A emissora Rede Globo enviou comunicado à Secretaria de Cultura para avisar do cancelamento da exibição do último capítulo da novela Avenida Brasil no Cine São Luiz. A transmissão havia despertado polêmica nas redes sociais. Internautas questionaram quais foram os critérios adotados pelo governo de Pernambuco, responsável pelo cinema, para autorizar a exibição, que seria fechada para convidados. No Facebook, pelo menos dois protestos haviam sido marcados, com a presença confirmada de mais de 100 pessoas, a partir das 19h, em frente ao São Luiz, no Centro do Recife. A emissora teria procurado outro estabelecimento para realizar o evento.
"Globo, aluga um plex pro seu evento, que tá de boa. Vai lotar dez salas. Mas evita criar caso com a sociedade civil fazendo um demonstração tão clara de que o seu poderio econômico está se lixando e não vai deixar pagar para usar um bem público que não pode ser locado", escreveu a internauta Andrea Gorenstein no Facebook. "Acho meio problemático o viés elitista dessa divisão entre alta cultura (o sagrado e seu templo) e cultura de massa, de se determinar os locais permitidos a uma e a outra", ponderou, também no Face, Chico Alencar.
O barulho do questionamento nas redes sociais bateu nos ouvidos de quem administra a sala. O assessor do gabinete da Secretaria de Cultura de Pernambuco, André Araripe, conversou com o Diario e explicou por que o espaço havia aberto as portas para receber o desfecho do drama protagonizado por Nina, Tufão e companhia. A decisão teria sido cortesia e, ao mesmo tempo, estratégia para aproximar o cinema histórico da capital pernambucana - com 60 anos de vida recém-completados - de uma empresa ligada à distribuição de filmes, a Rede Globo.
A vênus platinada teria procurado a secretaria, conta André, depois de esgotar a possibilidade de transmitir o capítulo derradeiro em outro espaço para 250 pessoas, entre colaboradores e anunciantes. A exibição teria sido condicionada a três fatores: a produção ser ligada à área do audiovisual, a cessão do cinema fomentar uma parceria com uma empresa íntima da distribuição cinematográfica e a programação do estabelecimento permanecer inalterada no horário de veiculação. “Não houve qualquer comprometimento da programação. As obras de restauração acontecem pela manhã e à tarde. Quem vai é formador de opinião, vai poder apreciar as novas instalações, conhecer o cinema”, defende André.
O asssessor reconhece a raridade do pedido feito à secretaria. Mas cita uma parceria recente para legitimar a parceria. “Fizemos a estreia do filme de Gonzaga (Gonzaga - de pai para filho), que é de uma produtora fechada, sem problemas”. A cessão abre uma janela para parcerias com outras emissoras - se forem respeitados os mesmo critérios, observa o assessor. “Se não prejudicar a programação em andamento, se for ligado ao audiovisual e se puder fortalecer parcerias, não há problema. A Globo já faz isso no eixo Rio-São Paulo e quer dar prosseguimento aqui no Nordeste”, explica. O estado não receberia contrapartidas financeiras para transmissão do capítulo de Avenida Brasil.
Diario de Pernambuco