que protagonizavam cenas de amor mesmo diante da tragédia, de acordo com a delegada. No dia 8 de novembro de 2002, Suzane e os irmãos Cravinhos confessaram, em interrogatório à delegada, o assassinato do casal Richthofen.
Portal UOL