Uma fotografia do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, ao lado do empresário Antonio Mahfuz, em Miami, tem causado polêmica nas redes sociais. Mahfuz vive há cerca de 15 anos nos Estados Unidos, após ter a prisão decretada no processo de cobrança de uma dívida superior a R$ 144 milhões com o Chase Manhattan Bank. Ele era proprietário da A. Mahfuz S.A., uma das mais tradicionais redes de lojas do interior paulista na década de 80.
Assessores do STF informam que Joaquim não é amigo de Mahfuz e que o ministro costuma atender aos pedidos para posar em foto com admiradores. "Ele não pede o RG de ninguém", afirmou um assessor.
Em setembro de 2007, Antonio Mahfuz entrou com um pedido de liminar em habeas corpus no STF para voltar ao Brasil e participar do casamento da única filha, além de visitar sua mãe que teria mais de 80 anos e problemas de saúde.
O processo contra o comerciante teve início na 17ª Vara Cível de São Paulo (SP), em 1991, com uma ação de execução de um título extrajudicial, ligado ao não-pagamento de nota promissória e respectiva cédula de crédito comercial, emitida pela empresa A. Mahfuz.
A foto polêmica
Na foto em que Barbosa aparece com Antonio Mahfuz no Facebook, há ainda a legenda: “Sob a mesma luz que guiava os peregrinos no deserto! Renasce a esperança com o Justiceiro. Thanks God!”.
Condenado na AP 470, Delúbio Soares repercutiu a foto no Twitter com o post: "Antônio Mahfuz: 221 processos, prisão decretada, foragido do Brasil. Em Miami, com Joaquim Barbosa, num bar."
A publicação da foto foi comentada com ironia pelo vice-presidente do Congresso, deputado André Vargas (PT-PR): "Joaquim Barbosa tira foto em Miami com empresário foragido. Cadê os moralistas da mídia brasileira? Se fosse o Lula!", escreveu Vargas.
O advogado e ex-deputado federal pelo PT Luiz Eduardo Greenhalgh publicou pelo menos quatro retuítes em seu perfil sobre o assunto. "Barbosa em foto em Miami com foragido da Justiça Brasileira, Antonio Mahfuz, estelionatário que fugiu do Brasil...", dizia um dos comentários publicados.
A polêmica se junta a outra envolvendo o mesmo Joaquim Barbosa. Em janeiro, ao viajar de férias para a Europa, o ministro deu duas palestras em Paris e em Londres, para as quais recebeu diária de R$ 14 mil. De acordo com a assessoria do Supremo Tribunal Federal, Barbosa teria interrompido as férias para fazer duas palestras e, por isso, teria direito às diárias.
A assessoria do STF disse ainda que o ministro se encontrou com autoridades dos dois países e retribuiu visitas que teria recebido no Brasil.
Ex-presidente da OAB critica pagamento de diárias de Joaquim Barbosa na Europa
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ex-presidente da instituição, Wadih Damous, a medida deve ser considerada condenável, mas, por se tratar do ministro Joaquim Barbosa, acaba sendo aceita. Para Wadih, o ministro foi endeusado pela imprensa e pela sociedade, o que torna ações como essa admissíveis aos olhos da opinião pública. O magistrado ainda traça um paralelo, ilustrando como o pagamento de diárias seria encarado se o beneficiado fosse o senador Renan Calheiros.
"Vou fazer um paralelo para você: vamos imaginar que esse caso estivesse acontecendo com o senador Renan Calheiros. Seria manchete de todos os jornais, de todos os editoriais, seria um escândalo nacional. Como se trata do ministro Joaquim Barbosa, tudo é permitido. Quase não sai uma nota de rodapé, os colunistas evitam tratar desse assunto. É tão grave quanto o Renan Calheiros cortar cabelo com dinheiro público", exemplifica Damous.
O jurista também condena a criação de "verdades absolutas" sobre autoridades como Joaquim Barbosa, que ganhou notoriedade e admiração exacerbadas após ser relator do mensalão. "Está se criando no Brasil, sobretudo por conta do processo do mensalão, verdades absolutas, em que algumas pessoas e autoridades são blindadas e praticam as mesmas mazelas que dizem perseguir, que dizem estar ali para punir. O Joaquim Barbosa é uma delas, tornou-se uma delas. A qualquer ato dele, é tratado como 'homem do povo'", reclama Wadih Damous, que ainda ironiza o destino da viagem de Barbosa para países de primeiro mundo.
"Em relação a essa viagem para a Europa - aliás, o ministro nunca vai palestrar em Botswana, é sempre Inglaterra, França - é tratada como algo natural, algo absolutamente dentro dos padrões da administração pública brasileira. São esses paradoxos que vivemos hoje na política brasileira. Estou julgando o Joaquim Barbosa como ele julga aqueles que ele considera pessoas que não se conduzem dentro de um padrão ético e moral que ele diz defender".
Jornal do Brasil