A comoção pelo assassinato do funkeiro Daniel Pedreira Sena Pellegrine nas redes sociais é gigantesca. MC Daleste, como o jovem de 20 anos era conhecido, foi criado em uma família de classe baixa na Zona Leste de São Paulo e, no funk, conquistou milhares de fãs. Os detalhes de um crime aparentemente covarde, no entanto, podem começar a ser estudados a partir das músicas cantadas pelo próprio jovem. Letras que fazem apologia às drogas, ao extermínio de policiais e à vida bandida.
Em uma de suas músicas mais populares, "Voz Estranha", MC Daleste canta: "Fumei tanto do verdinho, que fiquei com a voz estranha. Admiro quem não fuma, eu gosto mais do que lasanha [...] Sou tão louco que às vezes fico até meio engraçado. Fumo até cair, quando eu caio eu fumo deitado".
Em outra música, "O Crime Chegou", MC Daleste faz questão de divulgar o ritmo que defendia... "Ritmo da apologia, Ritmo que contagia, Na blazer atira, No águia atira, Na rota atira, Rocam tu atira".
Ensinava a matar policiais... "Aula de criminologia, Primeiro engatilha, Depois você mira, Se tiver no alvo, Você extermina, Quando meu chefe deixar, Vou colecionar cabeça de polícia, Nosso armamento é pesado[...]".
E ostentava seu grito de guerra... "Ú ê ô, nois é o terror. Ú ê ô, nois é o terror. Ú ê ô, nois é o terror. Porque nois atira no peito, Porque nois atira e não erra, É só maluco boladão, Treinado pra guerra."
Na letra de "Apologia", o funkeiro esbanjava a vontade de exterminar policiais e se dizia formado na faculdade do crime: "Matar os policia é a nossa meta. Fala pra nois quem é o poder. Mente criminosa, coração bandido. Sou fruto de guerras e rebeliões. Começei menor já no 157, hoje meu vício é roubar, profissão perigo. Especialista formado na faculdade criminosa".
Daniel Pellegrine foi atingido com um tiro no peito durante um show na cidade de Campinas na noite deste sábado. Ele chegou a ser levado para o hospital, mas morreu de madrugada. O suspeito fugiu e ninguém foi preso por enquanto. O caso foi registrado no 4º DP de Campinas. O SRZD entrou em contato com a delegacia para saber sobre o atirador e se a vítima tinha passagens pela polícia, mas o delegado preferiu não passar as informações.
"Outro Brasil" - As pessoas que se sentem incluídas no chamado mundo da informação, da educação de qualidade, parte da elite dirigente e à vontade nas faixas média e alta da pirâmide social estão surpresas ao serem apresentadas a um contingente de 55 milhões de brasileiros que chegaram agora com fúria e vontade de ter um lugar ao sol.
É que como se uma gente "diferenciada" aparecesse na sua festa sem ser, necessariamente, convidada. Há um incômodo no ar, mesmo que poucos tenham coragem de expressar este "desconforto".
A surpresa ficou estampada diante das gigantescas manifestações espalhadas pelas capitais e cidades de médio porte. E agora, os "punhos de renda" são obrigados a conviver com protagonistas de outra estirpe e que resolveram defender uma agenda diferente daquela que estava "combinada" em Brasília.
Estas estranhezas também se colocam no microcosmo do tecido social.
É o que está acontecendo diante do assassinato de MC Daleste, um jovem de 20 anos criado em uma família de classe baixa na Zona Leste de São Paulo. Sua morte leva o país a se perguntar: "Quem é este cara?", "Que tipo de música ele cantava?" e "Qual a motivação deste crime?".Leia mais aqui.
O que é mais incrível, MC Daleste trouxe para os shows da periferia a triste cara do banditismo, das armas, da crueza da pobreza urbana e a realidade dos brasileiros esquecidos justamente pela elite que se sente inserida.
O "Brasil do B" quer ser mais do que uma nova classe média emergente. O "Brasil do B" veio cobrar a conta e, por enquanto, está só esperando ser ouvido. Se não for...
Jornalista Sidney Rezende