Analistas e pró-abortistas uruguaios concordaram em afirmar nesta segunda-feira que o fracasso da votação voluntária para pedir um referendo sobre a lei do aborto mostra que a descriminalização desta prática é um assunto encerrado para a sociedade do país sul-americano.
Os resultados, com 99,7% dos votos apurados, apontam que no domingo somente 8,88% do eleitorado foi apoiar a iniciativa, quando se necessitava pelo menos a participação de 25% (655 mil votos) para levar a referendo a polêmica lei que descriminaliza o aborto.
A porta-voz da Coordenadora pelo Aborto Legal no Uruguai, Romina Napiloti, explicou que "a maior parte da sociedade quer que a prática seja incorporada dentro do sistema nacional de saúde" e por isso não votou.
Em termos parecidos se manifestou a associação feminista Mulher e Saúde do Uruguai (MYSU) que, por meio de um comunicado, mostrou sua satisfação com a lei, afirmando que "a sociedade uruguaia demonstrou estar madura".
Para o governo de esquerda, o resultado da jornada de adesão "deixou claro que as pessoas deram um voto de crédito à lei vigente", declarou a presidente do partido governista Frente Ampla, Mónica Xavier.
A analista política Verónica Pérez explicou que os resultados de ontem podem ser entendidos como uma "incapacidade da oposição para articular-se neste tema e reflete uma divergência entre as preferências dos partidos políticos uruguaios e as do eleitorado". "Os cidadãos se preocupam mais com outros assuntos, especialmente os relativos à segurança", declarou.
Segundo o diretor da consultoria Mori, Ignacio Zuaznabar, a baixa participação foi "bastante surpreendente", em relação às expectativas e medições prévias. "Por um lado, é um chamado de atenção: O que pode estar acontecendo em um país no qual os principais candidatos (às eleições gerais de 2014) expressam uma posição e 90% da cidadania não se expressa na mesma posição? É uma mensagem forte", refletiu o analista.
Um dos pré-candidatos a esses pleitos, o líder do opositor Partido Colorado, Pedro Bordaberry, que também apoiou a iniciativa, reconheceu após a votação que "é preciso escutar a voz do povo". "Todos os pré-candidatos apoiamos a votação e os uruguaios demonstraram aqui que votam o que eles querem, não o que os candidatos dizemos que têm que votar", destacou.
Logo após saber do fracasso nas urnas, o deputado do Partido Nacional, Pablo Abdallah, impulsor da iniciativa, declarou que a votação não é "um pronunciamento definitivo da população", mas reconheceu que será difícil retomar o tema no atual mandato, que vai até 2015.
Antes da aprovação da lei em outubro de 2012, se estimava que, no Uruguai, eram praticados mais de 30 mil abortos anuais, segundo números oficiais, mas a realidade poderia dobrar esse número, de acordo com ONGs.
Em janeiro deste ano, primeiro mês de aplicação efetiva da lei, o Ministério da Saúde informou que foram realizadas 200 interrupções legais de gravidezes, mas não voltou a dar números.
A legislação descriminaliza o aborto até a 12ª semana de gestação sempre que as mulheres que queiram interromper sua gravidez compareçam perante uma comissão formada por psicólogos, ginecologistas e assistentes sociais.
Portal Terra