Representantes de vários movimentos que estão participando das manifestações de rua nos últimos dias foram recebidos pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) na tarde desta quarta-feira e conseguiram dele o compromisso de se empenhar para “enterrar” o projeto conhecido como “cura gay”. A rejeição do projeto, aprovado na Comissão de Direitos Humanos presidida pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), era um dos pontos da pauta de 10 itens apresentada pelos manifestantes ao presidente da Câmara.
No encontro, no entanto, o presidente explicou aos manifestantes que ele não teria como tirar Feliciano da Comissão de Direitos Humanos da Casa e nem pressionar o Conselho de Ética a analisar o caso. Ele também disse que a pressão tem que ser feita pelos próprios interessados em que isso aconteça. A pauta apresentada pelos representantes dos movimentos também incluiu o fim do voto secreto nas votações, mas não restrito a cassações, como prevê a PEC aprovada hoje pela Comissão de Constituição e Justiça.
Participaram da audiência, entre outros, representantes dos movimentos Juntos, Sou Ativista e Marcha do Vinagre. Alguns representantes deixaram a reunião usando máscaras ou tampando o rosto com papel, para que não fossem fotografados e deixaram o local sem falar com a imprensa. Outros concordaram em relatar o encontro com o presidente e anunciaram que nova rodada de conversa será feita na primeira quinzena de agosto, incluindo mais representantes de outros movimentos.
Henrique também afirmou que irá trabalhar para aprovar proposta que torna hediondos os crimes de corrupção. Ele explicou que o da Câmara estava muito genérico e tem parecer pela rejeição e que o que tramita no Senado, se aprovado lá, será analisado pela Câmara.
Segundo Rafael Salim — que se apresenta como um manifestante que está tentando unificar vários movimentos — o combinado era que ninguém desse coletiva após o encontro. Ele primeiro relutou, mas depois concordou em falar com os jornalistas. Ele parece ter gostado da promessa feita por Henrique Alves de que irá lutar para enterrar o projeto conhecido como "cura gay", mas quer ver isso concretizado.
— Senti o mesmo que senti em relação ao discurso da presidente Dilma. Foi oportuno ele prometer enterrar e dizer que a gente podia dizer isso em público, deixa a gente esperançoso, mas eu venho de um cultura que não acredita em políticos — disse Salim, que tem 26 anos e é músico.
Durante a coletiva, enquanto os manifestantes se desentenderam em razão de questionamentos sobre a ação de vândalos nas manifestações. Uma parte deles deixou a coletiva, afirmando que aquilo que ele estava defendendo não era o pensamento de todos. Segundo manifestantes, está havendo uma guerra de egos entre os representantes dos movimentos. Alguns acham que outros estão com estrelismo, querendo aparecer mais que outros.
Na carta entregue, também pediram o fim do foro privilegiado de autoridades, voto facultativo, reforma política com participação popular e CPI para investigar os gastos da Copa do Mundo, entre outros pontos. O encontro com o Henrique Alves foi articulado por meio da Comissão de Legislação Participativa da Casa.
Plenário - No pacote de medidas para atender à demanda gerada pelas manifestações populares, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), acertou na reunião de líderes que levará para votação direta no plenário, na semana que vem, dois projetos de clamor popular. Um para ser derrotado, o "cura gay", e outro para ser aprovado, a Proposta de Emenda à Constituição conhecida como “PEC do Voto Aberto” - que acaba com o voto secreto nos processos de cassação de mandato. Os dois tramitam na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
O Globo