quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Brasil de Luto: Morre Oscar Niemeyer

O arquiteto Oscar Niemeyer, de 104 anos, morreu no Rio às 21h55 desta quarta-feira (5). Ele estava internado desde 2 de novembro no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul. Reconhecido internacionalmente por suas obras, Niemeyer completaria 105 anos em 15 de dezembro.

Nesta quarta, um boletim médico informava que o estado de saúde do arquiteto havia piorado e era considerado grave. Ainda segundo o hospital, Niemeyer respirava com a ajuda de aparelhos e encontrava-se sedado por causa de uma infecção respiratória.


Em fevereiro, Niemeyer fez uma visita ao Sambódromo, durante a fase final das obras de reforma da Passarela do Samba que mantiveram o traçado original que o arquiteto projetou há 30 anos. Ele enfrentou o sol forte de meio-dia e percorreu num carrinho aberto toda a extensão da Avenida.
"Está muito bom. Melhorou muito. Este não é um trabalho só meu, é o trabalho de um grupo. Estou entusiasmado", disse Niemeyer, na ocasião.
O projeto de Niemeyer previa um equilíbrio entre os dois lados da Sapucaí, como se fosse um espelho. Com a obra, a Sapucaí passou a ter 12.500 lugares a mais, podendo acomodar 72.500 pessoas.
Autor de mais de 600 projetos arquitetônicos, Niemeyer decidiu festejar os seus 104 anos do jeito que mais gostava: trabalhando em seu ateliê de janelas amplas diante da Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Em agosto de 2011, ele lançou o livro "As igrejas de Oscar Niemeyer" (Editora Nosso Caminho), na galeria de um shopping da Zona Sul do Rio.
Embora ateu convicto, o arquiteto selecionou fotos e desenhos das 16 obras religiosas, entre capelas e igrejas, que realizou ao longo de sua carreira.
"As pessoas se espantam pelo fato de, mesmo sendo comunista, me interessar pelas igrejas. E a coisa é tão natural. Eu morava com meus avós, que eram religiosos. Tinha até missa na minha casa. E eu fui criado num clima assim. Esse passado junto da família me deixou com a ideia de que os católicos são bons, que querem melhorar a vida e fazer um mundo melhor", explicou Niemeyer, na ocasião.
Histórico de internações
O arquiteto foi internado várias vezes ao longo dos últimos anos. A última foi em 2 de novembro, quando voltou ao Samaritano, seis dias depois de ter recebido alta. Desta vez, Niemeyer foi submetido a tratamento de hemodiálise e fisioterapia respiratória.
No dia 13 de outubro, o arquiteto deu entrada no Hospital Samaritano após sentir-se mal, apresentando um quadro de desidratação. Ele ficou internado por duas semanas.
Em maio, Niemeyer também esteve internado no mesmo hospital, quando deu entrada com desidratação e pneumonia. Depois de 16 dias, com passagem pela UTI, recebeu alta.
Em abril de 2011, o arquiteto ficou internado por 12 dias por causa de uma infecção urinária. Também já foi submetido a cirurgias para a retirada da vesícula e de um tumor no intestino.
Em 2010, Niemeyer também foi internado em abril, devido a uma infecção urinária.
Em 2009, o arquiteto ficou internado por 24 dias no Samaritano, entre setembro e outubro, após dores abdominais. Ele chegou a passar por uma cirurgia para retirar um tumor no intestino grosso, uma semana depois de ter sido operado para a retirada de um cálculo na vesícula.
Em junho do mesmo ano, o arquiteto foi internado no hospital Cardiotrauma de Ipanema, também na Zona Sul, queixando-se de dores lombares. Ele passou por uma bateria de exames e recebeu alta médica algumas horas depois. Na ocasião, exames de sangue e uma tomografia indicaram que Niemeyer estava apenas com uma lombalgia.
Em 2006, o arquiteto chegou a ficar 11 dias internado, após sofrer uma queda e passar por uma cirurgia.
Filha do arquiteto morreu em junho
A designer Anna Maria Niemeyer, única filha de Oscar Niemeyer, morreu aos 82 anos, em consequência de um enfisema pulmonar, em 6 de junho.
Segundo o administrador Carlos Oscar Niemeyer, filho de Anna, o avô esteve pela última vez com sua mãe, três dias antes, durante uma visita ao Hospital Samaritano, onde Anna Maria ficou mais de 40 dias internada.
Ainda de acordo com Carlos Oscar, durante o tratamento, Anna chegou a receber alta, mas voltou a ser internada no dia 1º de junho. Ela teve cinco filhos,13 netos e quatro bisnetos.
Carlos Oscar contou que sua mãe e o avô eram muito próximos e costumavam se falar todos os dias. Ele disse que Niemeyer ficou muito abalado ao receber a notícia da morte da única filha.
"O pai receber a notícia da morte de um filho é uma coisa extremamente difícil, imagina para um pai de 104 anos, a situação é ainda mais complicada", comentou Carlos, durante o sepultamento de Anna Maria Niemeyer.
Oscar Niemeyer manifestou vontade de ir ao enterro da filha no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Mas, de acordo com os parentes, ele não compareceu após os médicos avaliarem que as condições de saúde do arquiteto não eram favoráveis.
Vida e Obra - Filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida, Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho nasceu em 15 de dezembro de 1907 no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Após uma juventude boêmia, Niemeyer concluiu o ensino secundário apenas aos 21 anos, mesma idade com que se casou com Annita Baldo, filha de imigrantes italianos, na época com 18 anos. Com Annita, o arquiteto teve sua única filha, a galerista Anna Maria Niemeyer - falecida em maio de 2012, aos 82 anos.
Após a morte de Annita, em 2004, Niemeyer partiu para um segundo casamento dois anos depois, com a sua secretária, Vera Lúcia Cabreira. Uma das personalidades mais longevas do País, o arquiteto deixou cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos.
Início da carreira
A vida profissional de Niemeyer teve início um ano depois do casamento com Annita Baldo. Em 1929, ele começou a trabalhar na tipografia de seu pai e decidiu retomar os estudos, ingressando na Escola Nacional de Belas Artes, de onde saiu formado como arquiteto e engenheiro em 1934.
Após a formatura, mesmo passando por dificuldades financeiras, Niemeyer decidiu trabalhar sem remuneração no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, em 1935. Não lhe agradava a arquitetura comercial vigente e viu no escritório uma oportunidade para aprender e praticar uma nova arquitetura. "Não queria, como a maioria dos meus colegas, me adaptar a essa arquitetura comercial que vemos aí. E apesar das minhas dificuldades financeiras, preferi trabalhar, gratuitamente, no escritório do Lúcio Costa e Carlos Leão, onde esperava encontrar as respostas para minhas dúvidas de estudante de arquitetura. Era um favor que eles me faziam", disse o arquiteto em uma oportunidade.
O primeiro projeto individual de Oscar Niemeyer a ser construído foi a Obra do Berço, em 1937, no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro. Dois anos depois, o arquiteto viaja com Lúcio Costa para projetar o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova York, nos Estados Unidos.
JK e Brasília
Em 1940, Niemeyer conheceu Juscelino Kubitschek, à época prefeito de Belo Horizonte (MG), que tinha interesse em desenvolver uma área da Pampulha, na região norte da cidade. O político encomendou ao arquiteto a construção do Conjunto Arquitetônico da Pampulha.
Finalizados em 1943, os prédios dividiram a opinião da população local, sendo alvo de críticas principalmente do Vaticano, que se negou a benzer a Igreja São Francisco de Assis. As polêmicas envolvendo a igreja se deviam principalmente à sua aparência inusitada e ao mural pintado pelo artista Cândido Portinari, que possuía traços abstratos onde era possível reconhecer um cão ao lado de São Francisco.
Após a eleição de JK à Presidência da República, Niemeyer é convidado a projetar Brasília, a nova capital federal. Em 1957, o arquiteto abre um concurso público para o plano piloto da cidade. O projeto vencedor é o apresentado por Lúcio Costa. Niemeyer seria responsável pelos projetos dos edifícios, enquanto seu amigo e ex-patrão desenvolveria o projeto urbanístico da cidade. Inaugurada em 1960, Brasília representou o maior desafio da carreira de Niemeyer e é lembrada, até hoje, como seu grande legado arquitetônico.
Comunismo e repressão
Ao longo de sua vida, Niemeyer sempre foi um grande defensor dos ideais da revolução soviética. Em 1945, conheceu Luís Carlos Prestes e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). O arquiteto chegou a emprestar a Prestes seu escritório para ser utilizado como comitê do partido.
Niemeyer fez diversas visitas à União Soviética e a Cuba, e foi amigo pessoal de muitos ícones socialistas, entre eles o líder da revolução cubana, Fidel Castro. "Niemeyer e eu somos os últimos comunistas deste planeta", teria dito Fidel.
Em 1964, durante viagem a trabalho a Israel, Niemeyer foi surpreendido pela notícia do golpe militar no Brasil. No mesmo ano, o arquiteto retornou ao País e foi chamado pelo Departamento de Ordem Política e Social (Dops) para depor. A revista Módulo, dirigida por Niemeyer, teve a sede parcialmente destruída em 1965. Seus projetos começaram a ser recusados e seus clientes desapareceram.
Impedido de trabalhar no Brasil, Niemeyer decide exilar-se voluntariamente em Paris, na França. Ele abre um escritório na famosa avenida Champs-Élysées.
Reconhecimento internacional
O nome de Niemeyer já circulava internacionalmente em 1946, quando foi convidado a lecionar na Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Entretanto, é impedido de atender ao convite por ter o visto negado devido a sua posição política.
No ano seguinte, porém, Niemeyer foi indicado para fazer parte da equipe de arquitetos mundiais que viria a desenvolver a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. O projeto do brasileiro foi elaborado em conjunto com o arquiteto francês Le Corbusier.
Em 1950, o primeiro livro sobre seu trabalho (The Work of Oscar Niemeyer, de Stamo Papadaki) foi publicado nos Estados Unidos. Em 1951, Niemeyer criou o Conjunto do Ibirapuera (um parque com pavilhões de exposições em homenagem ao aniversário de 400 anos da cidade) e o edifício Copan, em São Paulo. O prédio, que fica em um dos pontos mais movimentados do centro da capital paulista, se tornou um dos símbolos da cidade.
Durante o período em que morou na França, Niemeyer passou a atender clientes de todo o mundo. Na Itália, ele projeta a sede da Editora Mondadori e, na Argélia, a Universidade de Constantine.
Seu trabalho é reconhecido internacionalmente, e ganha admiradores em todas as áreas, como o sociólogo italiano Domenico de Masi, os escritores José Saramago e Eduardo Galeano, o historiador britânico Eric Hobsbawm, o ex-presidente português Mário Soares, o cineasta Nelson Pereira dos Santos e o cantor Chico Buarque.
Volta ao Brasil
Na década de 1980, Oscar Niemeyer volta ao Brasil. Nesta época, ele projeta o Memorial Juscelino Kubitschek, o prédio-sede da Rede Manchete de Televisão, o sambódromo do Rio de Janeiro, o Panteão da Pátria de Brasília e o Memorial da América Latina, em São Paulo.
Em 1987, ele recebe nos Estados Unidos o Pritzker de Arquitetura, considerado o prêmio mais importante do mundo na categoria. Três anos depois, junto ao amigo Lúcio Costa, Niemeyer desliga-se do Partido Comunista Brasileiro.
Aos 84 anos, em 1991, Oscar Niemeyer projeta o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC). Os traços modernos do museu fazem a construção se assemelhar a um disco voador. Projetado sobre uma pedra, a construção oferece visão para a Baía de Guanabara e o Rio de Janeiro.
Em 2002, é inaugurado em Curitiba o Museu Oscar Niemeyer, conhecido como Museu do Olho, devido ao design de seu edifício. Quatro anos depois, é inaugurado o Museu Nacional Honestino Guimarães, de autoria de Niemeyer, localizado na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Em dezembro de 2011, por ocasião de seu 104º aniversário, Niemeyer apresentou os projetos que desenhou para a sede da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), a ser construída em Foz do Iguaçu (PR), junto à usina hidrelétrica de Itaipu. A obra inclui seis edifícios destinados à reitoria, biblioteca, anfiteatro, restaurante, laboratórios e salas de aula. A universidade terá capacidade para 10 mil estudantes (metade brasileiros e metade de outros países latino-americanos), e oferecerá cursos nas áreas de ciências humanas, tanto em espanhol como em português.
Dona Lindu - O Parque Dona Lindu é um parque da cidade de Recife, Pernambuco. Situa-se num terreno cedido pelo Governo Federal à prefeitura do Recife na praia de Boa Viagem, na região de Setúbal, localizado entre as avenidas Boa Viagem e Visconde de Jequitinhonha. O local antes pertencera à Aeronáutica.
Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer[1], o Parque Dona Lindu recebeu investimentos na ordem de R$ 30 milhões e fora construído numa área de 27.166,68 m², à beira-mar da praia de Boa Viagem, com 60% destinados à área verde.
O projeto de Niemeyer inclui ciclovia, pistas para cooper e skate, quadra poliesportiva, playground, áreas para descanso e ginástica. Conta também com teatro, pavilhão para exposições, restaurante, sanitários, fraldário e central técnica.

Notas oficiais - A presidenta da República, Dilma Rousseff, ao lamentar a morte do arquiteto Oscar Niemeyer, diz, em nota, que “o Brasil perdeu hoje um dos seus gênios. É dia de chorar sua morte. É dia de saudar sua vida”.
De acordo com a presidenta, a história de Niemeyer “não cabe nas pranchetas”. O arquiteto “foi um revolucionário, o mentor de uma nova arquitetura, bonita, lógica e, como ele mesmo definia, inventiva”. Dilma destacou ainda que “poucos sonharam tão intensamente e fizeram tantas coisas acontecer como ele”.
Ainda segundo a presidenta, “da sinuosidade da curva, Niemeyer desenhou casas, palácios e cidades. Das injustiças do mundo, ele sonhou uma sociedade igualitária”.
Carioca, Niemeyer foi, com Lúcio Costa, o autor intelectual de Brasília, a capital que mudou o eixo do Brasil para o interior. Nacionalista, tornou-se o mais cosmopolita dos brasileiros, com projetos presentes por todo o país, nos Estados Unidos, França, Alemanha, Argélia, Itália e Israel, entre outros países. Autodeclarado pessimista, era um símbolo da esperança”, diz a nota assinada pela presidenta da República.
Já o governador Eduardo Campos também lamentou a morte do arquiteto por meio de nota oficial: "Ele foi um dos grandes gênios criadores que o Brasil legou ao mundo. Sua obra dá testemunho inequívoco da criatividade, elegância e força do povo brasileiro. Niemeyer viveu uma vida muito intensa, caracterizada, inclusive, por uma militância política muito comprometida”.
Com informações dos Portais G1 e Terra, Agência Brasil, Wikipedia e Secretaria de Imprensa de Pernambuco