quinta-feira, 27 de junho de 2013

Estudante Crislayne Silva é solta e advogada critica polícia

A estudante Crislayne Maria da Silva, detida na quinta-feira (26) passada, durante protesto no Recife, foi solta na tarde desta sexta (27). A jovem foi levada nesta manhã para a Colônia Penal Feminina, após a delegada de plantão de Santo Amaro decretar a prisão por porte de artefato explosivo. Ainda na delegacia, um estudante foi preso por dano contra o patrimônio público, mas pagou fiança, e uma terceira estudante assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por resistência à prisão. Advogados populares que prestam serviço jurídico voluntário a manifestantes classificaram como “truculenta e intimidatória” a ação da polícia.

Crislayne Maria da Silva foi solta após advogados populares conseguiram um habeas corpus para ela deixar a prisão e responder pelo crime em liberdade. Uma vigília foi montada em frente à delegacia em favor da soltura da jovem, que também mobilizou muita gente nas redes sociais. “Ela nega que a mochila seja dela, versão confirmada pelas testemunhas. E, mesmo que fosse, ela foi presa porque teria três bombinhas de São João. Nessa época do ano, metade da população poderia ser presa por isso também”, disse a advogada Liana Cirne Lins.
Conforme relato da advogada, a estudante Lara Buitron foi detida quando estava perto de moradores de Santo Amaro que estavam sendo revistados pela polícia. Ela assinou um TCO e foi liberada por volta das 1h30 desta sexta (27). “O TCO foi por resistência a uma prisão cujo motivo sequer foi justificado no termo. Ela estava próximo desse grupo de moradores, quis se afastar e um policial já veio com cassetete em punho, não houve tempo para dialogar nem resistir. Ela foi imobilizada, nem teve condições de resistir”, falou.
O terceiro estudante, Igor Alves Calado, autuado em flagrante por dano contra o patrimônio público, conseguiu pagar a fiança de R$ 5 mil. “Ele estava com uma bandeira do Brasil, que se enroscou em uma moto da polícia, porque [a moto] foi colocada no meio do trajeto dos manifestantes. Ele nem é integrante de qualquer movimento, foi ao protesto empolgado pelas notícias dos reflexos da população ir para rua. Estava no lugar errado na hora errada”, informou Liana Cirne Lins.
Uma nota será emitida pelo grupo de advogados populares em repúdio à truculência e violação das prerrogativas dos advogados na Delegacia de Santo Amaro. “Houve uma ação truculenta por parte da polícia com manifestantes e advogados e uma série de irregularidades. Não tivemos livre acesso na delegacia; não fomos recebidos pela delegada; após cinco horas de aguardo finalmente foi tomado o primeiro depoimento [de Igor] com a presença de um advogado; uma das manifestantes não foi ouvida [a Lara]; uma das testemunhas de defesa que a delegada aceitou receber, quando entrou voluntariamente foi detida e liberada após assinar TCO por obstrução da Justiça e saiu sem prestar depoimento; a fiança foi arbitrada antes de ouvi-los e conhecer situação econômica dos jovens", elencou.
A advogada ainda criticou a falta de um plantão judiciário 24 horas – atualmente, o serviço funciona das 13h às 17h – o que teria acelerado a soltura dos manifestantes. “O sentimento é que houve um esforço da polícia para punir os manifestantes. A tipificação dos crimes é arbitrária, pois fatos que não se passaram acabaram sendo oficializados e, justamente porque não serão condenados em juízo, há esse esforço [da polícia] que eles sejam encaminhados à Colônia e ao Cotel [Centro de Triagem] como forma de puni-los. E essas prisões tiveram caráter intimidatório para [a população] não exercer o direito de manifestação”, finaliza.
Violência
O grupo de advogados populares também atuou no protesto realizado no último dia (20), que reuniu 52 mil pessoas. De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), 31 foram detidas. A advogada popular Andréa Gorenstein foi procurada por manifestantes que foram presos na frente da Prefeitura do Recife, cujo prédio teve três vidros quebrados. Ela denuncia que dois integrantes do protesto foram espancados na delegacia do Grupo de Operações Especiais (GOE), no Cordeiro.
A advogada conta que foram 22 detidos na Prefeitura. “Uns foram soltos na Ponte do Limoeiro, outros no Coque e três levados para o GOE, que não era uma delegacia designada para receber manifestantes e tem péssima fama. Eles foram recebidos em estado normal, íntegros, mas no outro dia apareceram ‘quebrados’. Recebemos indicação que eles não seriam soltos porque [os policiais] deram a entender que eles não eram réus primários. A verdade é que descansamos, pois achávamos que eles não tinham relação com o protesto. Hoje, acho que confiamos no discurso da polícia. Pensávamos que havia um clima de colaboração interinstitucional por conta do discurso do governador [Eduardo Campos] de tolerância mil, mas sabemos agora que existe ordem para um grupo [de policiais], que não porta identificação, se infiltrar e agir com violência”, afirmou.
SDS emite nova nota oficial
A Secretaria de Defesa Social – SDS, a partir de dados fornecidos pelo Centro Integrado de Defesa Social – CIODS e Polícia Civil de Pernambuco informa que no período compreendido entre o início e o término do protesto, realizado nessa quarta-feira (26), foram registradas 09 ocorrências relacionadas à manifestação, com 07 pessoas detidas e 02 menores apreendidos, por depredação, resistência, roubos, dentre outras ocorrências.
No bairro de Santo Amaro a Polícia Militar prendeu Igor Alves Calado, de 28 anos, acusado de depredar uma moto da PMPE. Ele foi liberado após pagamento de fiança de R$ 5.000.
Arthur Menezes dos Santos, de 19 anos e Bruno de Cássio Pereira Vilar, 20 anos foram detidos por dano qualificado, jogando pedra em ônibus. Arthur foi liberado após pagamento da fiança no valor de R$ 2.500. Já Bruno não realizou o pagamento e foi recolhido ao Cotel.
Também foi encaminhada para a Delegacia de Plantão de Santo Amaro, as mulheres, Crislyne Maria da Silva, 19 anos, detida por agredir com bombas e pedradas funcionário público no exercício da função. Ela foi encaminhada à Colônia Penal Feminina, por não ter pago a fiança arbitrada no valor de R$ 5.000.
Em desfavor de Camila Aurea Cruz Oliveira e Lara Oliveira Buitron, 22 anos, foi lavrado Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO por favorecimento pessoal e resistência, respectivamente.
Além delas, o estudante José da Guia Negreiros, de 19 anos, detido com bombas e rojões na mochila, mas que foi liberado após prestar depoimento.
Dois menores foram apreendidos próximo ao Shopping Tacaruna, um deles por realizar roubos a manifestantes. O segundo, que estava atirando pedras e soltando fogos de artifícios, foi liberado.
Durante o protesto três policiais foram feridos por manifestantes. O cabo PM Antônio Raimundo de Oliveira, da Radiopatrulha, foi atingido por uma pedrada no olho esquerdo. O PM teve o olho perfurado pela lente dos óculos, que foi quebrado pela pedra. O fato ocorreu na Avenida Cruz Cabugá e segundo o comandante do BPRp, coronel Denis Roberto Soares, o parecer médico informava que o PM sofreu um corte na retina e precisará de acompanhamento oftalmológico, com risco de perder a visão do olho atingido. Ele foi liberado após o atendimento e encontra-se afastado da função para tratamento de saúde.
Ainda foram atingidos pelos manifestantes, o tenente-coronel Arlis Gadelha, comandante do 12º BPM, ferido com uma pedrada no rosto e o capitão PM Sérgio Costa, da Diretoria Integrada Metropolitana – DIM, com uma pedrada na perna esquerda.
Além dos feridos, três viaturas do Corpo de Bombeiros, sendo duas de combate a incêndio e uma de resgate, foram apedrejadas e ainda uma moto da ROCAM. 

Com informações do G1 e da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco