quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Lua Cheia - Capítulo 5


De volta ao posto de saúde, Osíris viu mais dois corpos deixarem o local. Embora aquilo já fosse rotineiro, chocava sempre. E dessa vez, eram crianças. A mãe já não tinha nem mais forças pra chorar. Os pequenos já tinham sido atendidos por Ísis, que nada pôde fazer e também já havia chorado muito. Nisso, um carro de som anunciando a vacinação passava pelo local. Populares não tiveram dúvida: apedrejaram o automóvel enquanto o motorista saiu correndo:

- Essa vacina tá sendo a desgraça do povo!
- Remédio que traz a morte, em vez da cura, onde já se viu???

Nisso dois homens, um negro e um cigano chegaram ao posto atrás de Osíris. Eram os líderes comunitários Njama e Ernesto, ao lado de Tiago. Eles estavam decididos a formar um grupo de mobilização contra a elite local, até como uma forma de salvar a comunidade do genocídio.

- Doutor Osíris, a gente tá sabendo que o senhor denunciou esse veneno que chamam de vacina. Junte-se a nós, pra salvarmos o povo. - Disse Ernesto.

- Quem é a senhora? Nova médica no posto? - Perguntou Njama.

- Ela se chama Ísis, é brasileira e se sensibilizou com a nossa situação e tá me ajudando aqui no posto. - respondeu Osíris.

- Doutora Ísis, seja bem vinda. A senhora é muito corajosa em vir para Santa María.

Na mesma noite, um grupo de revolucionários se reunia nos fundos da igreja local. Estavam traçando estratégias para enfrentar os poderosos e no meio deles estavam Ísis e Osíris, decididos a agir para mudar a realidade local.

De volta para casa, não conseguiam trocar uma palavra. Só conseguiam se olhar e se tocar. Ísis não segurou as lágrimas que caíam de seus olhos e Osíris a abraçou:

- Se você quiser voltar a seu país...
- Não! Preciso ajudar a salvar vidas, foi pra isso que fiz o juramento quando me formei.
- Te amo, Ísis...
- Também te amo...

E novamente se amaram, convictos de que estavam no caminho certo.