terça-feira, 27 de setembro de 2011

Gaymado: Lazer e Cidadania

Quem já participou de um jogo de queimado, sabe o quanto a partida é emocionante. Ruas, quadras de colégios, playgrounds, quintais, qualquer lugar é perfeito pra uma partida. As regras são simples, um time deve atingir o outro com boladas, “matando” o jogador, que vai para uma outra área e trocando as bolas com os jogadores “vivos”. Ganha o time que “matar” primeiro todos os adversários. Simples assim.

“Matando” adversários nas quadras e eliminando preconceitos na vida. Esse é o objetivo do Grupo Gaymado, criado em fevereiro de 2005 e formado por jovens e adolescentes do segmento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros). Eles se reúnem terças e quintas à noite na quadra da Praça da Várzea e através dos jogos, incluem jovens que, vítimas de preconceito pela sexualidade, muitas vezes são discriminados.

Homofobia – Em julho daquele ano, sete integrantes do Gaymado foram agredidos por outros jovens que se intitulavam “skinheads” e o grupo LGBT reagiu com uma mobilização pública, atraindo a imprensa, a comunidade e o poder público. Liderada por Adrian Passos, militante LGBT, a turma do Gaymado não se junta apenas pelo lazer. Eles também promovem palestras de cidadania e orientação contra Aids e outras DSTs. Veja a entrevista que Adrian concedeu ao blog:

Quanto tempo já acontecem as partidas?

As partidas acontecem já há seis anos.

Quando e como surgiu o Gaymado?

Eu Adriann Passos era integrante do grupo atuação, um grupo de homens jovens que atuava dentro do Instituto PAPAI é uma ONG que atua com base em princípios feministas e defende a idéia de que uma sociedade justa é aquela em que homens e mulheres têm os mesmos direitos, Assim sendo, consideramos fundamental o envolvimento dos homens nas questões relativas à sexualidade e à reprodução.

Eu atuava em uma instituição que não tinha as respostas que eu buscava para meu entendimento no momento, muitas duvidas perturbavam minha mente a respeito do que eu era! Mas mesmo assim passei 3 a 4 anos no grupo atuação tentando buscar as respostas e a coragem para lutas pelos meus direitos e abusos sexuais que sofria na época por não saber lidar com a minha sexualidade e minha orientação do desejo por homens.

Com o passar dos tempos eu fui me fortalecendo dos conhecimentos que fui adquirindo com o passar dos anos encontrei forças ajudar outros jovens e adolescentes a se fortalecerem e a lutarem por seus direitos de serem felizes.

Como não sabia por onde começar, tive a idéia de atrair os jovens e adolescentes LGBTs através da pratica esportiva, como sofri muito preconceito na escola por não ser iguais aos outros colegas de escola e por eles nunca me deixarem jogar bola, e nem vôlei, só me restava jogar com as meninas queimado, então surgiu a idéia de começar com a pratica esportiva de queimado, assim pude chamar a atenção dos/as jovens e adolescentes GLBTs a participarem uma atividade esportiva e sempre no final das partidas trocávamos idéias a respeito da sexualidade e da orientação do desejo com os integrantes daí surgiu o que hoje chamamos de Grupo Gaymado.

Vocês têm como objetivo ajudar adolescentes que estão se descobrindo gays. E quanto às crianças e adolescentes que não são gays, eles podem participar, pelo lazer?

Também! Claro que no inicio era ajudá-los a se fortalecerem para não sofrerem tanto o quando eu sofri na minha adolescência e juventude os abusos sexuais e a falta de apoio de meus pais e amigos. Mas com o passar do tempo vimos que estamos em todas as partes e lugares, o grupo percebeu que a luta por direitos a LGBTs eram muito mais, que era uma questão de direitos humanos e garantia de cidadania. Hoje temos jovens e adolescentes de todas orientações sexuais, raças, crenças e gêneros.E por esses motivos que abraçamos todos os participantes, seja no jogo ou no grupo, a pratica esportiva e um direitos de todos/as.


Existe participação de meninas (lésbicas ou não) nos jogos?

Sim! Poucas mais temos sim e garotas heterossexuais, bissexuais e ate lésbicas, poucas, mas temos sim.

Quantos integrantes tem o Gaymado?

no efetivo do grupo temos 13 pessoas atuando em atividades e redes e 15 ou mais em algumas atividades.

De que forma a comunidade está aceitando/convivendo com a iniciativa?

Graças a Deus nunca tive problemas com a comunidade não, não sei se por morar há tantos anos no bairro e todos me conhecerem ou se e pela forma que eu vejo a vida, as pessoas e o mundo, que acaba facilitando essa aceitação.

Claro que no inicio do grupo alguns integrantes do Grupo sofreram Homofobia de alguns jovens homofobicos que na época se denominava como Skinhead, que violentou e espancou sete de nossos jovens e adolescentes do grupo, e deixou um certo medo no bairro, mais o grupo não se abateu com as ameaças, fomos as autoridades e a impressa realizar uma caminhada no bairro para coibir e fortalecer o grupo e tivemos apoio de varias ONGs , Secretaria de Direitos Humanos e Segurança Cidadã da Prefeitura do Recife, da Gerencia da Livre Orientação Sexual – GLOS e da própria comunidade que apoiou o grupo Gaymado.

Existe a possibilidade de se criar uma ONG com essa iniciativa do Gaymado?

Sim! Estamos legalizando o grupo como uma instituição de apoio e defesa dos direitos humanos de GLBTs.

Vocês têm ajuda do poder público ou da iniciativa privada?

Não! Somos todos voluntários/as pela igualdade e a garantia de direitos humanos a todos e todas.

Qual a reação das famílias dos jovens?

Hoje de entendimento e respeito, claro que nem uma família gostaria de ter filhos/as GLBTs, muitas vezes por medo de seus filhos/as sofrerem o preconceito e ate pela própria formação educacional que eles tiveram, mais que hoje com os meios de comunicação e mídias vem trabalhando a temática GLBTs de uma forma mais aberta e respeitosa, a aceitação esta ficando cada vez mais explicitas.

Além dos jogos, que outras iniciativas o Gaymado faz com os adolescentes (palestras, por exemplo)?

Além do fortalecimento desses/as jovens e adolescentes, estamos levando o conhecimento do respeito a diversidade e as orientações sexuais, ações de cidadania, prevenção de drogas e as DST/AIDS, e a promoção dos direitos humanos como direito de todos/as.

Quais os dias e horários dos jogos?

Terças e quintas. Sempre a partir das 20hs.