O coronel reformado Paulo Malhães, que assumiu ter sido o militar responsável por desaparecer com o corpo do ex-deputado federal Rubens Paiva (foto), foi convocado pela Comissão Nacional da Verdade para depor nesta terça-feira (25) em audiência pública sobre a Casa da Morte, centro clandestino de cárcere e tortura, que funcionou em Petrópolis, na Região Serrana, na década de 1970. Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, também estará presente à audiência.
Malhães, que tem hoje 76 anos, foi convocado depois que trechos de seu depoimento à Comissão Estadual da Verdade terem sido divulgados. Será ouvido pela comissão nacional por ser “autor de graves violações de direitos humanos na Casa da Morte”. Nas 17 horas em que falou ao jornalista Marcelo Auler e à advogada Nadine Borges, o coronel reformado detalhou o método adotado para impedir que o corpo das vítimas da Casa da Morte fossem identificadas: dentes e dedos das mãos eram retirados.
O corpo ganhava um talho no ventre, para impedir que emergisse. Por fim, era embalado e jogado no rio, com quantidade de pedra calculada para evitar que o corpo flutuasse, e também não permitir que chegasse ao fundo. “Jamais se enterra um cara que você matou. Se matar um cara, não enterro. Há outra solução para mandar ele embora”, disse, ao explicar seu método no depoimento obtido pelo jornal O Globo. “Por isso, não acredito que, em sã consciência, alguém ainda pense em achar um corpo.”
A CNV iniciou as investigações sobre a Casa da Morte a partir do depoimento de Inês, que passou 96 dias em cativeiro. Nesse período, foi torturada em sessões de espancamento, eletrochoque e violência sexual. Ela conta que era obrigada a fazer trabalhos domésticos nua. Também foi deixada ao relento, sem roupas, sobre o cimento molhado, durante o inverno. Foi libertada por ter se comprometido a atuar a serviço da ditadura infiltrada na organização que integrava, a VAR-Palmares.
Malhães foi intimado pela Polícia Federal e é obrigado a comparecer à audiência. Ele, no entanto, pode se recusar a responder as perguntas dos integrantes da comissão, já que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Se ele faltar, pode ser conduzido por agentes federais e também responder pelo crime de desobediência.
Agência Estado
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