📝 A história de Laura Ancina, recém-formada em Relações Públicas pela UFRGS, começa muito antes de seu TCC viralizar nas redes sociais. Desde o início da graduação, ela sabia que sua trajetória profissional passaria pela arte e pelo entretenimento. “Sempre fui muito apaixonada por culturas e por pessoas, isso faz parte da minha essência”, conta. Com essa clareza, decidiu que seu trabalho final seria um mergulho profundo na cultura brasileira. O que ela não imaginava era que essa escolha a levaria a um encontro emocionante com João Gomes e a uma repercussão que ultrapassaria fronteiras.
🌵 A decisão de estudar o piseiro e, especialmente, João Gomes, surgiu quando ela percebeu a ascensão do gênero no país. Acompanhando a indústria fonográfica, Laura notou que o Sul recebia esse movimento com atraso. “Aqui no Sul as coisas chegam com mais dificuldade, por toda a questão de preconceito e de não sermos tão receptivos a outras culturas”, explica. Para ela, isso tornava o fenômeno ainda mais interessante de analisar. João Gomes, então em ascensão, parecia o exemplo perfeito. “Eu tinha certeza que o João teria muito sucesso na carreira dele”, afirma.
📊 A pesquisa, porém, trouxe desafios inesperados. Ao aplicar o formulário, ela percebeu que muitas pessoas no Rio Grande do Sul sequer conheciam o cantor. A amostragem foi baixa, e a falta de referências acadêmicas exigiu ousadia. “Eu aceitei o desafio de ser pioneira nesse trabalho para ajudar futuros acadêmicos”, diz. Mesmo com obstáculos, ela seguiu firme, consciente de que estava abrindo caminho para estudos sobre culturas pouco exploradas. Seu objetivo era unir comunicação, mercado e música de forma inovadora — e conseguiu.
💛 O processo de escrita, ao contrário do que muitos estudantes relatam, foi leve e terapêutico para Laura. Em meio a um momento pessoal delicado, o TCC se tornou refúgio. “Foi um processo muito saudável para minha saúde mental. Eu passava madrugadas escrevendo com muito carinho”, relembra. Ela mergulhou em gêneros musicais diversos, buscou referências fora da bolha sulista e construiu uma análise que unificava arte, cultura e indústria. Cada capítulo era escrito com responsabilidade e afeto, especialmente por tratar de uma cultura que não era a sua.
🎶 Desde o início, Laura sonhava em entregar o trabalho ao próprio João Gomes, mas não imaginava como isso aconteceria. Tentou contato por e-mail, sem retorno. Até que o destino interveio: o cantor faria duas apresentações em Porto Alegre. “Pensei: por que não encadernar o TCC e tentar entregar para alguém da produção?”, conta. Sem expectativas, levou o trabalho ao show. O que aconteceu superou qualquer plano: ela entregou o TCC diretamente nas mãos do artista, em um momento espontâneo filmado por dezenas de celulares.
📱 O vídeo viralizou, virou Reels no Instagram de João Gomes e transformou a vida de Laura em poucas horas. Para ela, ver o cantor valorizando seu trabalho foi a confirmação de que todo o esforço havia valido a pena. “Quando eu vi que ele postou, pensei: ele realmente valorizou o que eu fiz”, diz emocionada. A repercussão nacional trouxe visibilidade ao tema, abriu portas para discussões sobre cultura nordestina e validou sua coragem de insistir em um tema inicialmente criticado. “Esse trabalho já tinha dado certo lá atrás, mas no dia 18 de dezembro eu senti que realmente deu certo”, afirma.
🌟 Hoje, Laura enxerga sua trajetória como um convite para que mais estudantes explorem temas pouco abordados e culturas que merecem espaço na academia. A repercussão ampliou o alcance de seu trabalho e reforçou a importância de olhar além das referências tradicionais. “Que mais Lauras tenham interesse em abordar culturas pouco exploradas”, deseja. Sua história é um lembrete de que quando a intuição encontra coragem, a academia se transforma — e a cultura agradece.
Que tal acompanhar a entrevista que fizemos com a Laura Ancina?
1. O que levou você a escolher o piseiro nordestino como tema central do seu TCC?
Sempre fui apaixonada por culturas e por pessoas, isso faz parte da minha essência. Quando entrei em Relações Públicas, já sabia que meu TCC seria sobre arte, cultura e entretenimento. Em 2020, acompanhando a indústria fonográfica, percebi a ascensão do piseiro em nível nacional. Aqui no Sul, tudo chega com mais dificuldade por questões de preconceito e pouca receptividade a outras culturas, então achei importante trazer esse tema para a academia. Eu tinha certeza de que o João Gomes teria muito sucesso e queria registrar esse movimento antes de ele estourar mundialmente.
2. Em que momento você percebeu que o João Gomes seria o artista ideal para representar esse movimento na sua pesquisa?
Quando comecei a acompanhar a trajetória dele e percebi o potencial gigantesco que ele tinha. Mesmo que muitas pessoas aqui no Sul ainda não o conhecessem, eu sabia que ele se tornaria um nome de grande impacto. Quis aproveitar esse timing e ser pioneira no tema, criando uma base para futuros pesquisadores.
3. Como foi o processo de estudar um gênero tão forte no Nordeste estando no Rio Grande do Sul?
Foi um processo muito saudável e especial. Enquanto muitas pessoas têm uma relação conturbada com o TCC, o meu foi o oposto. Eu estava vivendo um momento pessoal delicado, e a escrita virou um refúgio e um investimento em algo totalmente meu. Passei meses mergulhada no projeto, com muito carinho, sabendo que ele poderia impactar tanto a indústria quanto a academia.
4. O que mais te surpreendeu durante a pesquisa sobre a expansão do piseiro pelo Brasil?
Eu estudei muitos gêneros musicais e trouxe referências fora da bolha Sul–Nordeste, tentando unificar a arte como um todo. O termo “surpreender” nem é o mais adequado, porque eu já sabia que o piseiro teria uma ascensão merecida. Mas o que mais me marcou foi ver a visibilidade mundial que o gênero alcançou, confirmando todas as minhas análises e escolhas teóricas.
5. Como surgiu a ideia de entregar o TCC pessoalmente ao João Gomes?
Desde o início eu queria que o trabalho chegasse até ele. Logo após apresentar o TCC, enviei para um e-mail de produção, mas não tive retorno. Quando soube que ele faria dois shows em Porto Alegre, pensei em tentar entregar pessoalmente. Não consegui comprar ingresso, mas acabei indo ao primeiro show por convite de um amigo. Como trabalho com produção há anos, sabia que seria difícil, mas encadernei o TCC e levei sem expectativas — apenas com a intenção de entregar ao verdadeiro dono do trabalho.
6. O que você sentiu no momento em que ele recebeu o trabalho e reagiu publicamente?
Foi tudo muito natural e inesperado. Eu não imaginava que tantas pessoas estariam gravando, nem que viraria um reels no Instagram dele. Só de entregar em mãos eu já estava feliz. Quando vi que ele postou, entendi que ele realmente valorizou o que eu fiz. Fiquei emocionada porque tive muito cuidado e respeito ao falar de uma cultura que não é a minha. Tudo fluiu de forma muito mais positiva do que eu poderia imaginar.
7. Depois de toda a repercussão, como você enxerga o impacto desse TCC na sua trajetória acadêmica e profissional?
Vejo como uma confirmação de que a gente não deve desistir de ideias que vêm do coração e que fazem sentido profissionalmente. O trabalho foi criticado no início, mas eu segui firme. A repercussão nacional tirou o TCC da bolha porto-alegrense e fez mais pessoas olharem para o tema e para a profissão. Espero que ele seja o primeiro de muitos e que incentive outras “Lauras” a pesquisarem culturas pouco exploradas na comunicação. Sinto que abre portas e encoraja estudantes e profissionais a mergulharem em temas que ainda não têm tanta literatura, mas que merecem ser estudados.
📸 Fotos: Pietro Pasqualotti